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CULTURA

A amante do diabo

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 22 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura


Lída Baavorá (2017) de Filip Renc, Netflix. Este é um daqueles filmes que todo o anticomunista, qualquer que seja o grau de crença instalado na cavidade craniana, vai adorar. Foi uma atriz checa que ficou conhecida para a posteridade como a amante de Goebbels. Fez carreira no seu país, foi convidada para os estúdios da UFA na Alemanha, trepou para contratos milionários à custa da desvairada paixão que o ministro da propaganda nutria por ela - uma paixão retribuída, de acordo com a sua autobiografia -, regressou ao país de origem compelida por Hitler em nome dos bons princípios das famílias nazis, foi contemporânea do carniceiro de Praga, Heydrich - uma das figuras mais sinistras do III Reich -, fez filmes na Espanha de Franco e na itália de Mussolini e, depois, é que foi o diabo... regressada a casa no pós-guerra deu com a Checoslováquia nas mãos dos comunistas. O filme, cuja destreza narrativa é apreciável, tem duas partes. Na primeira, Lída sobe na vida, apaixona-se por Goebbels, recusa Hollywood e atinge o pináculo da fama. Na segunda, é o downfall. No pós-guerra, acusada de colaboracionismo vai parar à prisão e só se salva in extremis quando já estava na fila do pátio da prisão onde os comunistas se entretinham a enforcar mulheres. Na primeira, os nazis são bastante ruins, mas apesar de tudo, humanos. Na segunda, os comunistas conseguem ser ainda piores do que os nazis, na verdade, nem sequer são bem pessoas. O filme omite qualquer referência a Heydrich, a Espanha e à Itália, porque a ideia é mesmo essa: o nazismo foi mau, mas o comunismo, ainda pior. Tal como Leni Riefenstahl, também Lida Baavorá escreveu uma autobiografia. Afinal, ambas foram vítimas. Só isso. De tão comprometidas estavam com a sua arte que nem se apercebiam do mundo em volta. Aliás, nunca souberam nada de política. Uma, Leni, admite ter feito um pacto com o diabo. Outra, Lida, admite ter sido amante do diabo. Acreditem ou não, mesmo tratando-se de uma fraude, o mundo é visto assim por boa parte das pessoas nos países da Europa Central. E, não haja ilusões, por cá também não faltam os seguidores da mentira, reforce ela as suas crenças.

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Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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