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CULTURA

em viagem, amesterdam na rua nos

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 1 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

René Magritte, Os amantes (1928)

no conforto do discreto átrio art nouveau do hotel rho, na nua nos, circulam silhuetas esquivas por entre arabescos de uma música de espelhos, enquanto eu, sentado, aguardo, meio perdido e meio achado, de copo de vinho na mão, a hora provável de uma estrela pintada na vertigem da noite de amesterdam. stela passa pela luz difusa como um vulto de seda branca parecendo, de tão leve, desafiar a gravidade do meu rosto refém do punhal a prumo que fere a luz precária do tempo. por uma vez, porque assim será, ambos seremos viajantes dos mistérios da rua nos, aí onde se declinam tempos de verbos improváveis em lugares de amáveis sortilégios. stela sai. eu fico. enfim, eu saio. está uma noite fria com uma pálida lua distante na bruma em cujo seio, sei, há passos de anjos embriagados pela memória de uma outra noite quando o meu rosto exultava na vertigem de um outro rosto, aqui, nesta mesma rua nos, era o verão de 1994. passaram quinze anos. caminho agora lado a lado com jovens de mãos dadas onde por certo sobram os dedos. é inverno. revejo no labirinto da memória esse rosto imprevisto e o seu sorriso, os olhos de súbito desmaiados, os lábios entreabertos de palavras indizíveis que ouço, ainda, no silêncio apressado dos meus passos sobre a película de neve fina e branca. viajo de lugar em lugar entre copos de vinho e encontros fortuitos, mais achado que perdido num corpo de lua vaga e gosto de ouvir línguas estranhas nas suas amenas falas e de assim enganar as horas onde se perfilam já os secretos rumores da madrugada. súbito, o rosto esculpido pelos vapores da noite, stela passa, os olhos líquidos em vagaroso desafio e passa tão perto e tão lenta, que sinto os seios duros de mamilos erectos ferindo os meus lábios perdidos no verão de 1994. um raio de sol rompe por uma fresta da janela do meu quarto e queima o último instante do sono como um cometa de cauda incandescente. estou só, achado e não perdido, na minha cama do hotel rho. quando descer ao átrio para o café da manhã encontrarei stela, dir-lhe-ei good morning, e ela nada saberá do que eu dela soube na minha noite imaginada na rua dos sortilégios de nome nos.


Inverno de 2010

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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