Estão aqui reunidos alguns documentos respeitantes não só ao primeiro módulo da Odisseia nas Imagens - O Homem e a Câmara - mas também outros relativos à fase preliminar preparatória da Programação. São exemplos da diversidade de iniciativas de caráter estruturante levadas a cabo em parcerias, designadamente com Universidades e festivais de cinema, bem como da imensa variedade de opções colocada ao dispor do público. Se a excelência da Programação foi sempre reconhecida e, muitas vezes, apontada como exemplar, a parte menos espectacular da Odisseia nas Imagens, em rigor, nunca foi bem entendida e, talvez por isso, não lhe tenha sido dada grande visibilidade mediática. E, contudo, dela dependia a concretização da ideia de lançar as bases para fazer do Porto uma Cidade de Imagens. Os documentos que se seguem são uma pequena parte dos muitos anexos deste módulo O Homem e a Câmara. Deles constam, também, listagens completas de filmes exibidos e dos participantes convidados.
Pós-Graduação em Documentário e Curtas - Metragens de Ficção
Ano Lectivo de 2000 / 2001
Universidade Católica Portuguesa do Porto
Constante do Protocolo assinado entre a Sociedade Porto 2001 e a Universidade Católica Portuguesa do Porto
Este foi o primeiro protocolo assinado pela Sociedade Porto 2001 com um estabelecimento de ensino superior no âmbito da Odisseia nas Imagens. A prioridade dada à Universidade Católica ficou a dever-se, por um lado, às suas disponibilidades de apoio logístico a iniciativas de formação e, por outro lado, à capacidade de iniciativa e de concretização de projectos dos seus elementos responsáveis. O protocolo previa, nomeadamente, a Criação de um Curso de pós-graduação em Realização Televisiva com especialização em Documentários e Curtas Metragens de Ficção. No âmbito desse curso comprometeu-se a Universidade Católica a produzir 10 documentários e 10 curtas metragens de ficção, bem como a integrar a programação da Odisseia nas Imagens no plano curricular do curso de Imagem e Som.
Plano Curricular da pós-graduação em Realização Televisiva:
1º Semestre
Escrita de Argumento I
História do Documentário e Curtas Metragens I
Cinematografia Videográfica
Seminários
2º Semestre
História do Documentário e Curtas Metragens II
Escrita de Argumento II
Pós-Produção de Vídeo
Produção de TV I
Seminários "Cinema e Arquitectura"
Seminários
3º Semestre
Produção de Televisão II
(projecto audiovisual final)
História do Documentário e Curtas Metragens III
Gestão de Projectos Audiovisuais
Docentes convidados:
Luís Proença
Marilyn Beker
José Alexandre Marques
Hugo Santander
Joseph C. Keller
Mário Coutinho dos Santos
Chris Wolf
Don Zirpola
Frank Mosvold
Mladen Milicevic
Fernando Salsinha
Luís Campos Ferreira
Maria João Arriscado
Francisco Nicholson
Programa 15x15: O Património Cinematográfico Europeu
De 16 a 23 de Março de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Conferências na Universidade do Porto
Constante do Protocolo assinado com o Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde
O programa “15 X 15: o património cinematográfico europeu” foi uma iniciativa da Coordenação Europeia de Festivais de Cinema (CEFC), um organismo europeu que agrupa mais de 160 festivais de cinema dos 15 países da União Europeia. Apresentado no Porto por iniciativa do Festival de Vila do Conde, que foi o responsável pela organização no que respeita à parte portuguesa, o programa contou com as escolhas de 15 cineastas dos 15 países da UE. Cada um foi convidado a seleccionar um filme considerado importante da respectiva cinematografia nacional, mas que não fosse muito conhecido do público ou, pelo menos, tão conhecido quanto a sua qualidade cinematográfica justificaria. Em Portugal, o FICM convidou Manoel de Oliveira, que por sua vez escolheu o filme de Paulo Rocha Verdes Anos, o qual abriu o ciclo. A CEFC suportou os custos dos direitos de exibição nos 15 países da EU, bem como de duas cópias novas de cada filme e fez questão de todas as apresentações ficarem ligadas a encontros nos quais fosse debatido o acesso ao património cinematográfico europeu, relevando o papel dos Festivais de Cinema na sua visibilidade e divulgação. Sendo estes, também, objectivos da Odisseia nas Imagens, entendeu-se integrar o programa “15 X 15” de modo, nomeadamente, a proporcionar a um público universitário um contacto mais próximo com o cinema europeu.
Filmes apresentados:
O Homem da Cabeça Raspada, de Andre Delvaux
Det gode og det onde, de Jorgen Leth
Der Verlorene, de Peter Lorre
The Ogre of Athens, de Nikos Koundouros
Plácido, de Luis Garcia Berlanga
La dame d’onze heures, de Jean Devaivre
Angel, de Neil Jordan
Le legioni di Cleopatra, de Vittorio Cottafavi
Troublemaker, de Andy Bausch
Rooksporen, de Frans van de Staak
Himmell oder Holle, de Wolfgang Murnberger
Os Verdes Anos, de Paulo Rocha
Eight Deadly Shots, de Mikko Niskanen
Bara en mor, de Alf Sjoberg
A Matter of Life and Death, de Michael Powell e Emeric Press-burger
Participantes:
André Delvaux (Realizador)
Antoine Bonfanti (Engenheiro de Som)
Paulo Rocha (Realizador)
Frans van de Staak (Realizador)
Ulrike Ottinger (Realizador)
José Manuel Costa (Cinemateca Portuguesa)
Heather Stewart (British Film Institute)
François Ballay (Representante da Coordenação de Festivais de Cinema)
O Olhar de Ulisses - O Homem e a Câmara
De 2 a 10 de Maio de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório
O texto que se segue dá conta dos primeiros passos da Odisseia nas Imagens e do seu primeiro módulo O Homem e a Câmara tendo sido publicado no catálogo do primeiro episódio do Ciclo O Olhar de Ulisses.
Uma Odisseia nas Imagens
O Olhar de Ulisses
Terás sempre Ítaca no teu espírito,
que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
Cavafy (1911)
A programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura é concebida como um percurso durante o qual o dado a ver exige a participação, promove a descoberta e estimula a aventura. É um desafio centrado na fulcralidade da Imagem enquanto elemento de revelação. Entendida em termos dinâmicos, a Programação é aqui tanto objecto de prazer quanto elemento detonador do saber e do saber fazer. Nela cabe, naturalmente, em primeiro lugar, a cidade de imagens que o Porto sempre foi e, como tal, o olhar retrospectivo que permite reconhecer a sua identidade. Mas essa cidade de imagens, sendo também um lugar de futuro, exige, de igual modo, um olhar prospectivo, ousado e universal. Da síntese desses olhares cruzados resultará um lugar do presente fortemente identitário e convivial, mas também radicalmente interrogativo e inapelavelmente transformador. À cidade caberá sempre decidir, em função do desafio que lhe foi lançado, sobre os contornos e os limites da mudança que lhe é proposta.
Como âncora e assinatura de toda a Programação foi pensado um evento articulado modularmente ao longo de ano e meio, cuja lógica permite, por um lado, reforçar estruturas e iniciativas existentes e, por outro, potenciar e agrupar sinergias dispersas, conferindo-lhes coesão e coerência. Esse evento denomina-se Odisseia nas Imagens e acolhe o Cinema, a Televisão e os Novos Média. Os seus cinco módulos integram as actividades das escolas de Ensino Superior do Porto, e também da Universidade do Minho, cujos cursos de algum modo se relacionem com o universo das imagens e dos sons. No seu conjunto, quando 2001 estiver prestes a cumprir-se, os estudantes destas escolas terão produzido e realizado mais de meia centena de trabalhos repartidos pelo documentário, a curta metragem de ficção, a vídeo arte, a animação e o jornalismo de imagens em movimento.
O Olhar de Ulisses é a parte da Odisseia nas Imagens que se revê em filmes fundamentais da História do Cinema, prestando uma particular atenção a um dos géneros em relação ao qual a Sociedade Porto 2001 fez uma opção estratégica: o documentário. Os outros géneros são as curtas metragens e a animação. Em qualquer dos casos, acreditamos haver condições no Porto e na sua região para o desenvolvimento, a médio prazo, de uma produção de qualidade.
Mas se O Olhar de Ulisses privilegia o documentário, nem por isso prescinde da ficção. Pelo contrário, documentário e ficção surgem aqui articulados em termos de complementaridade proporcionando, a par de uma releitura dos clássicos, a aventura da exploração do modo de significar das imagens. O primeiro módulo da retrospectiva é disso paradigmático. Recolhe a designação O Homem e a Câmara do filme tese de Dziga Vertov com o mesmo nome e pretende reeditar, actualizando, a cine-sensação do mundo enquanto factor de descoberta e elemento de elucidação do real. Esse real, porém, será sempre um real imaginado: só através dos artifícios de uma linguagem ele se revela.
Em O Homem e a Câmara dá-se também conta da gramática emergente das imagens em movimento e da sua relação com o olho, como em O Som e a Fúria, o segundo módulo de O Olhar de Ulisses se dará conta da gramática do som – e do silêncio – e da sua relação com o ouvido. Quer num caso, quer no outro, é dada carta branca a Jean-Michel Arnold, responsável do Centre Nationale de la Recherche Scientifique – Images/Media, de Paris, pela selecção de filmes sobre o olho e o ouvido a apresentar no âmbito das Imagens da Ciência que complementam a retrospectiva. Estamos, enfim, a iniciar uma viagem pelo mundo das imagens com destino previsto: projectar melhor a visibilidade da nossa cidade e da sua região procurando criar condições para produções de qualidade. Mas, não nos apressemos, porque o percurso é aventuroso e só nele reside o sentido da viagem, o sentido do olhar.
Jorge Campos
Dario Oliveira
Homem da Câmara, de Dziga Vertov com música ao vivo de Cinematic Orchestra – Estreia Mundial
(Filme Concerto)
2 de Maio de 2000
Coliseu do Porto
A abertura oficial da Odisseia nas Imagens foi feita com um clássico de Dziga Vertov e teve uma forte influência do jazz presente na música da Cinematic Orchestra. Foi a primeira iniciativa no âmbito da programação com o intuito de revisitar clássicos do cinema através da encomenda de partituras originais a compositores consagrados.
Dziga Vertov, em 1929, escreveu sobre os princípios a seguir na construção de eventuais partituras sonoras para filmes mudos. A propósito do seu O Homem da Câmara de Filmar, um filme inovador e vanguardista, qualquer abordagem musical intentada por músicos desafiados a fazê-la teria necessariamente de ter em conta esses princípios. Sabendo que a tarefa não seria fácil Jason Swinscoe e a sua banda aceitaram o desafio. Em sintonia com as ideias de Vertov sobre as ligações imagem-som, defensora do “assincronismo”, a Cinematic Orchestra elaborou a sua música num contexto de contraponto deixando espaço para que as imagens respirassem, de modo a ampliar a dimensão mais profunda do filme.
Para alguém que considera os computadores e os samplers algo constrangedores, Jason Swinscoe, DJ, produtor e responsável pelas composições da Cinematic Orchestra, continua a gostar do som puro dos instrumentos. Admirador incondicional de Miles Davis, Bernard Herrmann, John Coltrane, Sun Ra e Lalo Schifrin, entre muitos outros, é o responsável pelo álbum de estreia da Cinematic Orchestra Motion em 1999, uma genial banda sonora para um filme que não existe.
Participantes:
Jason Swinscoe (líder / sampler)
Tom Chant (saxofone)
Phil France (baixo)
Thomas Daniel Howard (bateria)
Patrick Carpenter (DJ / electrónicas)
Jonathan Digby (técnico de som)
Denise Bayliss (assistente de produção)
Jeremy Sean Tuson (produção)
O Olhar de Ulisses - O Homem e a Câmara
De 3 a 10 de Maio de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Em colaboração com a Cinemateca Portuguesa
Com o apoio da Embaixada de França e Instituto Francês do Porto
Este episódio de O Olhar de Ulisses deu a ver a primeira fase da história do Cinema Documental, abrindo as portas à memória. A partir daqui, cada um dos módulos teria uma temática decorrente dos diversos períodos de uma história do Documentário entendida num contexto de cruzamento com o Cinema contemporâneo (dos Lumiére, a Pelechian, passando por Vertov, Vigo, Oliveira, Ruttmann, Ivens, Storck, Epstein, Malraux, Rouch, Murnau, Leacock, Brault, Resnais, Kiarostami, Van der Keuken, Flaherty, Grierson, Paul Strand, Cartier-Bresson, Man Ray, Leni Riefensthal, Depardon, Paul Rotha, Basil Wright, Chris Marker, Frank Capra, Robert Altman, Frederick Wiseman e outros mais).
Filmes apresentados por ordem alfabética:
Bab El Hadid, de Youssef Chahine
Berlim, Sinfonia de uma Capital: ver Berlin, Die Sinfonie Einer Grosstadt
Berlin, Die Sinfonie Einer Grosstadt, de Walter Ruttman
Beschreibung Einer Insel, de Rudolph Thome e Cynthia Beatt
Blind Kind, de Johan van der Keuken
Brug, De - Joris Ivens
Caire...Raconté par Chahine, Le, de Youssef Chahine
Cairo... Contado por Chahine, O: ver Caire...Raconté par Chahine, Le
Cameraman, The de Edward Sedgwick e Buster Keaton
Caminho do Sul, A: ver Weg Naar Het Zuiden, De
Cão Andaluz, O: ver Chien Andalou, Un
Carrosse d’Or, Le, de Jean Renoir
Comédia e a Vida, A: ver Carrosse d’Or, Le
Chang, de Meriam C.Cooper e Ernst Schoedesack
Chelovek S Kinoapparatom, de Dziga Vertov
Chien Andalou, Un, de Luis Bunuel
Chuva: ver Regen
Criança Cega, A: ver Blind Kind
Départ de Ciclyste à Rome - Operadores Lumière
Depart du Caire (en Chemin de Fer) - Operadores Lumière
Descrição de uma Ilha: ver Beschreibung Einar Insel
Douro, Faina Fluvial, de Manoel de Oliveira
Citizen Langlois, de Edgardo Cozarensky
Estação do Cairo, A: ver Bab El Adido
Estrela do Mar: ver Etoile de Mer, L'
Etoile de Mer, L' de Man Ray
F for Fake, de Orson Welles
Grass: A Nation Battle for Life de Meriam C.Cooper e Ernst Schoedesack
Herman Slobbe, Blind Kind 2, de Johan van der Keuken
Hippocampe, L’, de Jean Painlevé
Homem da Câmara de Filmar, O: ver Chelovek S Kinoapparatom
Hurdes- Tierra Sin Pan, Las, de Luis Bunuel
Idílio na Praia: ver Idylle à la Plage, Une
Idylle à la Plage, Une , de Henri Storck
Images d’Ostende, de Henri Stock
Jalsaghar, de Satyajit Ray
King Kong, de Meriam C.Cooper e Ernst Schoedesack
Kino Pravda 21, de Dziga Vertov
Louis Lumière-Eric Rohmer
Mannhatta. de Paul Strand
Mer Dare. de Artavazd Pelechian
Mest’ Kinematograficheskogo Operatora, de Wladyslaw Starewicz
Misère au Borinage- Henri Storck e Joris Ivens
Moana, de Robert J.Flaherty
Nada Mais do que as Horas: ver Rien que les Heures
Nanook of The North, de Robert J.Flaherty
Niewe Gronden, de Joris Ivens
Novas terras: ver Niewe Gronden
90º South, de Frank H. Hurley
Olhar de Ulisses, O: ver Vlemma tou Odyssea, To
Peeping Tom, de Michael Powell
Philips Radio, de Joris Ivens
Place de l’Opera-- Operadores Lumière
Place de la Citadelle-- Operadores Lumière
Place du Governement-- Operadores Lumière
Pont de Kasr-el-nil, Le-- Operadores Lumière
Ponte, A: ver Brug, De
Por Primera Vez, de Octávio Cortázar
Propos de Nice, A , de Jean Vigo
Regen - Joris Ivens
Rien que les Heures, de Alberto Cavalcanti
Rue Ataba-el-Khadra- Operadores Lumière
Rue Sayeda-Zeinab - Operadores Lumière
Rue Sharia-el-Nahassine- Operadores Lumière
Rue Tath-el-Rab- Operadores Lumière
Saída do Pessoal Operário da Camisaria Confiança, de Aurélio da Paz dos Reis
Salão de Música: ver Jalsaghar
Sinfonia Industrial: ver Philips Radio
South, de Herbert Pounding
Tabu, W.F. Murnau
Terra Sem Pão: ver Hurdes- Tierra Sin Pan, Las
Vingança do Cameraman, A: ver Mest’ Kinematograficheskogo Operatora
Vítima do Medo: ver Peeping Tom
Vlemma tou Odyssea, To, de Theo Angelopoulos
Weg Naar Het Zuiden, De, de Johan van der Keuken
Participantes por ordem alfabética:
Alberto Seixas Santos (realizador)
Alok Nandi (autor e realizador)
António Rodrigues (programador da Cinemateca Portuguesa)
António Roma Torres (médico psiquiatra, crítico de Cinema)
Fernando Lopes (realizador)
Gerald Collas (produtor de Documentários)
Gerald Leblanc (poeta e crítico de Cinema)
Jean-Louis Comolli (realizador)
Jean-Michel Arnold (director do CNRS Images/media)
João Bénard da Costa (presidente da Cinemateca Portuguesa)
John Boswell (músico)
José Manuel Costa (vice-presidente da Cinemateca Portuguesa)
Manoel de Oliveira (realizador)
Manuel António Pina (poeta, escritor e jornalista)
Olivier Smolders (realizador)
Paulo Rocha (realizador)
Regina Guimarães (realizadora)
Rodrigo Afreixo (jornalista, crítico de Cinema)
Rudolfe Thome (realizador)
Saguenail (realizador)
Serge Meurant (poeta, responsável do Festival de Cinema Documental "Filmer à tout prix")
Sharmila Roy (vocalista e compositora)
Concerto Sharmila Roy
8 de Maio de 2000, (após a projecção do filme “O Salão de Música”, de Satyajit Ray, integrado no Ciclo de Cinema O Olhar de Ulisses – O Homem e a Câmara
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Texto de apresentação publicado no catálogo de O Olhar de Ulisses I – O Homem e a Câmara
O salão, a sala, o palco…
Uma sala de cinema do Porto transforma-se em salão de música. O écran dá lugar ao palco. A cantora Sharmila Roy e o músico John Boswell levam-nos a viajar pelas ragas nas margens do Ganges. Uma luz invulgar nos crescendos da música Indiana, após a projecção do filme de culto O Salão de Música de Satyajit Ray.
Sharmila Roy é vocalista e compositora. Emprestou a sua voz a numerosos filmes (Mahabharata de Peter Brook, O Intermediário de Satyajit Ray…) e já se apresentou em concerto em todos os países europeus, no Japão, nos Estados Unidos… Neste momento prepara e adapta Chandalika, uma peça cantada e dançada.
John Boswell é percussionista, intérprete e pedagogo. Formado em bateria, completou a sua paleta de ritmos após uma estadia na Índia. O trabalho de Boswell, além dos estágios que dirige, oscila entre as músicas contemporâneas, para o teatro ou para a dança, e a música clássica Indiana.
Imagens da Ciência I – Arqueologia e Desvios do Cinema Científico
10 de Maio de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Com o apoio do Instituto Francês do Porto
Com Jean-Michel Arnold em colaboração com o CNRS de Paris
Texto de apresentação publicado no Catálogo de O Olhar de Ulisses – O Homem e a Câmara:
Modo de conhecimento antes de ser um modo de comunicação, o cinema científico precedeu o cinema espectáculo.
Todos os historiadores do cinematógrafo concordaram em colocar na origem da "imagem em movimento" as aventuras de grandes sábios. Exploradores da persistência retiniana, valorosos ópticos, astuciosos químicos e investigadores constituíram esta fabulosa galeria de protótipos chamado o "pré-cinema".
Depois, na própria origem da câmara, 20 anos antes dos irmãos Lumière, novamente cientistas (um astrónomo e um psicólogo) construíram umas máquinas esquisitas para modular, registar, analisar, comparar, guardar memória da passagem do tempo... Os seus movimentos de planetas, voos de aves, galopes de militares e saltos de gatos formam, simultaneamente, os incunábulos do cinema e os da investigação científica em imagens animadas.
Todos os historiadores prestam este tributo à ciência. Depois, apressam-se a elogiar as melhores trucagens de Georges Méliès e o peso ingénuo do filme artístico.
Ora, se virmos bem, os inventores deste instrumento dotaram-no, igualmente, de uma linguagem.
Enquanto que os operadores da Société Lumière - meio jornalistas, meio fotógrafos - descobriam a grande reportagem, os cientistas, ao apoderarem-se do cinema, afirmaram a modernidade deste.
Assim, num período de alguns anos e quando os primeiros realizadores se esforçavam por reproduzir, adaptando-os a esta arte nova, os modos de representação dominantes (como o teatro ou a pintura), os cientistas compõem a gramática cinematográfica: ângulo de filmagem, enquadramento, luz, velocidade, dramaturgia...
O programa proposto tentará, pois, contar por imagens esta maravilhosa aventura: a invenção do cinema (instrumentos e linguagem) pelos cientistas. É formado por partes de documentos raros e preciosos, conservados nos institutos de investigação ou nos arquivos internacionais especializados. Estas obras são, na sua maioria, desconhecidas do grande público e, muitas vezes, até da comunidade científica apesar de, no início do século, terem constituído para esta a fonte de investigação.
Tendo inventado o cinema, os investigadores, com a seriedade e a ingenuidade que os caracteriza, vão estabelecer uma frutuosa cumplicidade com os cineastas.
Nas suas ficções e nos seus documentários, os realizadores servem-se, frequentemente, dos espantosos relatos da História das ciências e das utopias autorizadas pelos progressos da investigação.
Figuras de vitral ou agitadores sociais (com os traços de Emil Jannings, Paul Muni ou de Walter Pidgeon), Louis Pasteur, Robert Koch ou Albert Eisntein mobilizaram os espectadores para o esforço da investigação e incentivaram muitas vocações nos adolescentes atraídos pelas salas escuras.
Homens poderosos, eternos sonhadores, sábios loucos, benfeitores da humanidade ou génios artesanais, os heróis de bata branca permitem todos os sonhos (e alguns temores): viagens inter galácticas, cozinhas automatizadas, elixires da juventude ou expedições ao mundo dos pigmeus...
Por vezes, os grandes cientistas estão mesmo presentes nas filmagens. Georges Wilhelm Pabst convenceu Sigmund Freud a escrever-lhe um guião original. Quando estava a rodar A mulher na Lua, Fritz Lang contrata como conselheiros os melhores peritos em balística. Separar-se-ão mais tarde, um para ir trabalhar nos Estados Unidos na bomba atómica (Ley) e o outro para equipar com as bombas V2 o campo nazi (Oberth), ao mesmo tempo que Hitler manda destruir as cópias do filme...
Paralelamente a esta função de "conselheiros técnicos", os cientistas enriquecem as suas investigações com os instrumentos que eles próprios ajudaram a forjar. Alguns deles, escrevendo a sua ciência por imagens, revelaram-se grandes cineastas: Jean Painlevé, Jean Rouch, Haroun Tazieff... Outros, como Michael Crichton, passam para o outro lado do espelho. O público mantém-se fiel a todos. E o triunfo da ciência - na sua qualidade de obreira da realidade - é hoje total. Criou o espectáculo cinematográfico, pôs a ficção a jogar em seu proveito. Desde que o documentário, a "primeira parte educativa e cultural", perdeu o seu lugar legítimo nas noites familiares no Cinema Paradiso, as imagens da investigação ocuparam a longa metragem. É então que, imperceptivelmente, consciente ou inconscientemente a nível dos produtores e dos realizadores, o "documento científico" se instala nos filmes de grande audiência. Buñuel, Visconti, Spielberg, no seu tempo, já o haviam reivindicado. E hoje, não há campeão de bilheteira que não tenha uma grande sequência reservada à "descoberta da realidade". O Padrinho, A viagem ao fim da noite abrem com uma boa hora de espantosos documentos etnográficos. De onde vem o sucesso do Grand Bleu, da Guerra do fogo, de O Parque Jurássico? Qual foi o grande laboratório que forneceu as imagens do genérico da Ilha do Dr. Moreau? Será por acaso que Indiana Jones é arqueólog
Jean-Michel Arnold
Annick Demeule
Programa
“Arqueologia e Desvios do Cinema Científico” - “Cérebro, partes nobres”
Filmes apresentados:
"Je vous aime", imagens do do fonoscópio de Georges Demeny (1891)
"Idiotas, degenerados e loucos", imagens sequenciais de Albert Londe (1892)
"A neuropata" de Roberto Omegna (1908)
"O reconstrutor de cérebros" de Emil Cohl (1910)
"Pequenas causas, grandes efeitos" de O'Galop (1918)
"Os mistérios da mente (um sonho)" de Georges Wilhelm Pabst, guião de Sigmund Freud (1926)
"O âmago dos seus tormentos" (extracto) de Mary Pattenden (1993)
"Um violino na cabeça" (extracto) de Claude Edelman (1994)
"A era dos neurónios" de Marcel Pouchelet e Jean-François Ternay (1999)
Participantes:
Jean-Michel Arnold
Annick Demeule
Jean-François Sabouret
Berlim, Sinfonia de uma Cidade de Walther Ruttmann com música ao vivo de DJ Spooky & Freight Elevator Quartet
Filme Concerto
10 de Maio de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório
DJ Spooky, representante da tendência “ambient” mais concetualista, omnipresente no panorama dos clubes vanguardistas de Nova Iorque onde a palavra “arte” ainda significa muito, trabalha num registo de colagem de sons que faz pensar nas teorias da montagem das vanguardas do final do período mudo. Para essas vanguardas a música de filmes deveria, de uma forma subtil e recusando a redundância, fazer nascer um novo ritmo a partir da tensão criada entre imagens, sons e silêncio.
É isso o que pretendem DJ Spooky e o Freight Elevator Quartet: uma batalha, um jogo de tensões musicais que eles próprios designam por “assincronia experimental” e que resulta da justaposição de sons à partida não pertencentes à mesma família. Com violoncelos, guitarra e didjerido, aos quais junta a manipulação electrónica, DJ Spooky inaugura um futuro tecnológico utópico, com evidentes referências aos escritos futuristas de Severini e Marinetti.
Tendo origem no departamento de música da Columbia University, os Freight Elevator Quartet ultrapassam todos os conceitos da música electrónica actual, de tal forma que dos breakbeats aos instrumentos acústicos ou digitalizados, os sons soam como algo realmente novo. “Arte do ruído” ou “futurismo na era digital” é o que esta orquestra, que integra o hip-hop e o drum’n’bass de DJ Spooky no seu repertório, executa nesta abordagem de Berlim, Sinfonia de uma Cidade.
No final dos anos 20, evocava-se a cultura urbana, a arquitectura, o indivíduo e a arte. Essa mesma atmosfera é agora revisitada celebrando as possibilidades da cultura digital, do cinema e da electrónica.
Participantes:
Paul Miller a.k.a DJ Spooky – DJ e contrabaixo eléctrico
Roger Luke Dubois – Sintetizadores analógicos
Paul Feuer – Didjeridoo
Rachael Finn – Violoncelo
Gabriel Price - Técnico
Steve Cohen - Manager
Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde/ 2000
De 4 a 9 de Julho de 2000
Auditório Municipal de Vila do Conde
Extensão do FICMVC
“O Nosso Século”
De 10 a 14 de Julho de 2000
Rivoli Teatro Municipal – Pequeno Auditório
Iniciativa no âmbito do protocolo assinado com o Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde
“O Nosso Século”
A passagem de um século é para muitos um tempo propício a revisões, reflexões e conclusões. No entanto, a lógica deste programa foge um pouco a essa tentação de descrever os grandes acontecimentos do Século XX ou de mostrar os “melhores” filmes. Essa interpretação tem vindo a ser feita desde que o cinema fez cem anos. Basta lembrar que “O Nosso Século” é também o século do cinema.
Neste caso, porém, o mote foi dado a alguns cineastas, todos eles com uma obra singular em relação às correntes dominantes do cinema. A resposta de todos eles afastou-se das tais descrições de acontecimentos relevantes, acabando por ser muito mais o século “deles” que o “nosso”, e ainda bem. É que, assim, somos confrontados com filmes e autores que articulam uma teia de afinidades e cumplicidades evidenciando um estatuto “marginal”.
Nenhum dos filmes exibidos no Rivoli Teatro Municipal foi mostrado em Vila do Conde. A lógica da programação, relacionada com o formato habitual dos filmes do Festival, fez com que no Porto se tivesse privilegiado a exibição das longas metragens dos cineastas convidados, os quais continuaram a acompanhar as projecções no Rivoli Teatro Municipal.
Filmes apresentados:
Working With Orson Welles, de Gary Graver
Boliden, de Walter Feistle, Signers Coffer, de Peter Liechti, e Why Should I Buy a Bed When All I Want Is Sleep?, de Nicholas Humbert e Werner Penzel
Tonespor, de Lejf Marcussen
Jeux des anges, de Walerian Borowczyk
Andrei Svislotski, de Igor Kovalyov
Odpriski, de Jerzy Kucia
La jetée, de Chris Marker
Dal polo all’equatore, Io ricordo, Uomini anni vita, Prigionieri della guerra e Su tutte le vette è pace, todos de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi
Participantes:
Gary Graver (realizador)
Jillian Graver (produtora)
Nicholas Humbert (realizador)
Werner Penzel (realizador)
Simone Furbringer (realizadora)
Brothers Quay (realizadores)
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