Quando se procura definir o filme documentário ocorre estarmos em
presença de um objecto do campo cultural que remete para o domínio de
discursos e narrativas de natureza diversa sobre o mundo real. Os discursos,
entendidos no cinema como a materialização de significados resultantes da
articulação gramatical de signos audiovisuais, são portadores de mimesis,
mas também de diegesis. A primeira remete para a imitação e a segunda
permite construir a narrativa. É nesta duplicidade de sentido, da qual o pathos
é inseparável elemento dramático, que se inscreve a ideia do filme
documentário. Mas é, também aí, nas regras a seguir para a realização da
obra de arte, que residem as maiores perplexidades quanto às narrativas do
real. O mesmo se aplica, de resto, à generalidade das narrativas. Só que no
documentário, sendo muito presente o papel da tecnologia enquanto
elemento indutor de linguagens, sempre houve lugar para um vasto campo
de experimentação, daí resultando um número praticamente ilimitado de
possibilidades combinatórias com reflexo na sua explicitação. Como tal, a
expressão open documentary é de certa forma redundante dadas as
múltiplas metamorfoses deste outro cinema no plano da historicidade. Se
agora ganha nova acutilância parece isso ser consequência de duas ordens
de factores: por um lado, o corte epistemológico do filme documentário face à formatação imposta pela vulgata televisiva e, por outro, uma cada vez maior
transversalidade das artes que abre o campo àquilo em que o documentário
sempre se sentiu muito à vontade, ou seja, a experimentação. Esta 7ª edição
do IRI reflecte isso mesmo. Beneficia de uma retrospectiva integral dos filmes
de ruptura de Alain Resnais, cineasta da modernidade, que estabelecem
entre si um fascinante diálogo entre diversas formas de expressão criativa e
de um ciclo de cinema de animação alemão ao qual não é estranha a
linguagem de alguns documentários. Tem filmes de autores que trabalham
com arquivos, fotografias e outros materiais fazendo dos seus filmes uma
permanente reflexão sobre o cinema. Tem um conjunto de masterclasses nas
quais o tema open documentary é declinado de múltiplas formas. E, como
não podia deixar de ser, tem filmes e exposições fotográficas que tanto
resultam do Mestrado em Comunicação Audiovisual do Departamento de
Artes da Imagem da Esmae, quanto dos cursos de 1º Ciclo. Finalmente, uma
nota de reconhecimento pela colaboração da Alliance Française e do Goethe
Institut. Sem eles o IRI não seria o que é.
Jorge Campos
Dia 2 de Novembro 2010
BAG
14h.30
Apresentação do Ciclo
Jorge Campos
Cinema de Animação da Alemanha
Filmes:
Drei Grazien (Três graças) (2006) de Hannah Nordholt e Fritz Steingrobe
Nomeação para o Prémio da Curta Metragem Alemã 2006, Wisbaden Film Assessment Board Rating 2006: “Highly Commended”; Menção Especial no Hamburg International Short Film Festival, 2006
Alemanha - 15’ 00’’
Wo ist Frank? (Onde está o Frank?) (2001) de Ângela Jedek
Mecon New Talent Award, Colónia, 2001
Alemanha - 8’ 00’’
15h.30
Retrospectiva de Alain Resnais
Filme:
Coeurs (2006) de Alain Resnais
Festival de Cannes 2006: Melhor Realizador (Alain Resnais) e Melhor Actriz (Laura Morante)
França - 120’00’’
18h.00
Sessão de abertura
Intervenções institucionais
- Instituto Politécnico do Porto
- Alliance Française
- Goethe Institut
- ESMAE
- DAI - ESMAE
Filmes:
A Parideira (2010) de José Miguel Moreira
Portugal, Mestrado DAI – EMAE - 20’ 00’’
Improvisation - Les Caravanes des Mots (2010) de Jorge Campos com fotos de Olívia da Silva
Portugal – França, DAI-ESMAE / Alliance Française - 13’ 00’’
Guernica (1950) de Alain Resnais
França - 13’ 00’’
Post Card (Cartão Postal ) (2003) de Anna Matysick
Stuttgart International Festival of Animated Film; Sudwestrundfunk (SWR) Audience Award
Alemanha - 8’00’’
21h.45
THSC
Retrospectiva de Alain Resnais
Nuit et Brouillard (1955) de Alain Resnais
Prémio Jean Vigo 1956
França - 30’ 00’’
Hiroshima mon amour (1959) de Alain Resnais
França - 90’ 00’’
Dia 3 de Novembro
BAG
14h.00
Filme TCAV
Tempo (2010) de Edgar Sousa
Portugal – 5’ 24’’
Cinema de Animação da Alemanha
Filme:
Ego Sum Alfa e Ómega (2005) de Jan-Peter Meier”
Wisbaden Film Assessment Board Rating, 2005: “Highly Commended”: Festival of Nations, Ebensse, Áustria, 2005; Ebenseer Bear in gold; Stuttgart International Festival of Animated Film, 2006; 1st Sudwestrundfunk (SWR) Audience Award, Alpinate Short Film Festival, Nenzing, Áustria, 2005; Jean Thevenot Medal
Alemanha – 7’ 00’’
14h.30
Masterclass de Sarah Pink (Loughborough University)
“Walking at the Edge: intersections between documentary film, photography, arts and social science practice”
Sinopse:
This paper will explore how recent theoretical interests in movement and a focus on walking in documentary film, photography, arts practice and social science research can facilitate interdisciplinary exchanges. Through a discussion of theories of movement, and of examples of walking with others in ethnographic documentary film, in arts practice and in video and photographic social science research I identify points of continuity and of mutuality. I will outline how these different approaches use walking and shared movement as a principle through which to communicate about other people’s experiences. As such I will argue that by walking at the edge of these different disciplines and documentary, arts and ethnographic practices might mutually inform each other.
16h.00
Masterclass de Floreal Peleato (cineasta e critico de cinema)
Sinopse:
“Alain Resnais: Un Mosaico de la Modernidad”
Desde sus cortometrajes Alain Resnais (Vannes, 1922) afirma con fuerza la necesidad de encontrar una forma narrativa y dramática distinta para cada relato filmado. Más allá de la diversidad de su obra permanecen su gusto por la palabra - y el teatro - y por las formas populares - la canción, el comic -, su tratamiento singular de la música, su fidelidad a un equipo de colaboradores - el público conoce sobre todo a sus actores -, sus construcciones no lineales atravesadas por el tiempo y la melancolía. A lo largo de más de medio siglo no ha dejado de ser un exploradorque merece ser calificado, más que cualquier otro director, de "moderno".
Filme:
Les Statues Meurent Aussi (1953) de Alain Resnais e Chris Marker
Prémio Jean Vigo 1954
França - 30’ 00’’
18h.00
Materclass de José Ribeiro (Universidade Aberta)
“Cinema e Antropologia”
Sinopse;
Desde seu aparecimento, no século XIX, cinema e antropologia, desenvolveram uma história paralela e múltiplas aproximações. As mais relevantes são metodológicas e sobre a natureza das representações, isto é, a compreensão as relações entre a produção cinematográfica de uma sociedade e a vida social. Destacaremos a proximidade metodológica entre Flaherty e Malinowski, entre a montagem segundo Vertov e as fases da investigação antropológica, entre três planos na produção cinematográfica e na investigação antropológica, as consequências epistemológicas do advento do som direto no cinema e na antropologia, o advento das narrativas complexas multi-situadas e as formas exploratórias e experimentais do pós-cinema. Abordaremos as perspetivas das lições de cinema para a nossa época de Laplantine e posição e posicionalidade epistemológica, ética e política do antropólogo e do cineasta.
21h. 45
THSC
Retrospectiva de Alain Resnais
Toute la Mémoire du Monde (1956) de Alain Resnais
França - 21’ 00’’
L’ année dernière à Marienbad (1960) de Alain Resnais
Leão de Ouro no Festival de Veneza 1961
França - 89’ 00’’
Dia 4 de Novembro
BAG
14h.00
Filme TCAV
Tarik (2010) de Emanuel Lopes, Jaime Vicente e Augusto Cunha
Portugal – 6’ 36’’
Retrospectiva de Alain Resnais
Le Chant du Styrène - 19’ (1958) de Alain Resnais
14h.30
Masterclass de Margarida Ledo Andión (Univesidade de Santiago de Compostela)
“no interior do frame”
Sinopse:
É posíbel traballar en presente o arquivo, esa imaxe sobre a que pasou o tempo? Transformado en material que entra en ralación espacial con outros materiais, construído como sinal fragmentaria dun discurso, a imaxe de arquivo pode revelar ese 'trouble' elemental da procura no interior do frame.
Filme:
Cienfuegos, 1913 (2009) de Margarida Ledo Andión e Belkis Vega
Espanha, Cuba – 17’00’’
16h.00
Filme:
48 (2009) de Susana Sousa Dias
Grand Prix du Festival Cinéma du Réel 2010
Portugal – 90’ 00’’
Introdução e debate com Susana Sousa Dias
21h.45
THSC
Retrospectiva de Alain Resnais/ Cinema de Animação da Alemanha
The Patchwork Queen (2001) de Lars Henkel
Kurzundschon, Cologne, 2002: 3rd Prize; Festival Internacional de Cine Universitário, Madrid, 2002: Melhor Som
Alemanha - 3’ 00’’
Muriel ou le temps d’ un retour (1963) de Alain Resnais
Festival de Veneza 1963: Prémio Volpi para Delphine Seyrig
França - 114’ 00’’
Dia 5
BAG
14h.00
Filme TCAV
Out of Service (2010) de Fábio Magalhães
Portugal – 8’ 20’’
14h.15
Masterclass de André Eckert
director do Deutsches Institut für Animationsfilm
“Cinema de Animação na Alemanha: os novos caminhos”
15h.30
Masterclass de Adriana Baptista (Escola Superior de Educação-IPP)
“Ydessa, les ours, etc: a dimensão equívoca da mostração”
Sinopse:
O documentário em Agnès Varda não parece destinado a dar a ver, mas a promover a desconfiança sistemática sobre o óbvio. Ultrapassar a dimensão do registo implica documentar o processo incerto da inteligibilidade sobre o mostrado que cada um experimenta quando vê e interpreta. Nessa medida, a realizadora faz com o espectador o percurso temporal dentro do real mas filma também a dúvida, a hipótese de interpretação e a informação que, na margem de todo o sucedido, o reveste de significado. Mas desse percurso esconde deliberadamente a designação, libertando-se, assim, definitivamente, da classificação de que todo o registo necessita. Neste caso particular, o seu documentário gere percepções, emoções e interpretações desenvolvendo lenta e progressivamente a ideia de que não basta ver e não vale dizer.
Filme:
Ydessa, les ours et etc. (2004) de Agnés Varda
França - 43’00
17h.30
Masterclass de Rodrigo Areias (cineasta)
“O meu cinema”
Sinopse:
Ainda que maioritáriamente ficção, o meu cinema parte do real e muitas vezes volta antes do fim do filme. A forma como parto para a feitura de um filme é tendo como ponto de partida o que me rodeia, quase sempre sem guião e contando com todos para o improviso.
Filmes:
Golias (2010) de Rodrigo Areias
Portugal - 9’ 00’’
Corrente (2008) de Rodrigo Areias
11º Festival de Curtas do Rio de Janeiro – Grande Prémio do Festival; 16º Curtas de Vila do Conde – Prémio do Júri: Melhor Curta Metragem Nacional; Prémio do Público – Melhor Filme; 12º Festival de Cinema Luso-Brasileiro –Prémio Especial do Júri; FIKE 2008 – Prémio Onda Curta; 1º Festival Internacional de Luanda – Melhor Filme; 6º Festival Internacional Black & White – Melhor Ficção; 14º Ovarvideo – Melhor Fotografia, Melhor Argumento
Portugal - 16’ 00’’
Apresentação e debate com o realizador
THSC
21h.45
Retrospectiva de Alain Resnais/ Cinema de Animação da Alemanha
Yo lo vi (2003) de Hannah Nordholt e Fritz Steingrobe
Nomeação para o Prémio da Curta Metragem Alemã, 2003; Wisbaden Film Assessment Board Rating, 2003: “Highly Commended”
Alemanha – 11’ 66’’
Stavisky – 114’ (1974) de Alain Resnais
Festival de Cannes 1974: Prémio Espcial do Júri para a interpretação de Charles Boyer
França – 115’ 00’’
Dia 6
THSC
Retrospectiva de Alain Resnais/ Cinema de Animação da Alemanha
15h.30
Bildfenster/ Fensterbilder (Enquadramento/ Imagens) (2007) de Bert Gottschalk
Alemanha – 6’ 00’’
Ottawa International Animation Festival, 2009: Best Expereimental/ Abstract Animation; Montageforum Film, Cologne, 207: BMW Group Grant Award for Editing; Zagreb Film Festival, Croatia, 2008: Menção Especial
Mon Oncle d’Amérique (1980) de Alain Resnais
Grande Prémio do Júri do festival de Cannes 1980
França – 125’ 00’’
18h.00
Retrospectiva de Alain Resnais/ Cinema de Animação da Alemanha
Neulich 2 (Recentemente 2) (2000) de Jochen Kuhn
Alemanha – 9’ 00’’
Festival du Nouveau Cinéma , Montréal,2000: 1st Prize; Regensburg Short Film Week, 2001: 1st Audience Award; FilmArtFestival in Schwerin, 2001: Jury Award for the best short film; short cuts cologne, Cologne, 2001: Audience Award; Wisbaden Film Assessment Board Rating, 2002: “Highly Commended”
Alemanha – 9’ 00’’
Melo (1986) de Alain Resnais
França – 112’ 00’’
21h.45
Retrospectiva de Alain Resnais/ Cinema de Animação da Alemanha
Delivery (A Entrega) (2005) de Till Nowak
AFI Fest, Los Angeles, 2006: Jury Award and Audience Award; International Animation Film Festival, Annecy, 2006:Best Debut Film; Nomination for the European Short Film Award, 2006; Friedrich Wilhelm Murnau Foundation, 2006: Murnau Short Film Award; Hamburg International Short Film Festival, 2006: “Made in Germany” Audience Award; Hamburg Animation Award, 2005; 2nd Prize; OFF Barcelona, 2005: 1st Prize; International Student Film Festival in Potsdam, 2006: Best Animated Film
Alemanha – 9’ 00’’
On connait la chanson - (1997) de Alain Resnais
Prémio Louis Delluc 1997
Césars 1997 para Melhor Filme, Melhor Actor (André Dussolier), Melhor Actriz Secundária (Agnés Jaoui), Melhor Actor Secundário (Jean-Pierre Bacri), Melhor Som e Melhor Edição
França – 120’ 00’’
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