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viagem pelas imagens e palavras do quotidiano
NDR
Jorge Campos
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"O mundo, mais do que a coisa em si, é a imagem que fazemos dele. A imagem é uma máscara. A máscara, construção. Nessa medida, ensinar é também desconstruir. E aprender."
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Out of the Past
o filme é Out of the Past (1947) de jacques tourneur. ela é a fabulosa jane greer, femme fatale do film noir. uma das tais por quem o rapaz perde a cabeça até descobrir que ela, afinal, não é indefesa e está perfeitamente à vontade com um 38 nas mãos. enfim, perigo. gosto.
Um Fascinante Jogo de Máscaras
Sorge, de um fôlego: combate pelo exército imperial alemão na I Guerra Mundial, fica gravemente ferido, é condecorado com uma Cruz de Guerra, torna-se marxista e adere ao Partido Comunista na Alemanha, faz um doutoramento em Ciência Política, entra para o Comintern, é enviado para instigar a Revolução em diversos países, consegue infiltrar-se e obter o cartão de membro do partido nazi em Berlim, vai viver para Moscovo, é enviado pela União Soviética para Xangai onde cria uma tremenda rede de espionagem, segue depois para o Japão, fazendo-se passar por especialista dos assuntos da região, torna-se íntimo do embaixador do III Reich em Tóquio - e amante da sua mulher - tem acesso a informação ultra secreta que durante anos transmite ao Centro, avisa Estaline da Operação Barbarossa, nome de código da invasão da URSS pela Wehrmacht e seus aliados do Eixo, em suma, um tipo com uma vida tão assombrosa tinha de ficar para a História como o mais formidável espião de todos os tempos. Richard Sorge ou Ramsey, o mais conhecido dos seus nomes de código, tinha, obviamente, características pessoais singularíssimas: bebedor incorrigível, amante insaciável, viciado na velocidade das suas motos e automóveis, orador brilhante, intelectual de altíssima craveira, jornalista respeitado, indefectível comunista: sentia-se na vertigem do perigo como peixe na água. de tal modo que no jogo do gato e do rato iniciado com os processos de Moscovo, na sequência dos quais foram executados sucessivamente seis diretores do seu Comando - os seus superiores - Sorge conseguiu escapar à purga. não escapou foi à polícia japonesa. preso no final de 1941, seria enforcado em 1944. pensou até ao fim que a URRS acabaria por resgatá-lo. nunca soube, embora suspeitasse, que Estaline o considerava um agente duplo, mandando para o cesto do lixo as suas informações. subiu ao patíbulo com vivas à Revolução. foi reabilitado após o XX Congresso do PCUS e considerado herói da União Soviética. a história de Sorge tem sido contada de muitas maneiras ao longo dos anos. em ensaios, no cinema, na literatura. este livro de Owem Matthews, porém, recolhe informações só há pouco tornadas públicas, designadamente dos arquivos da polícia secreta russa. por vezes, apresenta dados contraditórios. eu diria que, tratando-se de espionagem, isso é natural. vale a pena lê-lo pelo que revela sobre os meandros da política, sobretudo agora quando a invasão da Ucrânia é representada de modo simplificadamente maniqueísta. já agora, este leitor leu muito sobre espiões. adora o tema. o que de mais fascinante encontrou neste livro foi o jogo de máscaras, sempre uma chave para ler a guerra e o mundo.
Les Misérables de Ladj Ly
há neste filme um momento arrepiante. não tem violência explícita, sangue, cargas policiais, tiros ou lutas de gangues. aliás, não há nele vestígio da presença física de um ser humano. trata-se da imagem feita por um drone das colmeias de betão a perder de vista na periferia de Paris onde habitam dezenas de milhar de pessoas - os outros, os de pele escura, os de rituais estranhos - a quem são assacadas responsabilidades pelos males da sociedade. por sinal, a mesma sociedade que dizendo-se inclusiva expulsa os pobres e prefere vê-los longe porque olha para eles como uma ameaça. Les Misérables (2019) de Ladj Ly é um sinal dos tempos, explica sem retórica moralista a razão pela qual as sucessivas cedências à extrema-direita - a França sabe bem o que isso é - acabam por normalizar o racismo e a xenofobia criando gigantescos conglomerados de excluídos onde as circunstâncias promovem a educação de crianças e jovens para a revolta. se não viram, vejam. vale a pena. e se quiserem um quadro mais completo podem recuar um pouco no tempo e ver ou rever O Ódio (1995) de Mathieu Kassovitz. é fácil encontrar estes filmes nas múltiplas plataformas disponíveis.
Woody Allen
farto de ler a desgraça dos dias e, para mais, com um dia de chuva, fui tratar de lavar os olhos e a alma. no cinema. não me lembro de alguma vez ter ficado desapontado com uma fita de woody allen, apesar de volta e meia o nome dele aparecer no obituário da crítica. evidentemente, gosto mais de uns filmes do que de outros, mas encontro sempre, mesmo nos de que gosto menos, alguma coisa que me faz pensar, tantas vezes a rir. este roma será menos articulado que o anterior sobre paris, mas tem cenas hilariantes e um agudíssimo sentido crítico e autocrítico. fiquei muito bem disposto. sucede que ao chegr a casa, deparo com um tipo de fato cinzento na televisão a insultar-me. sugere que sou preguiçoso e malandro porque sou culpado de viver num país onde há muitas cigarras e poucas formigas. como estou farto de ser insultado, apeteceu-me obrigá-lo a ir ver o woody allen. depois caí em mim: dificilmente o tipo entenderia. marquei então encontro na rua.
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C A T E G O R I A S
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