Jorge Campos

abri de mim a mão
da certeza: rolaram seixos trazidos
pelas marés do tempo.
talvez a humanidade dos homens
caiba na praia limpa de um gesto
de desprendimento.
Roma, 26 de dezembro de 2022
abri de mim a mão
da certeza: rolaram seixos trazidos
pelas marés do tempo.
talvez a humanidade dos homens
caiba na praia limpa de um gesto
de desprendimento.
Roma, 26 de dezembro de 2022
perdi o tempo à idade,
ganhei o direito a dizer.
sem tempo caminho como se fosse vento
que arde nos sulcos do rosto.
adivinho o rumo dos passos: uma minúscula
estrela brilha no instante do olhar.
sou perene, murmúrio
dos dias.
Roma, 27 de dezembro 2022
Atualizado: 23 de jun. de 2021
manhã cedo parto em viagem de rumo incerto para lugares mais a sul onde o sol bate a prumo e só tarde se esvai no horizonte em desafios e fulgores. sigo estrada fora no rápido asfalto negro dividido por uma linha branca, desferindo uma seta de luz rumo a um tempo porventura insondável, contudo, como recusá-lo sendo viagem, pêndulo, enigma? por companhia levo o persa antigo que me fala do amor e do vinho e o alexandrino que me canta o prazer de um lenço de seda. versos. olho em frente: vislumbro o abraço de algas molhadas, ventos de direcção variável, luas de noites quentes, a maravilha do minúsculo grão de areia fina, a delicada gota de água azul transparente no acordar da pele. do lento movimento das marés subirá, talvez, um halo de sal, uma marca no rosto, uma deslumbrada flor de espuma branca no corpo a corpo dos meus dias. agarrado ao volante, despojado como as aves, vou entre o ainda vermelho da madrugada e o já azul do dia: viajo com tão parcos pertences.
julho, 2011
"O mundo, mais do que a coisa em si, é a imagem que fazemos dele. A imagem é uma máscara. A máscara, construção. Nessa medida, ensinar é também desconstruir. E aprender."