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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 24 de nov.
  • 1 min de leitura

Gavin Jantjes - Freedom Hunters, 1977
Gavin Jantjes - Freedom Hunters, 1977

Se, ao romper da madrugada, exausto e bêbado,

tiveres ainda alento para mais um copo

e fores capaz de um galope sem destino

Se, com mãos de pedreiro antigo, souberes construir

catedrais esguias para as aves de passagem

rumo à cauda dos cometas, à órbita das luas

ou à poeira das estrelas

Se nas veias te correr a pólvora do sangue,

e se, ao falares, te não entenderem e, mais ainda,

te atirarem pedras como ao cão raivoso, ao

libertino ou ao homem saído do asilo

Então, sem malícia ou altivez, solta o altivo tigre

em ti e enfrenta a turba olhos nos olhos:

verás esparsas ruínas, sombras, estátuas caídas

pelo chão; verás dos vencidos a rendição

ou não fosse o tempo inexorável

e sábio o felino que te habita.


Joanesburgo, 1967/ LM 1973


Jorge Campos


Obs. JHB – sigla para Johannesburg



 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 5 de nov.
  • 1 min de leitura
 Jean Metzinger – Soldado com tabuleiro de xadrez, c. 1915-16.
Jean Metzinger – Soldado com tabuleiro de xadrez, c. 1915-16.

 


Tempo suspenso, memória do silêncio, areia fina

que foge no branco da página por entre os dedos

de ter sido, mistério de juntar letras como quem partilha

o voo das aves ao cair da noite ou anuncia a queda

de um homem no clarim da alvorada, flor de sangue.

Digo: planto uma árvore que sei vai morrer,

arde o outono no festim de um pássaro imaginado,

há um rio, uma mulher, uma casa, enfim, exércitos

suspensos de vozes distantes no lado

oculto das coisas. Eis como invento as palavras,

sem medo ou sobressalto. Depois,

mato-as sem mágoa, enquanto

o vento arde e a fúria cresce.

 

LM, 1973

 

 

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 6 de ago.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 7 de ago.


Georgia O' Keefe - Ice Cave, 1950.
Georgia O' Keefe - Ice Cave, 1950.


o corpo fatigado do compasso dos dias

parti em busca de um porto de segredos e prodígios.

levado pela asa do vento,

tal como o viajante tocado pela graça do mar,

vi a claridade do instante na cúpula do tempo

e soube da vertigem do olhar que antecede o silêncio das dunas

quando o mar se desfaz em espuma

e a espuma se revela espanto.

declinadas as cores do dia, naveguei sem bússola

e sem quadrante e amanheci em praias

onde os antigos trocavam óleos finos

com marinheiros de mãos errantes.

de sol a sol, em lugares de súbitos fulgores,

procurei um rosto inscrito no horizonte,

o murmúrio de um nome como quando

a água se faz pedra e a pedra, brisa, e a brisa

segredo da memória, prodígio do lume de ser

no labirinto das marés.



Jorge Campos

Agosto de 2010

 
 
 
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Ensaios, conferências, comunicações académicas, notas e artigos de opinião sobre Cultura. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes  quando se justificar.

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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