o meu escritório é relativamente pequeno mas as paredes estão integralmente ocupadas de cima abaixo por estantes nas quais não cabe nem mais um livro. ao fazer agora uma tentativa de reorganização do espaço constatei que nas prateleiras de cima, aquelas onde em princípio já não se volta, repousam publicações outrora lidas à lupa e hoje largamente negligenciadas quando não ostensivamente votadas aos ostracismo pela intelligentsia de turno. estão por lá marx, engels, lenine, trotski, mao, deutscher, carr, bernstein, kautsky, fidel, o che, ho chi minh, bakunine, grossos volumes sobre o fascismo italiano, outros tantos sobre a guerra civil de espanha e, também, alguma coisa sobre o estado novo. a lista não é exaustiva. se me não levam a mal, até lá está uma das coisas mais abjetas que me foi dado ler chamada mein kampf. todos estes livros têm como denominador comum terem sido publicados até ao início dos anos 80 do século XX. imediatamente abaixo deste arquivo a que alguns chamariam museológico estão alinhados uns tomos, chamemos-lhe assim, que foram sendo publicados a partir dos anos 80, uma vezes por furibundo revisionismo, outras com manifesto intuito de ajuste de contas, muitos possuídos do insuportável delírio pós-moderno, poucos, infelizmente, com real interesse. direi apenas que, apesar da boa vontade, raramente os li até ao fim. não foi o caso deste O Triunfo do Artista de Tzvetan Todorov que tem na capa um magnífico Malevich. discípulo de Barthes, politicamente conservador, o linguista búlgaro faz aqui um retrato daquilo que, segundo o seu ponto de vista, foi a conturbada relação da arte soviética com o poder político até 1941, bem como da tensão que levou à ruptura de construtivistas e suprematistas. pela minha parte, sabendo o quanto estas questões são complexas, conhecendo o contexto, não consigo perceber como pode passar pela cabeça de alguém tutelar a criação artística. e viva o triunfo do artista