em tempos tive um gato persa negro ao qual a minha filha Aurora, então ainda pequenita, pôs o nome de Pepe por causa do central do Porto. o gatinho era um prodígio. muito tranquilo e muito amigo do seu amigo. com o tempo, o Pepe tornou-se um companheiro indispensável, ajudando-me a pensar. enquanto jovem adulto, além de um sentido de humor ferino, era de uma erudição invulgar. falava comigo com igual à vontade da Bíblia e do Kama Jutra, apreciava Britten, o que nunca entendi, e abominava os Sex Pistols. cheguei a publicar textos dele como sendo meus, o que me granjeou uma multidão de seguidores. um dia, numa das minhas ausências, o Pepe, que não suportava a solidão, partiu. ainda hoje o remorso me persegue. dizia o Mark Twain, o homem da foto, que era era impossível resistir aos gatos. chegou a viver com 20, alguns deles com nomes fabulosos tais como Beelzebub, Blatherskite, Buffalo Bill, Satan, Sin, Zoroaster e Pestilence. de há anos a esta parte, os gatos também fazem parte da minha vida. tive alguns. quando me faltam, sinto tanto. They are the cleanest, cunningest, and most intelligent things I know, escreveu Mark Twain. e são. pudessem ver as conversas que mantenho com a minha gatinha Sunny, o modo como me olha, como se vem enrolar devagar no meu colo e saberiam o que é um gato a falar com o coração.
dezembro, 2024
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