Em viagem, na invenção das palavras
- Jorge Campos
- há 20 horas
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Tempo suspenso, memória do silêncio, areia fina
que foge no branco da página por entre os dedos
de ter sido, mistério de juntar letras como quem partilha
o voo das aves ao cair da noite ou anuncia a queda
de um homem no clarim da alvorada, flor de sangue.
Digo: planto uma árvore que sei vai morrer,
arde o outono no festim de um pássaro imaginado,
há um rio, uma mulher, uma casa, enfim, exércitos
suspensos de vozes distantes no lado
oculto das coisas. Eis como invento as palavras,
sem medo ou sobressalto. Depois,
mato-as sem mágoa, enquanto
o vento arde e a fúria cresce.
LM, 1973




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