em viagem, diante do mar
- Jorge Campos
- 6 de out. de 2020
- 1 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.

faz calor. caminho como se a luz do dia, indiferente à volta dos passos, mergulhasse a prumo no horizonte dos meus dias. respiro nas dunas o murmúrio do vento, memórias de um rosto de marinheiro tão atento aos desafios e mistérios do mar. sob o sol de azul intenso, uma gaivota. e uma casa desabitada de paredes brancas, corroída pelo sal do tempo, que um dia foi minha. aí nasci de mãos errantes, de um rumor de lua nova, sob o imponderável signo de perder-me, talvez, felino de mim mesmo. aí soube das águas do rio ainda os dedos tocavam estrelas em florestas densas de pássaros cumprindo noites de insónia e dias felizes. aí aprendi o côncavo dos seios e o convexo do sexo como quem no corpo declina a palavra maravilha. sendo muitos, tive por companhia o medo sombrio da loucura, a loucura luminosa da paixão, a paixão indomável da procura, a procura sonhada dos meus sonhos. agora, estou só, diante do mar. caminho ainda. pode o calor atenuar a erosão da pele, iludir o declínio do rosto e ocultar o abandono das mãos, mas já o crepúsculo cai sobre a casa dos meus dias, e a gaivota, ferida de azul, alonga o seu voo na distância e o silencioso tigre no seu labirinto, pondera: em breve mal distinguirei as silhuetas do amor e da morte. assim é o tempo, absoluto e final.
2011




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