em viagem, sobre o lado esquerdo
- Jorge Campos
- 1 de nov. de 2020
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Atualizado: 1 de mai.

sobre o lado esquerdo o silêncio prossegue a sua longa viagem de sal e espuma, de sol e penumbra, rente ao limiar do enigma que é murmúrio de fonte ou sopro de algas, sulco do rosto ou cicatriz do tempo.
sobre o lado esquerdo há um lugar secreto, a noite de uma poeira de estrelas, uma mão precária de luar fulgente, a areia fina que foge por entre os dedos na vertigem do azul intenso.
sobre o lado esquerdo respira o sinuoso traço da memória, o eco da erosão da pedra, o cristal puro da água, o tigre vigilante do mistério do anoitecer na sua condição de ser tendo sido e, de novo, ser.
sob a luz vertical da manhã, entre o descampado da ausência e o sortilégio da pele, nesse instante de tudo ser nada e de nada ser tudo, súbito bate descompassado o relógio dos passos, como se fosse um mar de espanto ou uma flor do vento, um alvoroço de pássaros ou um coração ardente,
sobre o lado esquerdo.
20-10-2011
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