manhã cedo parto em viagem de rumo incerto para lugares mais a sul onde o sol bate a prumo e só tarde se esvai no horizonte em desafios e fulgores. sigo estrada fora no rápido asfalto negro dividido por uma linha branca, desferindo uma seta de luz rumo a um tempo porventura insondável, contudo, como recusá-lo sendo viagem, pêndulo, enigma? por companhia levo o persa antigo que me fala do amor e do vinho e o alexandrino que me canta o prazer de um lenço de seda. versos. olho em frente: vislumbro o abraço de algas molhadas, ventos de direcção variável, luas de noites quentes, a maravilha do minúsculo grão de areia fina, a delicada gota de água azul transparente no acordar da pele. do lento movimento das marés subirá, talvez, um halo de sal, uma marca no rosto, uma deslumbrada flor de espuma branca no corpo a corpo dos meus dias. agarrado ao volante, despojado como as aves, vou entre o ainda vermelho da madrugada e o já azul do dia: viajo com parcos pertences.
julho, 2011
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