em viagem, viajante de mim mesmo
- Jorge Campos
- 20 de jun. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 6 de ago.

manhã cedo parto em viagem de rumo incerto para lugares mais a sul onde o sol bate a prumo e só tarde se esvai no horizonte em desafios e fulgores. sigo estrada fora no rápido asfalto negro dividido por uma linha branca, desferindo uma seta de luz rumo a um tempo porventura insondável. contudo, como recusá-lo sendo caminho, pêndulo, enigma? por companhia levo o persa antigo que me fala do amor e do vinho e o alexandrino que me canta o prazer de um lenço de seda. olho em frente: antecipo o abraço de algas molhadas, ventos de direção variável, luas de noites quentes, a maravilha do minúsculo grão de areia fina, a delicada gota de água no acordar da pele. do lento movimento das marés subirá, talvez, um halo de sal, uma marca no rosto, uma deslumbrada flor de espuma no corpo a corpo dos meus dias. agarrado ao volante, despojado como as aves, vou entre o ainda vermelho da madrugada e o já claro azul do dia. viajo com parcos pertences.
Jorge Campos
julho, 2011




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