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CULTURA

Foto do escritorJorge Campos

Porto 2001 - Odisseia nas Imagens IX: Como salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens 4

Atualizado: 20 de out. de 2023


Este texto continua a tratar do módulo Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens. Da variedade da Programação e do debate em torno dos conteúdos ficar-se-á com uma ideia da matriz do Festival Odisseia nas Imagens que viria a conhecer uma única edição. Aqui, no respeitante ao cinema de Arte e Ensaio programado em Olhar de Ulisses por Pierre-Marie Goulet, José Manuel Costa, Teresa Garcia e Miguel Dias, fala-se da Resistência às corruptelas introduzidas no campo das imagens em movimento por agentes como, por exemplo, a Televisão. Mas, em Outras Paisagens, cuja coordenação ficou a cargo de Dario Oliveira, abordam-se as múltiplas possibilidades narrativas induzidas pelos new media, designadamente no campo das instalações e do cinema expandido. A título de exemplo do debate levado a cabo nos quatro episódios de O Olhar de Ulisses, publica-se na íntegra um texto constante do catálogo de Resistência. Com o mesmo intuito publica-se, igualmente na íntegra, a programação do Media Lounge. Relembrar. Esta foi a primeira e única edição do Festival Internacional do Documentário e New Media do Porto naquela que seria a proposta de continuidade da Odisseia nas Imagens concebida como um polo estruturante da indústria do cinema, audiovisual e multimédia do norte do País. Em anexo, constam textos de Rui Pereira que se inseriam naquilo que deveria ser futuramente uma estratégia de comunicação.




O Olhar de Ulisses 4.0 – Resistência

26 de Outubro a 2 de Novembro de 2001

Rivoli Teatro Municipal, Pequeno Auditório


Não pode haver resistência... sem memória - J.L.Godard


A partir do momento em que André Bazin viu o cinema como “uma janela aberta sobre o mundo”, o cinema dominante teve uma clara tendência a transformar-se num jogo de vídeo em grande ecrã e o ecrã de televisão a tomar cada vez mais a forma de um buraco de fechadura, ou seja, o “visual” tende a ocupar o lugar da “imagem” como dizia Serge Daney. Nesse contexto, o quarto e último acto de “O Olhar de Ulisses” procura construir redes de relação e leitura entre os filmes - faróis da história do cinema, pontos de referência indispensáveis - e as obras contemporâneas que teimam em respeitar quem as vê. Por isso este último andamento de O Olhar de Ulisses chama-se Resistência. Serão apresentados filmes de Federico Fellini, Jacques Demy, Nicholas Ray, Boris Barnet, Robert Kramer, Luc Moullet, António Reis e Margarida Cordeiro, John Ford, Akira Kurosawa, Charles Laughton, Pedro Costa, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Jacques Tati, Chantal Akerman, Charlie Chaplin, Chris Marker, Jean-Luc Godard, Olivier Smolders, Abbas Kiarostami, Serguei Dvortsevoy....





26 DE OUTUBRO

14H30

ROMA- F. Fellini, Itália, 1971, 128 mn

Debate com António Rodrigues


17H30

MARSEILLE VIEUX PORT – László Moholy-Nagy, França,1929, 9 mn

LETTRE A FREDDY BUACHE - Jean-Luc Godard, Suiça, 1981, 13 mn

LOLA – Jacques Demy, França, 1961, 90 m

Debate com Hervé Aubron e A.Rodrigues


22H00 - Abertura oficial– Grande Auditório

ILHA DAS FLORES, Jorge Furtado, Brazil, 1989, 9mn

DODES'KADEN, (Pouca terra…Pouca terra) - Akira Kurosawa, Japão, 1970, 140 mn

Apresentação de José Manuel Costa


27 DE OUTUBRO

14h30

O DIA DA ESTREIA DE CLOSE UP - Nanni Moretti, Itália,1996, 7mn

CLOSE UP- Abbas Kiarostami, Irão, 1990, 90mn

Debate com Maria João Madeira e José Manuel Costa


17h30

QUEM ESPERA POR SAPATOS DE DEFUNTO, MORRE DESCALÇO,(Portugal) - João César Monteiro, 1971, 34mn

A BEIRA DO MAR AZUL,(U Samogo Sinevo Morya) - Boris Barnet, URSS, 1936, 71mn

Debate com José Manuel Costa e M. Castro Henriques


21H30

JLG/JLG, Autoportrait de Décembre - Jean-Luc Godard, França, 1995, 62 mn

JOHNNY GUITAR - Nicholas Ray, USA, 1954, 108 mn

Debate com João Bénard da Costa


28 DE OUTUBRO

14h30

JEUNES LUMIERES, filme "composto" por Nathalie Bourgeois, França, 1995, 60mn

PICKPOCKET, (O Carteirista) - Robert Bresson, França, 1959, 75mn

Debate com J.Bénard da Costa e Manoel de Oliveira


17h30

GERTRUD - Carl T.Dreyer, Dinamarca, 1964,119mn

Debate com J. Bénard da Costa e M. de Oliveira


21h30

OÙ GIT VOTRE SOURIRE ENFOUI? - Pedro Costa - Portugal/France, 2001, 95mn

SICILIA! - JM.Straub, D. Huillet - Italia, 1999, 76 mn

Com a presença do realizador Pedro Costa e de Thierry Lounas





29 DE OUTUBRO

14h30

TORRE BELA - T.Harlan, Portugal/Italia, 1979, 89 mn

L'AMBASSADE - Chris Marker, França, 1973, 20 mn

GUY DEBORD SON ART, SON TEMPS - Brigitte Cornand e Guy Débord, França,1994, 55mn

Debate com José Manuel Costa, Margarita Ledo Andion e Gerald Collas


17h30

BARRES - Luc Moulet, França, 1984, 15mn

GENESE D’UN REPAS - Luc Moullet, França,1978,115 mn

Debate com Gerald Collas e António Rodrigues


21h30

CEZANNE - CONVERSATION AVEC JOACHIM GASQUET - JM.Straub, D.Huillet, França, 1989, 51mn

BASSAE, 1964, Jean-Daniel Pollet, 1993, França, 8 mn

DIEU SAIT QUOI - Jean-Daniel Pollet, 1993, 90 mn

Debate com José Manuel Costa, Cyril Neyrat e António Rodrigues


30 DE OUTUBRO

14h30

D'EST - Chantal Akerman, Bélgica/França, 1993, 150 mn

Debate com José Manuel Costa e Saguenail





17h30

A QUEDA DA DINASTIA ROMANOV (Padenyie Dinastii Romanovich) - Ester Schub, URSS,1924, 67mn

O NOSSO SÉCULO - de Artavazd Pelechian, URSS, 1980, 30mn

O DIA DO PÃO, (Hlebni) - Serguei Dvortsevoy, Rússia / Cazaquistão, 1998, 55 mn

Apresentação de José Manuel Costa


21h30

LA JETÉE - Chris Marker, França, 1962, 28mn

STALKER - A.Tarkowsky, URSS, 1972, 165mn

Apresentação de José Manuel Costa


31 DE OUTUBRO

14H30 (e 17h30)

ROUTE ONE USA (1) - R.Kramer, França,1989, 127 mn

ROUTE ONE USA (2) - R.Kramer, França,1989, 127 mn

Participação de Erika Kramer e José Manuel Costa


21h30

YOUNG MISTER LINCOLN (A Grande Esperança) - John Ford, USA, 1939, 100mn

Debate com João Botelho


23h30

HISTORIA DO JAPÃO CONTADA POR UMA DONA DE BAR - Shoei Imamura, Japão, 1970, 100mn

Debate com Gerald Collas e Paulo Rocha


1 DE NOVEMBRO

14h30

em presença de Serge Meurant e Bruno Flament

O OLHO POR CIMA DO POÇO, (Het Oog Boven de Put) - Johan Van der Keuken, Holanda, 1988,90mn

AS FERIAS DO CINEASTA - Johan Van der Keuken, Holanda, 1974, 39 mn


17h30

MORT A VIGNOLE - Olivier Smolders, Bélgica, 1999, 25mn

SANS SOLEIL - C.Marker, França,1982, 110 mn

Debate com Olivier Smolders e Margarita Ledo Andion


21h30

HISTOIRE(S) DU CINEMA -2A - JL Godard, França, 25mn

A SOMBRA DO CAÇADOR, (The Night of the Hunter) - Charles Laughton, USA, 1955, 93 mn

Debate com Manuel António Pina




2 DE NOVEMBRO

14h30

FIM e VIDA - A. Pelechian, Arménia, 1992 e 1993, 9 e 7mn

ANA - A.Reis e M. Cordeiro, Portugal, 1985, 115mn

Apresentação de João Benard da Costa


17h30

EN RACHACHANT - Straub/Huillet, França,1982, 9 mn

TRAFIC - Jacques Tati, França, 1971, 89mn


21h30

Sessão de Encerramento de O Olhar de Ulisses

Rivoli Teatro Municipal, Grande Auditório

LIMELIGHT (As Luzes da Ribalta) - Charles Chaplin, USA, 1952, 143 mn

Apresentação de J. Benard da Costa, (Cinemateca Portuguesa)





O Olhar de Ulisses: Resistência

Lista completa de Participantes:


Alberto Seixas Santos

Alok Nandi

António Cunha

António Rodrigues

Bruno Flament

Cyril Neyrat

Erika Kramer

Gerald Collas

Guilherme Lopes Alves

Hervé Aubron

Jean Andre Fieschi

Jean Douchet

Jean-Claude Bonfanti

João Bénard da Costa

Jorge Lopes

José Manuel Costa

Luís Correia

Luís Miguel Oliveira

Margarida Sousa

Margarita Ledo Andión

Maria João Madeira

Miguel Castro Henriques

Nuno Sena

Olivier Smolders

Patrícia Saramago

Pedro Costa

Rui Santana Brito

Sandro Aguilar

Serge Meurant

Teresa Borges

Thierry Lounas




ROUTE ONE USA de Robert Kramer



Pronto (nos dicen), llegará la nieve

Y América me espera en cada esquina,

Pero siento en la tarde que declina

El hoy tan lento y el ayer tan breve.

Borges

(“New England, 1967”)


A palavra cineasta talvez seja imprópria para definir Robert Kramer, a não ser nos seus trabalhos menos interessantes, como Diesel ou Naissance, em que age como um “mero” cineasta, como alguém que tem um produto a entregar e que deve obedecer a certos parâmetros pré-definidos. Nos seus trabalhos mais característicos e mais importantes (In The Country, The Edge, Ice, Milestones, Doc’s Kingdom, Berlin 10/90), mais do que um cineasta, Kramer é um artista que faz filmes, na medida em que usa o cinema como um instrumento para uma reflexão e uma representação do mundo (e Route One/USA, a sua obra-prima e uma obra-prima tout court, é ao mesmo tempo reflexão e representação) e não para contar histórias ou manipular formas, embora também seja um narrador e possa ser um mestre das formas. A sua obra talvez adquira um sentido mais pleno no contexto da arte contemporânea americana do que no do “cinema de autor.”


Depois de um parênteses na sua juventude em que trabalhou para o Peace Corps, no Brasil, Kramer viveu a fundo as tremendas aventuras do que os americanos chamam a contra-cultura dos anos 60: trabalho com comunidades negras desfavorizadas, oposição militante à Guerra do Vietname, vida numa comunidade no Vermont, onde conheceu a sua mulher e que é transposta para o écran em Milestones, quem sabe trabalhos mais clandestinos e radicais. No âmbito do seu destino pessoal, conciliou a militância política tradicional, não totalmente isenta da cartilha leninista, com elementos da revolução cultural do Ocidente nos anos 60, que buscava, e até certo ponto alcançou, a libertação do indivíduo. Depois, Kramer decidiu expatriar-se e passou cerca de dez anos longe dos Estados Unidos, transitando por diversos países, inclusive Portugal onde realizou dois filmes, Scenes from the Class Struggle in Portugal e Doc's Kingdom. Em Setembro de 1994, quando a Cinemateca Portuguesa pensava programar Scenes..., Kramer enviou uma carta a Lisboa, em que explicava que "I'm pleased to have this film seen because now, so many years after, it's like news from nowhere, an information about a time THAT DID REALLY EXIST. I don't love this film, but I do like it very much, and particularly this quality of insisting on something that no one, absolutely no one, want to cope to now. Know what I mean?".




Este parágrafo desta carta é um belo resumo das aventuras de Robert Kramer. Em fins dos anos 80, ele resolveu voltar aos Estados Unidos, porém não de modo permanente, pois continuou a residir em Paris, até morrer, em 1999. Mas não voltou como um filho pródigo que retornasse à casa paterna: "coming back, not home, but back", como é dito em Route One/USA, que foi o resultado desta viagem de regresso e que é um dos grandes momentos e monumentos do cinema contemporâneo. O filme ilustra o ambicioso projecto que teve o cineasta no período final do seu trabalho: “filmar o fim do século XX”. Deste projecto, de que deveria ter feito parte um gorado filme sobre a Polónia (um país que podia interessar Kramer por pelo menos dois motivos: foi um dos territórios onde o leninismo fracassou e onde a “questão judia” sempre foi particularmente aguda), ficaram, além de Route One/USA, filmes como Point de Départ (o regresso de Kramer ao Vietname), Berlin 10/90 (um intensíssimo monólogo do cineasta diante da câmara) e o pungente Walk the Walk, que de certa forma é um eco a Route One no contexto europeu, num tom mais interiorizado e mais fúnebre.


Em Route One/USA, Doc, personagem fictício que é o protagonista de Doc's Kingdom e um alter ego do cineasta (o actor, Paul McIsaacs, é uma espécie de máscara cinematográfica de Kramer), volta aos Estados Unidos. Enquanto ouvimos em off a voz de Kramer, que reaparece em várias passagens do filme sem que nunca o vejamos, Doc desembarca em Manhattan e o filme começa com a clássica visão da cidade de longe, com a imagem que foi a primeira visão de milhões de emigrantes que foram para a América (entre os quais a família de Robert Kramer): a Estátua da Liberdade, "aquela estátuazinha modesta, oferta da França", como escreveu sarcasticamente Fernand Léger. Mas "Doc e eu", como diz a voz de Kramer, não se demoram em Nova Iorque e seguem para a Nova Inglaterra. É então anunciado o projecto do filme: seguir a Route One, num trajecto de 5000 quilómetros que vai da fronteira com o Canadá até à Florida, visitando do modo menos turístico que se possa imaginar um país que mudara profundamente desde que Kramer o deixara, depois de vários anos de governos conservadores, da epidemia da sida e de outras mudanças, mas que num aspecto profundo não mudara. E como é especificado pelo próprio Kramer, este trajecto atravessa essencialmente o território das treze colónias originais da América do Norte, que fizeram a primeira revolução do mundo moderno, a Revolução Americana, anterior à Revolução Francesa e muito diferente: como notou Beaudrillard, ao invés de ideológica e guerreira, foi pragmática e utópica e por isto o seu manifesto mais famoso (de que a pomposa Declaração dos Direitos do Homem francesa é um pastiche aguado) inclui, na mesma frase, entre os direitos inalienáveis do indivíduo, algo de tão prosaico como o "direito à propriedade" e de tão poético como o direito "à busca da felicidade".




Já foi dito que os Estados Unidos são um dos poucos países do mundo cujo mito fundador está, de certa forma, contido por inteiro num livro e este livro é Da Democracia na América, de Tocqueville (um livro técnico, nada lírico), para quem o espírito fundador da América (“nome mitológico dos Estados Unidos”, como observou Barthes) reside no seu modo de vida e na sua revolução moral, que a separam das velhas sociedades europeias, com as suas bases aristocráticas e feudais. Mas há um outro livro que também "contém" a configuração mítica dos Estados Unidos e que é evocado logo no começo de Route One/USA: Leaves of Grass, de Walt Whitman. Numa das mais belas sequências do filme, Doc e o invisível narrador (Kramer) nadam nus num rio e Doc explica que trouxe consigo o livro de Whitman, como uma espécie de breviário, para comparar a América de Whitman ("the America I love"), com a outra, a que o cerca, que é ao mesmo tempo “real” e rememorada. Indirectamente, Kramer transpõe para o filme o espírito do livro de Whitman, que dá a visão global de um país, sem um personagem central que seja superior aos outros, um livro cujo protagonista é plural, um livro povoado por um número infinito de personagens, que segundo Whitman são "todos cercados por uma auréola". É isto que faz Kramer, a seu modo, mais de cem anos depois de Whitman. Interroga o mundo, observa a prolixidade do real, canta parte da sua totalidade. Route One/USA é um filme sobre a memória e sobre o presente, sobre o confronto entre a memória e o presente, situado num espaço concreto, preciso e num espaço mais ideal, mais abstracto. O filme é um semi-documentário (se uma palavra tão pobre pode dar conta de um filme tão rico), pois Paul McIsaacs é um actor que encontra, convive, faz falar e dá a conhecer variadíssimas pessoas, que nada têm de personagens de ficção. Filme de viagem e anti-road movie, Route One/USA tem deliberadamente um ritmo regular, sem pontos culminantes, com continuidade e coerência, em meio a paisagens e situações diversas. A variedade das pessoas encontradas é tal que o espectador deixa de as contar separadamente e guarda uma visão de conjunto. Uns são excêntricos, outros banais, todos são olhados com vagar e atenção, pois todos são interessantíssimos para quem é capaz de olhar e sabe ver. O passado, o presente e o futuro coabitam num filme, que mostra o que há de mais presente, mas também evoca o passado histórico do país (a Guerra de Secessão, a execução de John Brown, a sala do Independence Hall, o monumento aos mortos no Vietname), o passado pessoal e afectivo: lembranças da mãe de Doc a jogar bingo, a casa onde Doc viveu em criança, o belíssimo momento sobre o livro infantil que conta a história de um farol: Kramer desce aos subterrâneos da biblioteca, como quem percorre os subterrâneos da memória e do inconsciente, para buscar o livro e depois mostra o verdadeiro farol. E em meio a estas memória e a este vasto presente, vislumbramos um pouco do futuro, sintetizado no brinde de Doc ao imigrante português.




O tempo deste filme é múltiplo, o seu espaço é ao mesmo tempo preciso, delimitado e quase infinito, as pessoas que nele são mostradas são inumeráveis. Mas este filme ambiciosíssimo e de certa forma "experimental" (no cinema, quem já havia tentado uma experiência destas, nesta escala?) é tão denso e tão conseguido que o espectador se esquece de imediato deste aspecto experimental. Imersos na viagem, vemos o retrato colectivo de um mundo e a intensidade que está por trás das vidas de cada uma das pessoas que encontramos pelo caminho. Mas a principal pessoa que conhecemos nesta viagem é o próprio Robert Kramer que fez um filme de certa forma nostálgico e elegíaco, pleno de paisagens de Outono e de Inverno, mas cuja conclusão é aberta. Conta-nos Kramer: Route One/USA (...) foi proposto como um projecto em que não era possível saber à partida onde íamos parar, porque era uma autêntica viagem e numa verdadeira viagem o ponto de chegada não é conhecido.” Ao termo da viagem, ao termo do continente americano, ao invés de vermos Doc partir de novo pelo mar, desembocamos numa série de imagens abstractas. Um final enigmático, talvez a única conclusão possível para o périplo que fizemos através da Route 1 e de quatro horas e meia de cinema.


António Rodrigues in Folhas da Cinemateca

Catálogo O Olhar de Ulisses/ Resistência






Ciclo Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens


Outras Paisagens


Que paisagens nos reserva a acção combinada dos media? Outras paisagens? Sim. Mas que paisagens? O limite da intervenção dos novos media é justamente a ausência de limites porque neste território tudo é experimental. Aqui, o registo criativo é, simultaneamente, um registo de pesquisa gramatical. Da convergência e conflitualidade de várias linguagens resulta pois um peculiar modo de recriar quer o mundo sensorial, quer o mundo conceptual, abrindo-se as portas da percepção ao reconhecimento de lugares desconhecidos dentro do próprio homem e solicitando-se a inteligência intuitiva tanto como forma de racionalizar essa mesma experiência, quanto de inquirir sobre o seu destino. Outras paisagens: tão diversas quanto o seu campo de aproximação: do interior do corpo humano ao universo fabuloso das galáxias, do olhar sobre o tempo que passa à interrogação do tempo futuro.


Filme Concerto

Navigator (19249 de Buster Keaton/ música: Carlos Bica

31 de Outubro de 2001

Rivoli Teatro Municipal – Grande Auditório




Desde o primeiro dia em que um filme foi projectado que a música se encontra associada ao cinema. Quando Lumiére projectou um filme pela primeira vez usou-a para camuflar os ruídos e aumentar a carga emocional. Desde então vários foram os modelos usados dependendo na maior parte dos casos das capacidades musicais existentes nos locais e cidades onde os filmes eram projectados. No entanto, ficará para sempre associada ao cinema mudo a imagem do músico pianista, cujo bom desempenho dependia das suas capacidades de improvisar sobre as composicões, nem sempre existentes. A importância da música no cinema ganhou um maior relevo nos anos 50; só então o nome do compositor surgiu apresentado no ecrã. Enquanto que a música inicialmente apenas tinha a discreta função de acentuar o desenvolvimento dramático do filme, mais tarde foi usada como elemento por vezes quase provocatório, podendo o realizador através da música transmitir ao público tudo o que tinha ficado por dizer através das imagens ou palavras. Buster Keaton, conhecido pelo "The Great Stone Face", foi um mestre na arte de representar, assim como um excelente realizador. Keaton consegue transportar um enorme espectro de emoções através de mudancas minimalistas na expressão do seu rosto. Possuidor de uma enorme sensibilidade ele é capaz de nos transmitir um enorme espírito de paz, mesmo nas situações mais diabólicas em que se envolve. Tal como no filme O general o título do filme não se refere à personagem principal, mas sim a uma máquina, neste caso um tansatlântico. Keaton sempre teve uma grande paixão por complexas maquinarias, as quais sempre o fascinaram. Ele próprio disse um dia que se não tivesse sido desde sempre artista, que por certo teria vindo a ser engenheiro. Buster Keaton, como todos os grandes mestres das artes, jamais perderá actualidade. Para mais as fronteiras entre o absurdo e o sublime mais hoje do que nunca parecem ter deixado de existir. É com enorme entusiasmo que aceito este enorme desafio que me foi lançado de musicar um filme de Buster Keaton, de dar um salto no tempo e ir ao encontro de um criador que é um marco na história do cinema.

Carlos Bica


Participantes:


Carlos Bica – Contrabaixo

Frank Möbus – Guitarra

Frederico Serrano – Sampler

João Paulo Esteves da Silva - Piano




Instalações


20 de Outubro – 25 de Novembro – inauguração: dia 20 de Outubro às 16:00h

Artes em Partes/ Quarto da Maria

2ª a Sábado - Das 14:30h às 20:00h

Entrada Livre


Zone de Françoise Lavoie Pilote

Zone é uma instalação interactiva que conta a história de três mulheres da mesma família e de três gerações diferentes. Reunindo linguagens como a poesia, o filme e o vídeo, aborda a evolução dos valores, tais como a perda de tradições, a influência das origens, o significado da natureza e as suas marcas no nosso comportamento.





20 de Outubro – 25 de Novembro – inauguração: dia 20 de Outubro às 18:00h

Moagens Harmonia

Terça a Domingo – das 14:00h às 18:00h (encerra à 2ª feira)

Entrada Livre


To Leave and To Take de Irit Batsry

Cada visitante pode criar o seu próprio itinerário num espaço coberto por “mãos de arroz” - 6.000 luvas transparentes, cheias com 3.000 quilos de arroz – espalhadas no chão e empilhadas sob forma de trincheiras. Há várias projecções vídeo: numa delas, uma mão passa arroz de uma pilha para outra, o que transforma o espaço num local de transferência contínua; a outra projecção, mostra uma mulher na rua enquanto come, seguida de uma velha a moer constantemente uma substância que tenta deglutir. Estas cenas são apresentadas sem qualquer som, afastando-se ainda mais das realidades nas quais foram filmadas. Luzes direccionais fortes criam sombras das pilhas de luvas nas paredes, uma paisagem semelhante a uma aguarela chinesa, representando montanhas ao longe, envoltas em bruma. A sombra do visitante reflecte-se nesta paisagem virtual. Os 3.000 quilos de arroz utilizados nesta instalação, serão doados à AMI – Assistência Médica Internacional.




21 de Outubro – 11 de Novembro – inauguração: dia 21 de Outubro às 18:00h

Museu de Serralves – Capela

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Elle et la Voix de Catherine Ikam e Louis-François Fléri

A instalação consiste num encontro com uma personagem virtual. Elle existe apenas na memória do computador, é uma réplica numérica, dotada de modelos de comportamento. A presença e a deslocação dos visitantes no espaço, são analisados em tempo real e permitem uma interacção com Elle. Na ausência do visitante, Elle tem vida própria, aleatória. Entre vários visitantes, Elle escolhe e reserva o seu sorriso. Elle sorri apenas a quem quer.


26 de Outubro - 11 de Novembro – inauguração: dia 26 de Outubro às 18:00h

Museu de Serralves – Sala Multiusos

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Des Rives de Yann Beauvais ( som de Thomas Koener)

Consiste numa dupla projecção 16mm. Os dois ecrãs propõem vistas fragmentárias de Nova Iorque, com panorâmicas e travellings que criam tensões tornando impossível uma visão global da imagem de cada ecrã. O trabalho sonoro de Thomas Koener, propõe uma profundidade que, tal como na vertente visual de Yann Beauvais, não tem como efeito tornar as imagens mais realistas, mas mais real o espaço onde se circula.

27 de Outubro - 25 de Novembro – inauguração dia 27 de Outubro às 23:00h

Labirintho Bar Galeria

Todos os dias: das 22:00h às 04:00h

Entrada Livre


Palavra Desordem de Arnaldo Antunes

Instalação dividida em três áreas. Um hall com dez displays electrónicos que exibem frases diversas; uma sala com uma intervenção gráfico-poética, a sala está forrada de cartazes (espectáculos, papel de jornal ou propaganda política), simula o efeito causado pela deterioração dos cartazes nos muros e tapumes da cidade; uma outra sala, com sons de respiração ritmados, tem diversas frases projectadas por slides nas paredes. Estas frases esbatem-se gradualmente, dando lugar a outras que surgem com o acender também gradual da luz negra.


28 de Outubro – 11 de Novembro – inauguração: dia 28 de Outubro às 17:00h

Museu de Serralves – Sala Pequena

Terça a Domingo – das 10:00h às 19:00h (encerra à 2ª feira)


Invisible Shape of Things Past de Joachim Sauter

Esta instalação consiste em três peças distintas, nelas as sequências de filmes foram transformadas numa arquitectura de informação legível em 3D. Os visitantes podem navegar pelo tempo e espaço numa cidade virtual. Pretende-se com Invisible Shape of Things descobrir como pode a informação ser transformada em “objectos virtuais”, como podem tais objectos ser organizados num ambiente virtual, como podem os utilizadores navegar nestes mundos e como podem eles interagir com estes “objectos de informação”. Num passo final, os “objectos de filmes” virtuais são transformados em arquitectura real.


Conferências


27 de Outubro – Conferência e Projecção Vídeo

Auditório de Serralves

às 16:00h

These Are Not my Images por Irit Batsry


28 de Outubro

Auditório de Serralves

às 18:00h

Arquitectura da Informação no Espaço Real e Virtual por Joachim Sauter



Media Lounge


De 20 de Outubro a 4 de Novembro de 2001

Espaço Odisseia




O Espaço Odisseia - Media Lounge procurou oferecer um panorama alargado e multidisciplinar na área dos novos media albergando projectos experimentais no âmbito das imagens em movimento, da música, das artes performativas e do design, e utilizando as imagens num contexto não narrativo que terá algumas das suas origens no cinema experimental. Ao mesmo tempo, foi também um ponto de encontro e de lazer, assumindo funções lúdicas, com projectos que utilizaram sons mais dançáveis, percorrendo as diversas tendências da música de dança actual, servidos por vários DJ's e VJ's com créditos firmados no panorama português e internacional. Este espaço apresentou ainda uma selecção de trabalhos de cinema e vídeo do Resfestival, um festival itinerante e assumidamente experimental organizado pela Res Magazine, uma revista trimestral dedicada ao cinema electrónico e às novas tecnologias aplicadas às imagens em movimento.


Programação:


20 de Outubro 2001


DJ Spooky: Rebirth of a Nation (Performance Audio-Video) EUA.

DJ Spooky, mais conhecido por The Subliminal Kid, foi um dos primeiros DJ`s em Nova Iorque a reunir Hip-Hop, Ambient, Jungle, Experimental e Dub. A obra clássica de Griffith serviu de inspiração para a sua performance audio-vídeo.


DJ Stanton Warriors (Performance Audio) RU, Break Beat/Garage Two Step com VJ's Rui Toscano e Rui Valério (Performance Vídeo).




23 de Outubro 2001


Grace (Performance Audio-Vídeo), Portugal.


Rádio Residente by Álvaro Costa Residente (Performance Audio–Vídeo ) Portugal, apresentou uma performance usando como material visual e sonoro o DVD Icky Flix dos Residents, assim como, um texto original à volta do conceito de “residente”.


DJ Mighthy Truth (Performance Audio) RU, Acid Jazz/Trip-Hop, com VJ Nuno Olim (Performance Video).


24 de Outubro 2001


TDDY Para Poly (Performance Audio-Vídeo) França.


DJ Patrick Forge (Performance Audio), RU, Acid/Jazz, com VJ Nuno Olim (Performance Vídeo).


25 de Outubro 2001


D-Fuse Graphic and Motion Style/Angles of Incidence (Performance Audio-Video) RU. Combinam vídeo com projecção de slides que são colocados estrategicamente em locais com diferentes ângulos criando um “eco” das imagens, formando vários layers de luz.


26 de Outubro 2001


D-Fuse (Performance Audio-Vídeo).


Pressure Sounds Sound System (Performance Audio) com VJ Nervo (Performance Vídeo).


27 de Outubro 2021


Native Lab HYPERLINK "mailto:NativeLab@odisseia.2001"

NativeLab@odisseia.2001 (Performance Audio-Vídeo), Alemanha. Continuação de uma série de eventos dos Native Instruments, apresentando música produzida através do computador, sendo aplicada no contexto Club.


Dj Krafty Kuts (Performance Audio) com VJ Lab (Performance Vídeo).



30 de Outubro 2021


Naoism (Systemsoular) (Performance Audio-Vídeo) EUA. Em coloboração com o colectivo new media SystemSoular prepararam uma redefinição da performance audiovisual artística com recurso ao filme, vídeo, animação, instalações media-interactivas e várias outras aplicações.

Camping Gaz (Performance Audio) Espanha, Soul/ Funk/ Dub/ Disco com VJ's Budha e PTV (Performance Vídeo).



31 de Outubro 2021


Dub Video Connection (Performance Audio-Vídeo) apresentaram Advanced Formula.


Filipa Principe (Performance Audio) com VJ's Budha e PTV (Performance Video).


01 de Novembro 2021


Rafael Toral Sound Mind (Performance Audio-Vídeo), Portugal. Projecto solo de mistura ao vivo usando minidiscs e cds. Mais próximo de um set de DJ do que de um concerto. É uma viagem pelo universo sonoro de Rafarel Toral no âmbito Chill-out.


House Lab Houselab@odisseia.2001 (Performance Audio-Vídeo) Portugal. Grupo de trabalho composto por artistas, músicos e designers criado no âmbito da Experimentadesign, na sequência do projecto Houseware Experience. Exploração artística de novas tecnologias no campo da música electrónica, novos media, performance e instalações audio-visuais.


Oxman RU, Dub Reggae (Performance Audio) com VJ Dub Vídeo Connection (Performance Vídeo).




02 de Novembro 2001


Lazydog (Performance Audio) com VJ Dub Vídeo Connection (Performance Vídeo).



Programa Vídeo


RESfest / Odisseia 2001


Há cinco anos, a realização digital estava apenas no seu começo; os realizadores brincavam de forma hesitante com câmaras Minidv; e a Internet estava a começar a instalar-se. Agora, não só somos guiados numa imensa sociedade global de informação, mas também se modificou a cultura de criação de imagens na sua totalidade, o seu comércio e exibição.


Nos últimos cinco anos, desabrochou uma comunidade com elementos de todo o mundo, que apoia novas formas de contar histórias. Orgulhamo-nos de ter funcionado como um fórum para estas novas formas, e para tantos realizadores na esperança de partilhar as suas visões pessoais, globalmente.

Jonathan Wells

Director do Festival



RES 1 – Curtas Metragens


Desde o início, as curtas têm sido a base do RESfest. Nessa linha de continuidade da tradição da res foram programadas animações ligadas a narrativas de acção, bem como curtas metragens com um design surpreendente e concentradas em grafismos. Pela primeira vez, a programação foi tematicamente organizada, reflectindo algumas das tendências predominantes: projectos experimentais, concentrados e inseridos no programa do design. Finalmente, alguns realizadores de video clips mostraram as suas curtas metragens na secção do Clube dos Realizadores. Como sempre, as ferramentas utilizadas para realizar essas curtas metragens foram as mais diversas: fotocopiadoras, câmaras de filmar e programas de efeitos sofisticados. O que as une é a sua abrangente sensibilidade e a necessidade partilhada de ultrapassar a norma, de descobrir a magia de uma grande história, de um mundo inventado e, por vezes surreal, ou de descobrir, através do encantamento formal, uma ideia complexa que se exprime através do som e da imagem.


Blood: The Last Vampire Hiroyuki Kitakubo, Japão 2000

Extra: Kenishii Koji Morimoto, Japão 1995

Daft Punk: Harder, Better, Faster, Stronger Leiji Matsumoto, Japão 2001





RES 2 – Do Design


O Programa do Design ofereceu uma perspectiva ecléctica de ilustrações digitais em movimento. Ao contrário dos filmes de animação tradicional, estas evoluíram a partir do design e de aplicações de software 3d permitindo a mistura de textos, linhas e camadas de imagens, ou a exploração do espaço 3d. Os resultados vão desde explorações arquitecturais quase minimalistas até ao pandemónio gráfico influenciado pela Pop.


Desert H2ouse Joseph Kosinski, eua 2001

Fishmonkey Victor Lin, eua 2001

The Future of Gaming Johnny Hardstaff, ru 2001

The History of Gaming Johnny Hard-staff, ru 2000

Intersection Christopher Zimmermann (Topherz), eua 2000

No Words A.Tinguely, L.Faucherre, J.Tosatti, C.Haak, N.Gorce, eua 2001

Popular Machines Henrik Mauler, Alemanha 2001

rnd# (pt.1) 1) #06: Underworld 2) #67: Virus 3) #91: 51st State

Richard Fenwick, eua 2000

Under Skin Nick Veasy, ru 2001


Untitled: 002-Infinity eua 2001

Untitled: 002-Infinity

foi o segundo de uma série contínua de projectos digitais da divisão exp da Belief – no ano anterior fora exibido o projecto Untitled: 001-Darkness. Com esta instalação expandiu-se o número de artistas cooperantes (aqui apenas foram apresentados alguns dos trabalhos seleccionados a partir da série completa) mobilizados em torno do espaço lúdico de uma aventura hiperdinâmica. Filmagens em vídeo (antigas ou recentes), arte colectiva, elementos de design criados através do computador, tipografia e design de som entreligaram-se em emblemas obsessivamente complexos do tema da infinidade.


1 Modern Man Belief Exp

2 A to Z and Back Again Delapse

3 Into the Clear White Rick/Morris/Design

4 Infinite Space l+t=r

5 re: You are Iinvited to This Unification Neugit

6 A Lost in Space Production Lost in Space

7 Aparamitah Belief Exp

8 Replication Belief Exp

9 Infinite Life Jennifer Grey

10 Inner/Outer Spaces Blink.fx

11 etc. (Eternal Track Convergence) Static 2358

12 dsr Colourmovie

13 Infinity

14 Karaoke Trollbäck and Company



RES 3 – O Clube dos Realizadores




Muitos dos melhores realizadores de vídeos de música são também avaros guardiães de pequenas jóias que mantém escondidas nos armários. Tendo isso em conta, e para inaugurar o programa O Clube dos Realizadores, foi solicitado a alguns deles, participantes em anos anteriores na secção Cinema Electronica, que tornassem públicos esses filmes. O resultado foi um programa invulgar e intrigante. O público pôde, ainda, identificar algumas semelhanças entre filmes e vídeos mas, na maioria dos casos, foi confrontado com investidas inesperadas e originais.


La Lettre Michel Gondry, França 1998

Paperboys Mike Mills, eua 2000

Passenger on Board Simon Taylor of Tomato, ru 2000

Spiral Floria Sigismondi, eua 1998.



RES 4 – Cinema Electrónica


Cinema Electronica: a opulência visual do cinema e a alucinante estilização da electrónica fundiram-se neste programa. A selecção incluiu projectos de vários reincidentes no RESfest, tais como Shynola e Geoffroy de Crecy que regressou com uma sequela de olhar negro pelos bastidores do stand local de hamburguers do ano passado. Houve ainda insectos surreais, grupos de robots futuristas e múltiplas personagens de animação que habitam mundos virtuais. E, também, uma presença obsessiva do corpo, quer na veneração distraída das “modelos” stressadas, quer na reordenação perturbadora dos membros e torsos de músicos numa banda ou na clonagem digital escarnecente dos “corpos reais”.


Actionist Respoke: Mouse On Mars Til Obladen, Alemanha 2001

Aerodynamic: Daft Punk Leiji Matsumoto, Japão 2001-09-30

As Days Go By Rob Legatt, Leigh Marling, ru 2001

The Beamer: Spacer Run Wrake, ru 2001

Four Ton Mantis: Amon Tobin Floria Sigismondi, eua 2000

Italian Waffles: Mujaji Duncan Creamer e Sara Scott-Harper, Canadá, Holanda, eua 2001

Jazz Overload: Tino’s Video Squad Ben Strokes, eua 2001

Juxtaposed With You: Super Furry Animals Antoine Bardou-Jacquet, Ludovic Houplain, França 2001

Midfielding: Midfield General Stephen Mcgregor, ru 2000

19-2000: Gorillaz Jamie Hewlett, Peter Candeland, ru 2001

OI!: Orbital Paul Donnelon, ru 2001

Pyramid Song: Radiohead Shynola, ru 2001

Scratched: Etienne de Crecy Geoffroy de Crecy, França 2001

The Second Line Piero Frescobaldi e Ben Hibon, ru 2000

Some Kind of Kink: Red Snapper Richard Anthony, ru 2000

Weapon of Choice: Fatboy Slim Spike Jonze, eua 2001

Ya Mama: Fatboy Slim Traktor, ru 2001




RES 5 – Genéricos de Filmes


Os genéricos de abertura mais recentes e modernos são da responsabilidade da Design Films, uma organização não lucrativa concebida como veículo para os estudos da cultura dos media e dedicada a promover as artes do design digital. Por isso, esses trabalhos tiveram aqui grande visibilidade. Com forte representação da Alemanha, Irlanda, Espanha e Reino Unido, o programa apresentou uma grande variedade de design de genéricos, cuja distribuição tem estado praticamente ausente dos Estados Unidos, dada a posição dominante da indústria americana neste domínio. Esta mostra teve, aliás, o mérito de a par do trabalho de independentes dar também a ver genéricos criativos para a produção maisnstream com origem em Hollyhood. Igualmente muito significativa foi a presença de designers femininas. A maior parte dos trabalhos exibidos corresponde ao mundo das curtas metragens


Fast Fuck Sasha Fromeyer, Alemanha 2000

Bedazzled Imaginary Forces, eua 2000; Karin Fong, director artístico e realizador; Rafael Macho, Jeff Jankens e Peggy Oei, designers

Hollow Man Picture Mill, eua 2000; William Lebeda, director artístico; William Lebeda e David Hutchins, designers

Pressing The Flesh Image Now, Irlanda 2001; Andy Nixon, director artístico; Nick Ryan, designer

Hedwig and The Angry Inch Bureau, eua 2001; Marlene Mccarty, director artístico; Andy Capelli, designer

Mädchen, Mädchen Darius Ghanai, Alemanha 2001

Tape Eyeball nyc, eua 2001; Limore Shur, director criativo

The Talented Mr.Ripley Deborah Ross, eua 2000

Nick Knatterton: The Film Ralf Lobeck & Elke Tholen, Alemanha 2000; Elke Tholen e Ralf Lobek, directores artísticos; Marcus Rosenmueller, realizador

Along Came a Spider Imaginary Forces, eua 2001; Michael Riley, director artístico e realizador; David Clayton, Matt Tragesser e Steve Pacheco, designers

Big Momma’s House New Wave Entertainment, eua 2000; Scott Williams, director criativo; John Friday, designer

Shaft Balsmeyer & Everett, eua 2000; Randy Balsmeyer e Gray Miller, designers; Randy Balsmeyer, realizador

Here Imaginary Forces, eua 2000; Karin Fong, director artístico e designer

Sugar & Spice Bird Design, eua 2000; Peter King Robbins e Brad Johnson, directores artísticos

Monsoon Wedding Trollbäck & Company, eua/India 2001; Nicole Amato, Laurent Fauchere, Christian Gaetgens, Chris Haak, Jasmin Jodry, Antonine Tinguely e Jakob Trollbäck, designers

Das Sams Darius Ghanai, Alemanha 2001

7 Days To Live Carsten Becker, eua 2000; Carsten Becker, director artístico; Colette Arimoto, designer

Hannibal Nick Livesey, ru 2001

Final Destination Carla Swanson, eua 2000; Carla Swanson, director artístico; Kaan Atilla, Matt Cullen e Carla Swanson, designers

No Such Thing Balsmeyer & Everett, eua 2001; Amit Sethi e Randy Balsmeyer, realizadores e designers

Cheaters Goodspot, eua 2001; James Stanek, designer; Rick Probst, director criativo

Get Carter Picture Mill, eua 2000: James Stanek, designer; Rick Probst, director criativo

Dogtown & Z-Boys Blind, eua 2000; Chris Do, director de design; Tom Koh, designer

Torrente 2 Misión en Marbella David Guaita, Espanha 2001; David Guaita e Felix Berges, designers; Santiago Segura, realização




Transmediale Programa Vídeo


Festival Transmediale (DIY – Do It Yourself)

Transformar em arte a dessacralização do computador, eis uma síntese possível para o Festival Transmediale 0.1. Utilizadores e hackers de todo o mundo, unidos no projecto de uma efectiva apropriação da tecnologia digital pelas pessoas comuns, conferem agora ao seu percurso o perfil de um movimento cultural. Em causa estão os sinais de uma cultura aberta baseada no uso irrestrito das funções do computador. O pc pode assim ser encarado enquanto estúdio musical electrónico, estação electrónica de rádio e televisão, estúdio de vídeo, explorador das ofertas da Net e, mais conceptualmente, modalidade de expansão da participação virtual em campos como a política, os negócios, a cultura ou os assuntos de sociedade. Em suma, o DIY – Do It Yourself não foi mais do que a abordagem do processo de democratização do acesso às novas tecnologias em moldes mais criativos e... menos controláveis.


Alphabet Dorion Berg, Canadá 1999

Lóuitil n’est pas toujours un marteau Sylvie Laliberté, Canadá 1999

Mind’s eye Oliver Whitehead, Finlandia

A girl bathing in the kitchen sink Pekka Niskanen, Finlandia 1999

R4 Michaela Schwentner, Áustria 2000

De Tuin (The garden) Dan Geesin/Esther Rots, Holanda 1999

Telling Lies Simon Ellis, ru 2000

Sarcophagus Zhel, Croácia 1999

Video Hacking Manuel Saiz, ru 1999

Course Jordan Crandall, eua 2000

Broadcast Istvan Kantor, Canadá 2000



Participantes:


Paul Miller a.k.a. Dj Spooky

Dominic Butler a.k.a Dj Stanton Warriors

Rui Toscano

Rui Valério


Grace:

Paulo Praça (voz, guitarra, loops)

Renato Dias (guitarra)

Miguel Barros (baixo)

Kinorm (bateria)

Cesário Alves (operador de imagem)

Paulo Américo (operador de imagem)

Mário Pereira (técnico de som)

Nuno Couto (técnico de som)


Álvaro Costa


Mighthy Truth:

Alexander Grey

Julian Bates


Nuno Olim


TDDY:

André Rangel

André Sier

Sérgio Soares

Peter Dekkens

Youri van Uffelen

Sylvain Delpech

Rubel Langdjik

Barry van Dijk


Patrick Forge


D-Fuse:

Michael Faulkner

Bernard Moss

Andrew Stiff

Daniel Faulkner


Peter Holdsworth a.k.a. DJ Pressure Sounds


Native Lab:

Patrick Stottrop

Leonard Lass

Jake Mandell

Klaus Voltmer

Alexander Potekhin

Richard Devine


Martin Reeves a.k.a. DJ Krafty Kuts


VJ's Lab:

Paulo Prazeres

Miguel Nogueira

João Pedro Gomes


Naoism:

Brian Ziffer

Jamie Lloyd


Camping Gaz:

Javier Vicente

Carlos Closa

Mikel Unzurrunzaga


José Sousa a.k.a. VJ Budha

João Pinto a.k.a. VJ PTV


Dub Video Connection:

João Carrilho

Tiago Nunes


Filipa Principe

Rafael Toral

Edward Brydson a.k.a. DJ Oxman


LazyDog:

Ben Watt

Jay Hannan





ANEXO 1



"O Olhar de Ulisses" em destaque nos Cahiers du Cinema


O site da prestigiada revista francesa «Cahiers du Cinema» dedica uma destacada informação ao último módulo de «O Olhar de Ulisses», intitulado «Resistência», que no próximo dia 26 de Outubro tem início no Porto, no âmbito da Capital Europeia da Cultura. Os «Cahiers» reproduzem na íntegra um dos textos do catálogo, relacionado com o filme de Pedro Costa «Où git votre sourire enfoui», da autoria de Theirry Lounas. Como expressão da importância atribuída pelos «Cahiers» a «O Olhar de Ulisses», assinale-se a criação pela revista francesa de um link contendo a programação integral desta iniciativa do Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001.


«Où git votre sourire enfoui» é um filme sobre o cinema. Mais concretamente, sobre a montagem de uma terceira versão de «Sicilia» de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet, perante os alunos do Studio National des Arts Contemporains de Fresnoy. O filme terá a sua ante-estreia pelas 21H30 de 28 de Outubro, no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, ocasião que estará presente o realizador.


No texto do catálogo de «O Olhar de Ulisses», um volume com o total de 398 páginas, o crítico Thierry Lounas descreve as circunstâncias do projecto de Pedro Costa e das reticências do casal Straub em aceitar que do seu trabalho com os alunos de Fresnoy ficasse um registo documental. «Num primeiro momento, os Straub preferiam que não se fizesse o filme. Não queriam um documento oficial» conta Lounas, explicando que «do seu ponto de vista isso equivalia a deixar traços, era uma manifestação de vaidade, quando os únicos vestígios admissíveis eram os seus próprios filmes». Em segundo lugar, prossegue o autor de «Notas sobre «”Où git votre sourire enfoui”», havia aquilo a que chama «o temor do alibi cultural: parecia mais lucrativo para o canal de televisão ARTE produzir um filme sobre eles do que apoiar ou comprar os seus próprios filmes. Finalmente, a exiguidade da sala de montagem do Fresnoy tornava difícil a presença de uma equipa de filmagens, mesmo que reduzida».


Sem um «não» renitente, mas também sem um «sim» formal, Pedro Costa acabou por entrar naquela espécie de templo criativo do próprio cinema. Para construir não um documentário mas, na expressão do crítico francês, «uma tensão; em cada um dos seus planos, o cinema hesita, contradiz-se e restabelece-se entre a maravilhosa eficácia do cinema clássico e a intensidade formal de um cinema mais experimental». Na opinião de Thierry Lounas, «o que aqui se procura não é a fluidez nem a legibilidade da montagem. É perfeitamente natural então que o espectáculo dos cineastas no trabalho tenha também algo de hermético. Depois, pouco a pouco, adaptamo-nos. Preenchem-se os vazios, habituamo-nos ao implícito do pequeno teatro. Os movimentos, o ritual, tornam-se familiares: trabalho de pesquisa, assistência silenciosa, depois cerimónia do corte por Danièle Huillet, de luvas, enquanto Jean-Marie Straub, que abandonou a sala, anda de um lado para o outro no corredor(...)».


Le Fresnoy uma escola enorme, de arquitectura contemporânea, situada na cintura industrial de Lille, é «um local frio e fantasmagórico. A rodagem começa com uma equipa reduzida (...) A sala não é grande, os alunos ocupam-na quase toda. Está escuro. Felizmente um candeeiro de mesa acende-se automaticamente quando a película deixa de correr, o que dá ao filme estes relâmpagos de luz. Costa resolveu colocar-se por detrás de Jean-Marie Straub, enquanto a segunda câmara foi colocada do outro lado, mais perto da porta, para não perturbar os alunos e enquadrar o vai e vem de Jean-Marie».


Assim se passa «Où git votre sourire enfoui», um filme sobre o cinema, em que Pedro Costa «faz o enquadramento, fixa, compõe o seu plano, ilumina, mas o menos possível, para não incomodar, conhece cada vez melhor a "mise-en-scène" do lugar e tenta antecipar o esquema da montagem, pensa nos diversos ângulos, não esquece os "pequenos planos", não salta para as situações mais "picantes", aceita perder muito para não sabotar o que filma. É um pouco a ciné-transe de Jean Rouch».


Ao longo dos seus 95 minutos de duração, o cineasta português produziu um filme, ou um documento? Que lugar para a palavra “maldita” «documentário»?, um tema recorrente no debate mantido ao longo de todo «O Olhar de Ulisses», neste como nos seus primeiros três andamentos. Uma boa entrada na discussão é, portanto, o site dos Cahiers du Cinema, onde, ao fazer «clique» sobre o canto inferior direito se acede a este possível hall de entrada no mundo de Pedro Costa, do casal Straub e, posto isto, num link dos «Cahiers»inserido no próprio texto, à programação completa (em língua francesa) de «Resistência», o último acto de «O Olhar de Ulisses».


ANEXO 2



Duzentos Filmes Depois

"O Olhar de Ulisses" em Festa


«Fim», um filme de nove minutos a preto e branco, do arménio Artavazd Pelechian, abre o último dia do módulo final de «O Olhar de Ulisses», subordinado ao tema «Resistência», organizado com o apoio da Cinemateca Portuguesa, pelo Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura e que culmina, depois da exibição de cerca de 200 filmes, num ambiente de festa.


Este último dia, definido como «menos denso» pelos programadores, tem como pontos altos as participações do realizador Jean-André Fieschi, que foi também um dos principais críticos dos «Cahiers du Cinema». Fieschi falará sobre Jacques Tati, com quem manteve um relacionamento privilegiado, no âmbito dos cursos da Escola de Francesa de Cinema. De Tati será, aliás, exibido «Trafic», um filme de 1971, que passa às 17H30 no Pequeno Auditório, abrindo o debate com Fieschi.


Os debates a seguir às projecções constituíram, de resto, uma das grandes marcas de «O Olhar de Ulisses», prolongando-se, com frequência, muito para lá dos horários previstos. Neste último dia assinala-se a presença do presidente da Cinemateca Portuguesa, João Bénard da Costa.


No âmbito do cinema português, o programa deste último dia contempla a projecção de «Ana», um filme de 1992, realizado por António Reis e Margarida Cardoso (na sessão de abertura da tarde, após «Fim» de Pelechian. A seguir, será passado «En Rachânchant», uma curta metragem de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet.


A noite terá como epílogo uma especial homenagem ao cinema. O filme escolhido para encerrar o longo caminho de «O Olhar de Ulisses» é «Limelight» («Luzes da Ribalta») de Chaplin. A película, realizada em 1952, com o próprio Chaplin no protagonista, Claire Boom, Sydney Chaplin, Norman Lloyd, Buster Keaton, Marjorie Bennett, Wheeler Dryden, Nigel Bruce, Barry Bernard, Leonard Mudie e Snub Pollard, entre outros.


«Resistência», o módulo final de «O Olhar de Ulisses», recorde-se, foi antecedido por três outros andamentos: «O Homem e a Câmara», «A Utopia do Real» e «O Som e a Fúria», constituindo um dos mais saudados eventos da programação da Capital Europeia da Cultura. Tanto pela crítica, que lhe consagrou um importante e destacado espaço, quanto pelo número de espectadores que, numa primeira estimativa, respeitante à primeira metade deste acto final, conheceu um incremento da ordem dos cem por cento.


ANEXO 3




Zone- Instalação


Zona é a primeira instalação multimédia interactiva de Françoise Lavoie-Pilote. Reúne várias linguagens como a poesia, o filme e o vídeo, integrando a participação do espectador. No seu trabalho, Pilote tenta descobrir uma nova forma de contar uma história “computorizada” utilizando os instrumentos disponíveis nas novas tecnologias. Estamos na presença de um guião muito complexo que conduz a percursos de leitura diferentes e simultâneos.


Zona conta a história de três mulheres da mesma família e de três gerações diferentes. A autora aborda a evolução dos valores, tais como a perda de tradições, a influência das origens, o significado da natureza, e as suas marcas no nosso comportamento. Em Zone é visível um importante trabalho de encenação e integração que revela uma hierarquia de estruturas nas quais se inserem histórias sonoras e visuais.


Esta instalação multimédia interactiva convida o espectador a percorrer a história ao seu próprio ritmo, através de um rato, e a mergulhar num universo onírico e intemporal.


Françoise Lavoie-Pilote nasceu em Roberval em 1974 e vive e trabalha em Montréal. Concluiu o bacharelato em Estudos Franceses e Cinematográficos naUniversidade de Montréal em 1996. Em seguida, inscreveu-se no Programa de Mestrado em Multimédia e Novas Tecnologias na UQAM. Zona é o seu projecto de dissertação.


Andrée Duchaine tem trabalhado no meio das artes visuais desde 1973. Organizou Video 84, o primeiro evento internacional de vídeo de Montréal. Em 1985 instalou-se em Paris onde tem promovido e difundido filmes de curta-metragem em canais televisivos de todo o mundo. Actualmente trabalha num importante projecto que decorrerá em 2004 e que terá 3 componentes: uma exposição que ilustra a história das artes mediáticas no Québec, uma publicação e um CD-ROM.


Navegando no Interior da Poesia Digital

Andrée Duchaine

Conservador e Director do Groupe Molior


Enquanto estudava Estudos Franceses e Cinematográficos na Universidade de Montréal, Françoise Lavoie-Pilote inscreveu-se num curso cinematográfico ministrado por Cristina Nicolae. Durante quase um ano e meio, Nicolae iniciou a sua aluna nos domínios da análise cinematográfica e redacção de guiões. Foi durante este período que Lavoie-Pilote descobriu a poesia.


Depois de terminados os estudos universitários, inscreveu-se num curso de comunicação na UQÀM. Ao longo de um ano, realizou vários trabalhos, entre os quais um vídeo intitulado Labirinthe, que foi distinguido com uma menção especial na categoria de “filme experimental” no Festival Mundial de Cinema. Apesar de o seu trabalho ter sido reconhecido, não ficou satisfeita com a estrutura de distribuição. No entanto, descobriu no vídeo uma luminosidade e espontaneidade que o cinema não lhe proporcionava.


Para poder interligar a sua poesia com outros processos, Lavoie-Pilote inscreveu-se no Programa de Mestrado em Multimédia. Foi no âmbito deste programa que deu início à criação de Zona. O projecto foi desenvolvido ao longo de um período de dois anos e incluiu produção, redacção de textos e versões sonoras e visuais.


Tal como um objecto de análise, a riqueza de Zona manifesta-se na forma como explora as várias linguagens e a temporização. Para ilustrar como o acto de comunicação é totalmente conseguido nesta produção multimédia interactiva, descrevemos em poucas palavras o processo de sincretização, i.e. o processo pelo qual são integradas as várias linguagens.


Ao combinar várias linguagens como a literatura, cinema, vídeo e música, Zona pode já ser considerada como um objecto sincrético. Além disso, traz à cena não apenas várias linguagens, mas também as capacidades do espectador/interveniente. E se cada linguagem tem o seu próprio programa narrativo é lógico integrar o programa narrativo do interveniente como uma linguagem distinta. Em multimédia interactiva é necessário dois intervenientes para comunicarem.


Poesia: Ponto de Partida


“País onde a águaviva se retira por vezes para os grandes espaços onde os singnatídeos imóveis cativam freneticamente com as suas canções. Terra onde as primeiras neves impõem o silêncio aos coleópteros. Solo onde o frio conspira muitas vezes ao largo do transatlântico. Nesta terra, arde a lenha do lavrador enquanto nos cristais corre a saliva verde do vagabundo.


A quilómetros de distância, para sul, os seres humanos fecham-se e lisonjeiam-se uns aos outros enquanto as chaves de ferro são gravadas para imprimir qualquer coisa—sons staccato irreversíveis”.


Os programas narrativos possuem uma hierarquia que funciona como um princípio organizador na produção do significado. Lavoie-Pilote privilegia a poesia. As histórias em prosa—bem fundamentadas, interligadas e repetidas—são contadas por três mulheres, de três gerações diferentes. A estrutura do programa narrativo literário (visual e sonoro com música) é representado em termos de relações contraditórias que criam estruturas polémicas. Por exemplo, na narração, ouvem-se simultaneamente as vozes da criança e da mulher jovem e uma voz masculina. A criança usa frases curtas e simples contrastando com as frases complexas proferidas pela voz masculina. A repercussão suave da voz da criança contrasta com a voz seca, dura e ritmada. As histórias pessoais das mulheres carregadas de sonhos e desapontamentos confrontam com as histórias colectivas de grandes desastres mundiais.


A organização do programa narrativo literário deixa entrever a estrutura geral de Zona: uma estrutura de superfície articulada em termos de confrontações que, em grande medida, caracteriza a imaginação humana, e uma estrutura profunda que se refere ao discurso poético— uma estrutura abstracta semelhante aos programas utilizados em lógica e matemática.


É desta forma que as relações contraditórias e as estruturas polémicas foram desenvolvidas nos programas narrativos, gerando teias de interdependência entre elas. O programa narrativo visual está ligado e inter-relacionado com os programas literários e de som. O fórum central—espaço das histórias colectivas—está inter-relacionado com as histórias pessoais das mulheres. No exercício sincrético com prosa, as imagens foram manobradas e transformadas. Para tentar recrear este mundo de sonho foram usados gráficos realizados por computador, desfocagem, sobreposição, transparências, cores saturadas e contrastes. O ritmo lento das histórias de Anka confronta com o ritmo rápido das histórias colectivas, fazendo referência à passagem entre o sonho e a realidade. O programa narrativo sonoro apresenta também uma organização semelhante. O silêncio do campo opõe-se ao barulho da cidade, a monofonia à polifonia, as vozes invertidas às vozes metálicas, quase sempre sons electro-acústicos.


Programa Narrativo do Interveniente: Contexto sobre Texto


Se situarmos os programas narrativos literário, visual e sonoro a nível da expressão, o programa narrativo do interveniente conduz-nos ao nível da enunciação, i.e., a estrutura de comunicação. Então, o programa narrativo do interveniente, também chamado de performance, pressupõe implicitamente um outro, o da competência.A noção de competência dirige o interveniente directamente para a organização hierárquica do autor, onde o conhecimento individual lhe permitirá isolar o processo global de significação.


Em Zona encontramos dois tipos de interactividade: navegação e local. A interactividade de navegação permite ao interveniente viajar clicando no rato e a interactividade local dá acesso a uma espécie de “bricolage” sonora e visual. Ao mover o cursor pelo ecrã, as imagens afastam-se e aproximam-se, criando uma mistura de imagens. Os sons passam pelo mesmo tipo de tratamento, gerando uma polifonia ou monofonia de elementos sonoros. Os intervenientes podem produzir as suas próprias performances narrativas que sincretizam com o percurso programado pelo autor. Neste programa, as relações contraditórias e as estruturas polémicas transformam-se na procura de um tipo de equilíbrio contratual (ver diagrama).


Ao elaborar este programa narrativo, Lavoie-Pilote teve de conceber uma tipologia virtual—desde as atitudes do interveniente, como o consentimento e a obediência, até às estruturas contratuais— e evitar o tipo de relações forçadas presentes em outros programas. É uma tarefa enorme aquela que Zona tão bem alcança através da sua concepção—a mudança de posição do texto para o contexto e o seu incessante questionar “Eu penso ele pensa que eu penso...”


Por si só, os vários programas narrativos não participam na produção do significado e podem mesmo ser considerados como material rápido em comparação com o produto final. Lavoie-Pilote teve de avançar usando o método da tentativa e erro. Isto significou que quando o programa narrativo já se encontrava estabelecido (usando vários programas algorítmicos, elaborou programas virtuais que originalmente não se relacionavam uns com os outros), planeou os interfaces e realizou várias séries de operações lógicas que lhe permitiram convergir na direcção da produção de um todo. Ao longo da sequência, os intervenientes têm também de avançar pelo mesmo método da tentativa e erro para compreender o significado. Os seus movimentos transformam então um objecto sincrético num objecto com significado, e, ao fazer isto, revela-se a intencionalidade do seu autor.


Em Zona é visível uma encenação importante do processo de sincretização de várias linguagens. Lavoie-Pilote utiliza a poesia como uma unidade inicial de linguagem, que, uma vez sincretizada, produz um discurso poético. Navegamos no interior de um sistema de pensamento cujas componentes estão todas ligadas e inter-relacionadas umas com as outras, tanto do ponto de vista formal como conceptual. Françoise Lavoie-Pilote está manifestamente a trabalhar rumo a um tipo de escrita bastante própria.


Anexo 4



Instalação de Joachim Sauter na Odisseia nas Imagens

Um mundo em que real e virtual se (con)fundem


E se o virtual, subitamente, se tornasse mais real do que a realidade? Como se viaja no tempo? São os espaços aquilo que são, ou tudo quanto nos podem parecer serem? Podemos mover-nos num espaço tal que, a partir dele, seja possível tocar no tempo? Estas são apenas algumas das interrogações suscitadas pela instalação do criador alemão Joachim Sauter ambiguamente intitulada «Invisible Shape of Things Past» ou, «Forma Invisível de Coisas Passadas». A exibição decorrerá de 25 de Outubro a 11 de Novembro no foyer do Rivoli Teatro Municipal, no âmbito do festival «Outras Paisagens», dedicado ao futuro da intervenção dos novos media.


Este trabalho de Sauter consiste numa instalação interactiva que combina um “objecto de filme virtual com um modelo arquitectónico real. A partir de uma sequência rodada na Leipziger StraBe em 1941 e 1955, o novo objecto interactivo foi integrado exactamente no mesmo local, mas agora com a simulação no espaço real dos nossos dias. Aos visitantes é proposta a interacção com o objecto virtual.


O projecto, explica Sauter, «permite ao utilizador transformar sequências de filme em objectos virtuais interactivos». Uma transmutação baseada «em todos os parâmetros da máquina de filmar», isto é, «movimento, perspectiva, distância focal». Deste modo, «emerge uma arquitectura de informação que pode ser tratada interactivamente».


A par da criação deste estranho «banco de dados especial de material cinematográfico histórico e actual», o que também resultou de uma aplicação Web em que os utilizadores puderam integrar sequências suas de filmes como objectos na cidade de Berlim, foi a emergência «através destes objectos de filme» de «uma arquitectura urbana que anteriormente era invisível». Por aqui chegou Sauter ao conceito da «Forma Invisível de Coisas Passadas», que protagoniza a sua instalação no Porto.


Sauter, 1959, estudou na Escola Superior de Criação em Schwäbisch Gmünd, de onde passou, posteriormente, a exercer funções de Director de Arte em Francoforte e Nova Iorque. Mestre pela Escola Superior de Arte de Berlim, frequentou ainda nesta cidade a Academia de Cinema e Televisão. Premiado por filmes com o galardão Lisitzky da União Alemã de Artistas e do troféu Max Ophül para curtas metragens, Joachim Sauter dedicou-se, todavia, desde o início da sua actividade criadora ao computador como ferramenta de criação e meio de comunicação.


Neste âmbito, destaca-se como um dos mais laureados criadores e investigadores. Recebeu em 1992 e 97 o Interactive Award da Ars Electronica. Em 1995 recebe o Impact Award do Interactiv media Festivals Los Angeles. No ano seguinte é a vez do Prix Pixel INA e já em 2001 é distinguido com o Multimediaward alemão, bem como com o prémio alemão de design Dot Award of the Best.


Trabalhos seus cruzaram já os mais importantes espaços de exposição da especialidade. Desde a Ars Electronica, ao Museum for Contemporary Art de Sidney, passando pelo Musé d’ Art Moderne do Centro Geroge Pompidou, Paris. Outras capitais de eventos artísticos de vanguarda como Los angeles, ou Nagoya (Japão), Veneza, ou Amsterdão Tóquio e Bruxelas entre muitas outras.



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