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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

Atualizado: 20 de out. de 2023


Este texto e o próximo respeitam ainda ao módulo 4.0 da Odisseia nas Imagens intitulado Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens. Uma das características da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura foi a a diversidade sustentada pela qualidade das parcerias estabelecidas. Assegurar a participação e o envolvimento de estruturas fortemente enraizadas como os festivais de cinema, as universidades e outros estabelecimentos do ensino superior foi uma prioridade. Assim, a Odisseia nas Imagens apoiou e integrou múltiplas iniciativas de modo a construir um mosaico do qual fosse possível tirar partido de sinergias existentes.


Em 2001, o Cinanima organizado pela Cooperativa Nascente, de Espinho, comemorou o seu 25º aniversário. Concomitantemente, a Casa da Animação dava os seus primeiros passos. Daí a presença na fase final da Programação do Porto 2001 de um grande número de eventos ligados ao Cinema de Animação e aos seus autores. De igual modo, sendo esse um período coincidente com a abertura de um novo ano escolar, verificaram-se diversas acções de formação apoiadas pela Odisseia nas Imagens.


Pinocchio (1999) de Gianluigi Toccafondo.

Na próxima publicação, para concluir a parte dos módulos, far-se-á referência a O Choque das Imagens, outro segmento de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens, bem como à vertente competitiva da Odisseia nas Imagens, quer a nível profissional, quer das escolas. Mais adiante, finalmente, dar-se-á conta da apreciação crítica então feita da Programação, designadamente quanto ao cinema documental que era um dos vectores fundamentais.


Os cinco anexos que aqui se juntam no final, todos da autoria de Rui Pereira, respeitam à comunicação, em conferência de imprensa, da totalidade dos eventos de Como Salvar o Capitalismo/ Outras Paisagens.


Retrospectiva de Mercedes Gaspar

Casa da Animação

De 8 a 12 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Mercedes Gaspar: Licenciatura em Ciências da Informação (ramo de Imagem e Som), pela Universidade Complutense de Madrid; Licenciatura em Geografia e História, pela Universidad Nacional de Educacíon a Distancia (Espanha); Doutoramento em Imagem e Som, tese sobre “Outras técnicas de animação na década de 90 em Espanha”.

Outros estudos

Curso técnico, especialização em realização, pelo Instituto Oficial de Radio y Televisión.

Curso de dirección Escénica de Teatro, pela Real Escuela Superior de Arte Dramático.

Diploma em Solfejo e Piano, pelo Real Conservatorio de Música de Zaragoza.


Mercedes Gaspar. Fonte: Panorama Audiovisual

Filmografia (argumento e realização):


Su Primer Amor/ O Seu Primeiro Amor (1992, 15’, 35 mm)

Sabía que Vendrias/ Sabia que Virias (1992, 35 mm)

El Sueno de Adán/ O Sonho de Adão (1994, 8’, 35 mm)

Las Partes de Mí que Te Aman Son Seres Vacíos/ As Partes de Mim que te Amam São Seres Vazios (1995, 10’, 35 mm)

Escravos de Mi Poder/ Escravos do Meu Poder (1996, 10’, 35 mm)

El Sabor de la Comida de Lata/ O Sabor da Comida de Lata (1997, 6’, 35 mm)

El Derecho de las Patatas/ O Direito das Batatas (2001, 16’, 35 mm)


Workshop de Pixilação

De 8 a 12 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Orientado por Mercedes Gaspar


1ª Parte – Introdução à Pixilação

Características gerais da técnica de pixilação. O que é a pixilação? Como se executa? Quais as possibilidades. Os ritmos. As velocidades.

Animação de pessoas, de objectos, questões aliadas ao decor, luzes e câmara.

Combinação da pixilação com outras técnicas de animação: marionetas, plasticina, fotografias e desenho.

Comentários sobre as curtas metragens realizadas pela autora, uma explanação plano a plano, revela-nos como foram realizados, que efeitos foram utilizados, sistemas de animação, entre outros.

Debate com os formandos.


2ª Parte – Desenvolvimento Prático

Criação de planos em pixilação e combinação com outras técnicas.

Organização de grupos de trabalho para a realização de pequenas animações: com pessoas e marionetas, objectos e fotografias.


El Sueño de Adán (1994) de Mercedes Gaspar

Mostra dos Filmes de Mercedes Gaspar

De 12 a 14 de Outubro de 2001

Casa das Artes


Filmes Apresentados:


Su Primer Amor / O Seu Primeiro Amor (1992)

El Sueno de Adán / O Sonho de Adão (1994)

Las Partes de Mí que Te Aman Son Seres Vacíos / As Partes de Mim que te Amam São Seres Vazios (1995)

Esclavos de Mi Poder / Escravos do Meu Poder (1996)

El Sabor de la Comida de Lata / O Sabor da Comida de Lata (1997)

El Derecho de las Patatas / O Direito das Batatas (2001)


Workshop Novas Tecnologias na Criação Audiovisual

De 8 a 12 Outubro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Conteúdo Programático:


As novas tecnologias e o Audiovisual

Organização da produção

Criação de grupos de trabalho

O guião

O “Shooting Script”

A utilização do chroma key

A rodagem

A Pós-produção


Formador:

Joe Davidow


Alletsator - XPTO Kosmos 2001

11 a 13 de Outubro de 2001

Teatro Helena Sá e Costa


Projecto externo apoiado


João Paulo Costa. Fonte. Agente a Norte

Dentro de uma concepção de teatro experimental, este espectáculo pretendeu levar à cena uma estética literária ainda pouco explorada entre nós, a literatura cibernética (textos gerados por computador) – o ciberteatro. A conjugação de sete áreas artísticas no mesmo espectáculo, a coordenação dessas áreas por um encenador - João Paulo Costa - que ao longo do seu trabalho tem demonstrado a preocupação em propor novas linguagens teatrais, e a maturidade do autor do texto – Pedro Barbosa - foram os factores que levaram a Odisseia nas Imagens a apoiar esta jovem companhia em conjunto com as áreas do PCL e AM.


Participantes:


Alexandra Macedo

Angela Lopes

Armindo Araújo

Carlos Sílva

Cláudia Sousa

Claúdia Teixeira

Elisabete Pinto

Eloy Monteiro

Fernanda Alves

Inês Lamares

Isabel Queirós

Joana Pinho

João Lisboa

João Paulo Costa

João Paulo Fernandes

Leonor Afonso

Luís Baptista

Margarida Videira

Marina Freitas

Mário Loureiro

Miguel Pinheiro

Nuno Lucena

Pedro Almendra

Pedro Barbosa

Renato Seixas

Ricardo Santos

Sílvia Correia

Sílvia Marques

Sónia Correia

Sony

Tiago Oliveira

Virgílio Melo



Andrzej Kowalski. Fonte: LP - Ler o Mundo em Português


Workshop Produção de Documentários em África

De 5 a 7 de Novembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Formador:

Andrzej Kowalski


Cinanima

De 5 a 11 de Novembro de 2001

Centro Multimeios de Espinho


No âmbito do protocolo assinado com o Cinanima


O Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho é o único festival do género em Portugal. Ao longo dos anos foi criando um público fiel e dando a conhecer o que de melhor se faz por todo o mundo. É reconhecido como um dos grandes festivais do cinema de animação, tanto pelos profissionais, quanto pelas mais altas instâncias europeias e norte-americanas apoiantes da produção e difusão internacional de cinema de animação. No ano em que comemorou 20 anos, o Cinanima promoveu no âmbito da Odisseia nas Imagens dois programas: "O Cinema de Animação e a Música" e "O cinema de Animação e a Pintura". Aí se fez o retrato de grandes pintores e músicos por criadores de craveira internacional. Raoul Servais, o mestre belga da animação, a quem se chama "O Cineasta Pintor", foi uma das presenças. A Sociedade PORTO 2001 S.A. apoiou ainda a edição em CD-ROM da História da Animação em Portugal, no âmbito das comemorações dos 25 anos do Cinanima e atribuiu o Prémio Porto 2001 para o melhor filme de animação português em competição na 25ª edição do festival.


O Cinanima no Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura


25 Anos A Fazer Ver O Que Deve Ser Claramente Visto


O Cinema de Animação merece um pouco por todo o lado uma atenção crescente de quantos se ocupam da arte das imagens em movimento. Esse interesse tem em Portugal alguns rostos responsáveis, gente e instituições cuja actividade feita de amor e paixão, de bonomia e perseverança, contribuiu de forma decisiva para que hoje se possa falar de um trabalho de criação que reflecte uma particular visão do mundo em português, projectando positivamente a imagem do País além fronteiras onde, de resto, conhece uma notoriedade, infelizmente, ainda sem equivalência no plano nacional. Males antigos dir-se-á, que tanto resultam da permeabilidade ao discurso dominante do imediatismo, quanto de uma incapacidade peculiar de atribuir às coisas o lugar certo no momento certo e, como tal, de promover a lógica estruturante que sabe distinguir o nuclear do acessório. Destes males não pode ser acusado o Cinanima. Pelo contrário.


Na verdade, quando há vinte e cinco anos se lançou o Festival, muito mais do que o exercício lúdico que também foi essa iniciativa havia nos promotores uma enraizada ideia de contemporaneidade atenta a formas de dizer até então se não proscritas pelo menos silenciadas ou limitadas a uma circulação restrita e marginal. A Banda Desenhada ou o Cinema de Animação, por exemplo, ocupavam um território relativamente desqualificado ou, na melhor das hipóteses, confinado a um público infanto-juvenil considerado o destinatário natural de bens simbólicos supostamente mais acessíveis do ponto de vista da significação e elaboração artísticas. Mesmo à esquerda, entendida enquanto espaço de progresso e liberdade por oposição ao conservadorismo da direita, durante muito tempo prevaleceram concepções autorais radicadas em modelos do século XIX, cujas consequências resultaram em conclusões apressadas e, como tal, inadequadas ao ritmo e à compreensão das dinâmicas criativas emergentes. Basta recordar a frequência com que a BD ou a Animação foram sumariamente remetidas para a chamada cultura de massas e, por essa via, imediatamente desqualificadas.


Foi necessário um sobressalto democrático, que foi também um agitador no plano da criação artística, para que a situação evoluísse numa outra direcção. Esse sobressalto foi, evidentemente, a Revolução de Abril de 1974. O Cinanima também é, em larga medida, tributário desse acontecimento. Recordo-me do entusiasmo com que pioneiros como Vasco Granja e António Gaio, entre outros, se entregavam à tarefa de fazer crescer uma arte que há muito os seduzia e que, nessa altura, muito por mérito deles próprios, se encontrava numa fase explosiva de divulgação, afirmação e legitimação. Recordo-me dos jovens que acorriam a Espinho imbuídos de um forte espírito de descoberta e de quem o Cinanima viria a fazer notáveis criadores. Era e é, esse, afinal, o papel dos festivais: juntar as pessoas, estimular a imaginação, promover novos desafios, contribuir para orientar quer a produção, quer as políticas sectoriais do audiovisual sem as quais um pequeno país como Portugal corre o risco de sucumbir perante os grandes produtores globais.


António Gaio. Fonte: Museu Municipal de Espinho

O Cinanima está de parabéns. Se todo o seu percurso fazia dele à partida um dos parceiros estratégicos da Odisseia nas Imagens do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, integrando nomeadamente a sua Programação Oficial, os factos subsequentes só vieram confirmar a bondade das opções então tomadas. Na verdade, o Cinanima comemora os seus 25 anos exactamente no ano em que o Porto vai assistir à inauguração da sua Casa da Animação. E, em rigor, o percurso da Casa da Animação não principiou no momento em que a Filmógrafo apresentou o seu projecto à Sociedade Porto 2001, antes remonta ao tempo, há 25 anos, em que o seu principal animador, Abi Feijó, começou a frequentar o Cinanima. É esta função estruturante, feita de tempo e paciência, fazendo ver o que deve ser claramente visto, que releva a importância de um festival. Hoje pode afirmar-se sem receio de desmentido que o Cinanima é o grande responsável pelo salto em frente dado pelo Cinema português de Animação, atestado por um número invulgar de prémios e distinções atribuídos um pouco por todo o mundo. Parabéns, pois, para o Cinanima.


Mas as felicitações devem ser extensivas à cidade de Espinho. Se é certo que o festival contribui para colocá-la no mapa dos eventos culturais europeus, não é menos verdade que, ao dar o seu apoio ao Cinanima da forma como o tem feito, Espinho reforça o papel inovador e pioneiro de ter sido uma das primeiras, se não a primeira cidade portuguesa a compreender o papel e a importância de iniciativas cujas consequências repercutem em profundidade em áreas vitais para a cultura e a identidade de um País, como é o caso do Audiovisual.

Jorge Campos



Lançamento do Livro A História do Cinema de Animação em Portugal

10 de Novembro de 2001

Centro Multimeios de Espinho


Participantes:

António Gaio

Rui Zink

Jorge Campos



Lançamento do CD-ROM A História do Cinema de Animação em Portugal

22 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


Participantes:

António Gaio

Jorge Campos


Simpósio Arte & Animação

Casa da Animação

De 15 Novembro a 10 Dezembro de 2001

Casa das Artes e Rivoli Teatro Municipal

Evento comissariado por Jayne Pilling.


Muitas vezes se tem dito que a Animação é a combinação das outras Artes, o casamento da Imagem – Desenho, Pintura, Fotografia, entre outras– com o Som – Música, Voz ou Efeitos – sob a forma de representação dramática.


Este Simpósio pretendeu evidenciar as fascinantes pontes que se podem estabelecer entre a Animação e as outras formas de Arte – através de uma mostra de Curtas Metragens de Animação (que espelham esta realidade), uma Exposição e um Simpósio Internacional no qual Críticos e Teóricos da Arte e do Cinema, Artistas e Realizadores foram convidados a apresentar e debater os seus trabalhos dentro deste contexto, envolvendo e dialogando com a audiência.


Jayne Pilling. Fonte: Animation World Network

Exposição

De 15 de Novembro a 10 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


A maior parte dos Realizadores de Animação tem uma formação em Belas Artes e é evidente o prazer e entusiasmo que sentem por dar vida às imagens. Aliás, entre a Animação e a Arte Moderna existiu sempre uma relação de intimidade, tanto em termos históricos como contemporâneos. Nesta exposição estiveram presentes obras de Lejf Marcussen, Florence Miailhe, Erica Russell, Gianluigi Toccafondo, e um ensaio fotográfico sobre Alexandre Alexeieff.


Performances

Dia 22, 23 e 24 de Novembro de 2001

Casa das Artes e Rivoli Teatro Municipal – Café Concerto


Muitos Animadores e Realizadores acabaram por se envolver com outras formas de Arte, elevando o cinema de animação a novas dimensões: Pierre Hébert improvisou um filme de animação gravando directamente na película, contando com a colaboração de Carlos Bica, músico de jazz Português; a animadora que se tornou bailarina, Kathy Rose, desenvolveu alguns excertos das suas coreografias interagindo com projecções dos seus filmes de animação; Paul de Nooijer, um aclamado fotógrafo Holandês, e Menno de Nooijer (seu filho), que passaram da imagem fixa para as imagens em movimento e realizam filmes e em conjunto, fizeram um espectáculo de artes performativas.


Ciclo de Conferências

De 22 a 24 de Novembro de 2001

Casa das Artes


Regina Pessoa. Fonte Notícias U.Porto

Ao longo das conferências foram debatidos os trabalhos em exposição, bem como as performances, incluindo ainda apresentações de Críticos e Teóricos da Arte e do Cinema sobre as noções de Performance, Animação, Pré-História do Cinema; as relações entre a Escultura, o Espaço Tridimensional e a Animação; noções de Arte Absoluta; Fotografia, Dança e Movimento; Surrealismo; Linha, Cor e Forma na Arte e na Animação. Para apresentar e discutir estes assuntos estiveram presentes: Marina Estela Graça, Portugal (Professora na Universidade do Algarve, escreve sobre a Estética da Animação e acaba de realizar o seu primeiro filme de Animação: Interstícios), Pierre Hébert, Canadá (Realizador e um fascinante Pensador e Teórico da Animação), Solveig von Kleist, Alemanha (Realizadora, Pintora), Paul & Menno de Nooijer, Holanda (Paul é um Fotógrafo reconhecido internacionalmente que evoluiu de um trabalho comercial para uma forma extremamente pessoal de realização e que agora trabalha muitas vezes em colaboração com o seu filho Menno), Lejf Marcussen, Dinamarca (Realizador), Florence Miailhe, França (Realizadora, chegou à Animação a partir do seu trabalho de Pintura), Mike O’Pray, Reino Unido (Crítico, escreve sobre Arte, Cinema e História), Regina Pessoa, Portugal (Realizadora), Pedro Serrazina, Portugal (Realizador e Professor), José Miguel Ribeiro, Portugal (Realizador), Kathy Rose, EUA (Coreógrafa, Bailarina e Realizadora); Erica Russell, Reino Unido (Realizadora), Dominique Willoughby, França (Realizador e Professor), Kirsten Winter, Alemanha (Realizadora, Professora no Colégio Superior de Educação de Hanover).


Solveig Von Kleist. Fonte: Nantes Maville
José Miguel Ribeiro. Fonte: Mubi
Florence Miailhe. Fonte: Festival d’Annecy

Workshop de Pintura Animada

De 26 a 30 de Novembro de 2001

Casa Tait


Para além de participar nas apresentações do simpósio e de expor as suas obras, Florence Miailhe orientou ainda um workshop sobre a técnica que tem desenvolvido nos seus filmes – a Pintura a pastel animada directamente sob a câmara. Este workshop, de 40 horas, dirigiu-se essencialmente a Animadores e a estudantes das Escolas de Arte, Audiovisuais e Tecnologias da Comunicação com conhecimentos ao nível da Animação. As inscrições foram limitadas a doze participantes.


Mostra de Curtas Metragens de Animação

De 19 Novembro a 2 de Dezembro de 2001

Casa das Artes


Filmes Apresentados:


I. Programa Dança

Norman McLaren disse um dia “A coisa mais importante no Cinema de Animação é o Movimento. Não importa se estamos a mexer pessoas ou desenhos e também não importa de que forma o estamos a fazer, é sempre uma forma de Dança”.


Filmes e técnicas de animação inspirados ou representando a Dança.


Pas de Deux (1968) de Norman McLaren

Subida, de Kunyi Chen

Ere Méla Méla, de Daniel Wiroth

Belize Tropicana, de Sue Young

Bolero, de Mario Cavalli

Joie de Vivre, de Hoppin & Gross

La Pista, de Gianluigi Toccafondo & Simona Mulazzani

Pas de Deux, de Norman McLaren

Feet of Song, de Erica Russell

Au Premier Dimanche d’Août, de Florence Miailhe

Triangle, de Erica Russell


II. Programa Reconheces esta Imagem? Arte & Animação


Conjunto de filmes relacionados, mais ou menos directamente, com as correntes artísticas, momentos e acontecimentos da História da Arte e com a Iconografia Histórica, tais como a Anunciação e a Natividade.


Leonardo’s Diary (1972) de Jan Svankmajer

Heavy Stock, de Michael Slackened

The Public Voice, de Lejf Marcussen

The Secret Joy of Falling Angels, de Simon Pummell

Still Life With Small Cup, de Paul Bush

Leonardo’s Diary, de Jan Svankmajer

The Nativity, de Mikhail Aldashin

Dimensions of Dialogue, de Jan Svankmajer

III. Programa Música


Norman Mclaren disse um dia que se alguém fosse sensível à música e também tivesse talento artístico era mais do provável que viesse a interessar-se pela Animação.


Esta selecção ecléctica de filmes mostrou diversas experiências desde a “música visual” e a abstracção ao mais tradicional dos desenhos animados, incluindo a colaboração de McLaren com o músico de jazz Oscar Peterson.


Begone Dull Care (1950) de Norman McLaren/Evelyn Lambart

Lederkonkurrenz, de Lejf Marcussen

Tonespor, de Lejf Marcussen

Do Nothing Till You Hear From Me, de Pernilla Hindesfelt & Jonas Dahlbeck

Seaside Woman, de Oscar Grillo

Impromptu in a Minor, de Andrew Higgins

Slapstick, de Clive Walley

Amore Baciame, de Oliver Harrison

Winds and Changes, de Clive Walley

Nuit sur le Mont-Chauve, de Alexandre Alexeieff & Claire Parker

Mondlicht, de Barbel Neubauer

Clocks, de Kirstin Winters

Feurhaus, de Barbel Neubauer

Begone Dull Care, de Norman McLaren/Evelyn Lambart

My Babe Just Cares for Me, de Peter Lord


IV. Programa Linha, Pintura e Câmara


Um programa de filmes representando os aspectos gráficos da linha, pintura, pintura baseada em imagens reais manipuladas, pixilação e fotografias, trabalhos a pastel e lápis animados directamente sob a câmara.


Le Criminel (1993) de Gianluigi Toccafondo

Décadrages, de Vincent Brigode

The Cow, de Alexandre Petrov

Stressed, de Karen Kelly

Pinocchio, de Gianluigi Toccafondo

At One View, de Paul de Nooijer

Hammam, de Florence Miailhe

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Le Criminel, de Gianluigi Toccafondo

Die Kreuzung, de Raimund Krumme


V. Programa Juvenil


Um programa organizado a pensar numa audiência infantil, dedicado especialmente às escolas. Filmes sem diálogos escolhidos dentro de todos os programas deste simpósio (Dança; Arte & Animação; Música; Linha, Pintura e Câmara).


.Au Premier Dimanche d’août (2000) de Florence Miailhe

La Pista, de Gianluigi Toccafondo & Simona Mulazzani

Au Premier Dimanche d’août, de Florence Miailhe

Do nothing til you hear from me, de Pernilla Hindesfelt & Jonas Dahlbeck

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Subida, de Kunyi Chen

The Nativity, de Mikhail Aldashin

Die Kreuzung, de Raimund Krumme


Programa Itinerante

Compilação de oito curtas metragens de animação para itinerância durante dois anos pelo país.


At One View (1989) de Paul de Nooijer

Nuit sur le Mont-Chauve, de Alexandre Alexeieff & Claire Parker

Triangle, de Erica Russell

Die Kreuzung, de Raimund Krumme

L’Année du Daim, de Georges Schwitzgebel

Pinocchio, de Gianluigi Toccafondo

At One View, de Paul de Nooijer

Hammam, de Florence Miailhe

Still Life With Small Cup, de Paul Bush


Participantes:


Jayne Pilling

Marina Estela Graça

Pierre Hébert

Carlos Bica

Solveig von Kleist

Paul de Nooijer

Menno de Nooijer

Lejf Marcussen

Florence Miailhe

Mike O’Pray

Regina Pessoa

Pedro Serrazina

José Miguel Ribeiro

Kathy Rose

Erica Russell

Dominique Willoughby

Kirsten Winter


Workshop Problemas de Direito de Autor na Europa Comunitária

De 26 a 29 Novembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Conteúdo Programático:


A obra Audiovisual como obra protegida pela Legislação de Propriedade Intelectual;

Os Autores;

A Empresa de Produção;

O Produtor Audiovisual;

Os Actores e Interpretes;

Teoria geral dos Contratos.


Formador:

Cayetana Mulero


Workshop O Som para Cinema e Audiovisual

De 3 a 7 de Dezembro de 2001

Escola Superior Artística do Porto

No âmbito do protocolo assinado com a ESAP – Escola Superior Artística do Porto


Formador:

Bento Galante


Lançamento do Site Memórias do Trabalho

Projecto aprovado articulado com o Museu da Pessoa.

Universidade Popular do Porto

15 de Dezembro de 2001


Pós-Graduação Documentário: o Desafio do Real

Ano Lectivo 2001/2000

Faculdade de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto


Na sequência da oferta da Licenciatura em Jornalismo e Ciências da Comunicação a Universidade do Porto cria uma pós-graduação na área da Comunicação Audiovisual – Curso de Pós-Graduação Documentário: o desafio do real.


O novo curso tem como base o protocolo assinado pelas Faculdades de Letras, Engenharia, Belas-Artes e Economia e pretende articular uma formação em Ciências, Ciências Sociais, Ciências da Comunicação com uma formação tecnológica e artística. Propõe uma abordagem interdisciplinar com contributos das Ciências Sociais e da Comunicação, da Engenharia, das Ciências Exactas e das Artes. Desenvolve, também, parcerias com universidades estrangeiras, nomeadamente com a Universidade de Santiago de Compostela.


O Curso de Pós-Graduação O Documentário: o Desafio do Real é promovido pelo Curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação. Tem como principal objectivo a criação de uma especialização no documentário, uma modalidade discursiva em crescimento exponencial que urge promover em Portugal tendo em vista a sua projecção e visibilidade enquanto país produtor de bens simbólicos. Em função da segmentação televisiva, com a multiplicação de canais temáticos e especializados, o documentário, desde que corresponda a critérios de excelência do discurso, é um género que para além de viajar bem pode ser produzido com meios relativamente reduzidos, nomeadamente a partir de unidades de produção instaladas nas próprias universidades.


A Pós–Graduação associa uma componente teórica de reflexão analítica e crítica que interpela a sociedade, numa perspectiva sincrónica e diacrónica, apontando para a elaboração de projectos posteriormente disponíveis para concurso em termos da obtenção de financiamentos que possibilitem a sua concretização.


Objectivos do curso


Pensar o documentário

Fazer o documentário

Distribuir / Exibir o documentário


Componente teórica


História e Teoria do Documentário

45 horas / 3UC-12ECTS

Guião e Realização

30 horas / 2 C-8ECTS.

Produção

30 horas / 2 C-8ECTS.


Componente teórico prática


Odisseia nas Imagens

110 Horas / 5UC-20ECTS

Distribuição, Exibição e Direitos de Autor

22 Horas / 1 C-4ECTS


Muhammad Ali, The Greatest (1969) de William Klein

Odisseia nas Imagens


A componente teórico prática está articulada em torno do Festival Odisseia nas Imagens. Uma vez que nele participam alguns dos maiores especialistas da actualidade, ao mesmo tempo que se perspectiva a exibição de um notável conjunto de filmes documentais, o curso beneficia desta conjuntura excepcional e integra uma parte significativa do Festival. Fazem assim parte desta componente, nomeadamente: Retrospectiva de cinema documental e exposições de fotografia de William Klein, bem como a sua masterclass. Klein é não só um dos maiores fotógrafos do mundo, mas também um documentarista autor de vários filmes de culto como Muhamad Ali, the Greatest e Hollywood, a Loosers’ Opera. Masterclasses, entre outros, de: Nina Rosenblum, uma das grandes cineastas da América que projectará alguns dos seus principais filmes, nomeadamente o premiado Through the Wire; Javier Rioyo, um dos mais importantes documentaristas espanhóis cujo filme Asaltar los Cielos tem sido aclamado em todo o mundo; Brian Winston, jornalista, documentarista e professor universitário, um dos especialistas mais controversos da área do Cinema Documental, autor de diversas obras entra as quais Media: History and Technology considerado o melhor livro nos Estados Unidos em 1999; Albert Maysles, talvez a figura mais representativa do Cinema Directo e autor de documentários sobre numerosos artistas da Pop Rock, nomeadamente os Beatles e os Rolling Stones; Llorenç Soler, documentarista e professor universitário autor de uma vastíssima bibliografia no campo dos media e autor de filmes como Um Repórter no Inferno. A par das masterclasses, faz igualmente parte do curso o visionamento e análise de dezenas de obras, em rigor alguns dos melhores filmes alguma vez feitos. Assim, no sector competitivo do Festival estão a concurso a maioria dos filmes aos quais foram atribuídos grandes prémios nos principais festivais internacionais dos anos 2000/2001 o que dá uma visão global ímpar da melhor produção da actualidade. O ciclo O Olhar de Ulisses, por outro lado, proporciona o acesso aos grandes clássicos em sessões comentadas por realizadores, especialistas e críticos como José Manuel Costa, Gérard Collas, Olivier Smoulders, Pedro Costa, etc. Há ainda toda um segmento multimédia, onde se questionam as novas linguagens, bem como experiências relacionadas com a música e cinema no quadro de filmes-concerto e fórums para discussão sobre a centralidade da imagem no mundo contemporâneo e sobre a situação do documentário em todo o mundo. Toda esta componente será tutorada e objecto de avaliação. O calendário com as actividades elencadas no âmbito da Odisseia nas Imagens será atempadamente disponibilizado. Em todo o caso, este módulo tem carácter intensivo e implica disponibilidade de tempo no período compreendido entre 21 de Outubro e 3 de Novembro.


Os irmãos Maysles durante a rodagem de Gimme Shelter (1970)

Condições de abertura do Curso:


Número mínimo de candidatos inscritos: 20

Número máximo de candidatos admitidos: 25


Condições de acesso ao Curso:


Licenciados ou com habilitação legalmente equivalente; profissionais mediante a apresentação de currículo; estudantes finalistas de cursos de Jornalismo, Cinema e de Imagem e Som.


Critérios de Selecção:

Currículo Profissional

Currículo Académico

Currículo Científico

Entrevista


Duração 1 Semestre

Início previsto 19 de Outubro de 2001


Horário:

Intensivo e de ocupação integral de 19 de Outubro a 4 de Novembro. Pós-laboral centrado em dois ou três dias da semana, incluindo o Sábado, a partir de 5 de Novembro.


Local de funcionamento:

Odisseia nas Imagens (vários espaços da Programação)

Escola Superior de Jornalismo

Av. da Boavista 3067

4100 -136 Porto

Telefone 226172136 / 226172238

Fax 226103897

Informações, inscrições e candidatura:

Prazo de Candidatura: 15 Setembro a 15 de Outubro de 2001

Secretariado das Pós-graduações

Escola Superior de Jornalismo

Av. da Boavista 3067

4100 - 136 Porto

Telefone 226172136 / 226172238

Fax 226103897


Selecção dos candidatos:

6 – 13 de Outubro

Publicação dos resultados

14 de Outubro


Matrícula:

15 a 18 de Outubro de 2001

Serviços Académicos da FLUP – Pós-Graduações

Via Panorâmica s/n - 4100 Porto

D. Maria José Ferreira

Telefone 22607715

flsa@letras.up.pt



Seminário O Documentário

Ano Lectivo de 2001/2002

Curso de Imagem e Som da Universidade Católica Portuguesa do Porto


Em função da programação da Odisseia nas Imagens foi organizado, integrado no plano curricular do Curso de Imagem e Som da Universidade Católica do Porto, um seminário durante o qual se discutiram as vias do documentário, bem como a possibilidade da sua produção na cidade do Porto.

Orientação: Jorge Campos


(Continua)




ANEXO I


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (1)


«Cinema de grande qualidade e de grande espectáculo», foram as palavras utilizadas por Jorge Campos e Dario Oliveira, responsáveis pelo Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001 S.A. – Capital Europeia da Cultura, para definir o quarto e derradeiro módulo da «Odisseia nas Imagens» que no sábado tem início no Porto.


A iniciativa decorrerá em simultâneo distribuída por 16 espaços diferentes da cidade e constitui o «mais inovador festival» do seu género jamais realizado no nosso país. «Recomendamos que tirem férias durante duas semanas para poderem dedicar-se à Odisseia nas Imagens», disse Dario Oliveira, para sublinhar como o público estará perante «uma selecção única no primeiro festival organizado em Portugal que concentra e distribui de um modo racional um olhar sobre aquilo que é hoje em dia o panorama do audiovisual europeu e não só».


O festival será aberto pela performance de DJ Spooky «Birth of a Nation» inserida no ciclo «Como Salvar o Capitalismo» uma designação «irónica, provocatória e que resume o objectivo de reflectir como perante a aparente derrocada do mundo tal como o fomos conhecendo ao longo do último século, apenas parece restar uma coisa, o capitalismo», disse Jorge Campos. A actuação de DJ Spooky está prevista para a noite de sábado para domingo (20 para 21 de Outubro) pelas 24 horas no «Espaço Odisseia Media Lounge», na Rua Capitão Romero, nº 1, ao lado Museu do Carro Eléctrico.


O encerramento protocolar consistirá na imposição de uma Comenda à actriz Claudia Cardinale pelo Presidente da República. A sessão decorrerá na noite de 2 de Novembro, no Grande Auditório do Teatro Rivoli, onde será igualmente projectado «O Leopardo» de Visconti, considerado por Jorge Sampaio como o filme da sua vida.


Entre os participantes contar-se-ão ao longo do evento, para além da actriz italiana, diversas personalidades nacionais e estrangeiras ligadas ao cinema, mas não só. Durante as duas semanas da sua duração, estarão na «Odisseia nas Imagens 4.0» o fotógrafo e cineasta William Klein, (a quem é dedicada uma retrospectiva da sua obra de documentário), bem como o documentarista e analista dos media Brian Winston, ou ainda nomes relevantes do panorama cinematográfico e documentarístico internacional como Amir Labaki, Nina Rosenblum, Javier Rioyo, Llorenç Soller, Irit Batsry ou Joachim Sauter.


Presente para uma conferência intitulada «Propagandas Silenciosas» estará também o director do «Le Monde Diplomatique», Ignacio Ramonet. A sua participação inscreve-se no bloco intitulado «O Choque das Imagens», durante o qual serão projectados quatro documentários de grande impacto, «Turbulences» e «L’ Âge de la Performance» de Carole Poliquin e «Koyaanisqatsi» e «Powaqqatsy» de Godfrey Reggio.


O festival associa a exibição e o debate dos «caminhos do futuro do cinema com a noção do cinema de autor». A organização sublinha, neste último registo , a apresentação de «numerosos filmes de grande qualidade», desginadamente os integrados no quarto e último andamento de «O Olhar de Ulisses», intitulado «Resistência». A designação decorre do conceito central que preside à selecção de alguns dos grandes filmes da história do cinema, a saber, a ideia de reconstituir redes de relação e leitura entre os filmes de referência e as obras contemporâneas «que teimam em respeitar quem as vê». Fellini, Godard, Kurosawa, Boris Barnet, Nicholas Ray, Robert Bresson, ou os portugueses Pedro Costa e João César Monteiro, incluem-se entre os realizadores seleccionados para este ciclo realizado em contraciclo relativamente ao cinema dominante que desenvolveu a tendência para se tornar num jogo de vídeo, com o “visual” a tomar o lugar da “imagem”», segundo os seus organizadores.


My Generation (2000) de Barbara Kopple

ANEXO 2


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (2)


Explorar os limites do documentário é um dos objectivos da competição do I Festival do Documentário e Novos Media do Porto, uma das iniciativas do quarto e último bloco da «Odisseia nas Imagens» esta manhã apresentado oficialmente em conferência de imprensa pelos responsáveis pelo Departamento de Cinema e Audiovisuais da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.


Jorge Campos, responsável pela estrutura da programação, inscreveu o Festival e a sua secção competitiva no âmbito das «opções estratégicas» da Porto 2001 nesta área: «o documentário, o cinema de animação e as curtas metragens», salientando-se, nesta primeira edição, a «massiva inscrição de filmes portugueses».


Também a competição dedicada às escolas e resultante da colaboração iniciada há dois anos com instituições universitárias da cidade e da Galiza, no âmbito da «Odisseia nas Imagens», produziu resultados assinaláveis, com a afluência de mais de 80 obras, para um total inicialmente previsto de apenas 50. Estes originais encontram-se, neste momento, em fase de pré-selecção.


A competição profissional é aberta por «The Sea that Thinks», de Gert de Graaff, um documentário holandês recém-galardoado em Amesterdão com o Grande Prémio daquele que é provavelmente o mais importante festival dedicado ao documentário em todo o mundo. A par de grandes nomes do documentário internacional como Sokurov, Barbara Kopple, Chris Hegedus ou Gianikian / Ricci-Lucchi, assinalam os organizadores, será possível «partir à descoberta de autores nacionais e estrangeiros cujas primeiras obras criam fundadas expectativas.


Múltiplos temas serão equacionados pelos filmes em concurso, desde o estereótipo do negro nas telenovelas brasileiras, com «A Negação do Brasil», de Joel Zito Araújo, até «The Last Yugoslavian Football Team», de Vuk Janic,«uma metáfora da desagregação deste país» balcânico, passando por olhares à margem dos estereótipos predominantes sobre a História Contemporânea, como o lançado pelo documentarista espanhol Javier Rioyo, com «Extranjeros de Si Mismos».


Destacados na conferência de imprensa de hoje, dois outros filmes ilustram a qualidade e a diversidade do certame: «My Generation» de Barbara Kopple, cineasta dos Estados Unidos, considerada como uma das grandes documentaristas do nosso tempo, que nos revela, através das três edições do mítico festival de música de Woodstock , um «retrato negro e impiedoso da cultura norte americana dos últimos 40 anos»; e «Startup.com», de Chris Hegedus e Jeane Noujain, um filme que reflecte a revolução empresarial na Internet, num cenário bem mais perturbador do que aquele que os mais optimistas poderiam supor.


Num Festival «que se pretende do noroeste da Península Ibérica», apontou Jorge Campos, «é natural que exista uma grande presença portuguesa e espanhola». Esta primeira edição deve, aliás, estruturar os conteúdos futuros do Festival. E a sua importância reside no facto de «por toda a União Europeia, os festivais serem actualmente algo de estruturante na definição da política audiovisual». Pelo que os conteúdos do certame são encarados não apenas pelo seu valor facial de exibição nesta primeira edição, mas também pelo peso que irão ter na definição do que poderá vir a ser a produção cinematográfica nas áreas do documentário e da curta metragem da região norte de Portugal e da Península.


Pedro Costa, Inês de Medeiros (com a estreia absoluta do seu ««O Fato Completo, ou à Procura de Alberto»), Regina Guimarães e Saguenail, Catarina Alves Costa, Susana Sousa Dias e José Filipe Costa, são cineastas portugueses representados num festival presidido por um júri internacional de grande prestígio, constituído por Nina Rosenblum (EUA), Diego Mas Trelles (Argentina) e Amir Labaki (Brasil). A competição decorre no auditório da Casa das Artes, entre 26 de Outubro e 2 de Novembro.


Legenda. Irit Batsry. Fonte: Alchetron

ANEXO 3


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (3)


Um dos pontos fortes da «Odisseia nas Imagens 4.0», último módulo da programação de cinema e audiovisual da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, consiste na prospecção dos caminhos do futuro do cinema. A esta vertente é dedicado um conjunto de iniciativas agrupadas sob a designação genérica de «Outras Paisagens» onde «se mostrarão coisas arredadas do conceito normal de Festival de cinema», conforme definiu Dario Oliveira, um dos responsáveis pela programação, durante a conferência de imprensa destinada a apresentar o Festival, que esta manhã teve lugar na cidade do Porto.


Um conjunto de performances, instalações e apresentações de trabalhos e projectos de DJ’s e VJ’s nacionais e internacionais abre pistas para «explorar as novas modalidades de interpelação das imagens e dos moldes em que a gramática dos novos media nos interpela a nós», definiram os responsáveis pela iniciativa.


«To Leave and to Take» uma vídeo-instalação da autoria de Irit Batsry, com inauguração a 20 de Outubro pelas 18H00 nas Moagens Harmonia foi um dos exemplos fornecidos por Dario Oliveira, que designou o trabalho da cineasta como «uma experiência sensorial (e não só) de grande realce. Trata-se de uma “escultura” tridimensional inesquecível – prosseguiu Dario Oliveira- que mobiliza recursos tão diversos quanto a projecção vídeo, o uso da luz, do som e de três toneladas de arroz».


No âmbito de «Outras Paisagens» destaca-se a abertura de um espaço especial que funcionará todas as noites até às quatro horas da madrugada, acolhendo os projectos de DJ’s e VJ’s portugueses e internacionais. É um espaço mais orientado para as camadas jovens, do qual se espera, todavia, que possa «constituir o verdadeiro clube de cinema deste festival, um lugar onde se fale de cinema de uma maneira mais informal», disse Dario Oliveira. O «Espaço Odisseia – Media Lounge» situa-se no número 1 da Rua Capitão Romero, ao lado do Museu do Carro Eléctrico.


A organização destaca, nesta área particular, a colaboração empreendida com o «Transmediale», equivalente do «Media Lounge» no Festival de Cinema de Berlim, cujos mais destacados projectos estarão agora no Porto e também a cooperação desenvolvida com a revista norte-americana «RES», dedicada à cobertura do cinema documental especialmente na sua versão digital, cuja circulação ultrapassou já os Estados Unidos, para se ampliar progressivamente no âmbito europeu.


«Outras Paisagens» ilustrará, em resumo, aquilo que os responsáveis do cinema e audiovisual do Porto 2001 consideram ser a «segunda revolução no cinema desde o sonoro», representada pelo «uso noutros contextos das imagens em movimento, não narrativas, e que vão desde o mais lúdico ao mais experimental», aqui representados por três convidados portugueses e sete internacionais, cujos projectos serão apresentados ao longo das duas semanas do Festival em diversos pontos da cidade.


What’s Happening: The Beatles in USA (1964) dos irmãos Maysles

ANEXO 4


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (4)


Um conjunto de grandes filmes, alguns dos quais clássicos do mudo que inspiraram bandas sonoras originais compostas por encomenda da Sociedade Porto 2001 a compositores portugueses, que executarão ao vivo as suas obras durante as projecções, e ainda algumas ante-estreias e estreias absolutas no nosso país, compõem a ementa dos «Eventos Especiais» do último módulo da «Odisseia nas Imagens», I Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto. Entre estes acontecimentos, salienta-se a presença de William Klein, personagem mítica do mundo da fotografia e do documentário.


William Klein que na tarde de 25 de Outubro proferirá na Casa das Artes uma masterclass no âmbito da sua participação na «Odisseia nas Imagens 4.0» é já considerado como «a figura do Festival». Ao seu trabalho será dedicada uma retrospectiva incluindo toda a sua obra documental, que decorrerá na Casa das Artes entre 21 e 25 de Outubro, com projecções alternadamente às 18H30 e às 22H00, além de três exposições consagradas à sua obra fotográfica: «William Klein, irónico e devorador» (FNAC Santa Catarina de 20 de Outubro a 5 de Janeiro); «Mode in and Out» (entre as mesmas datas, mas na FNAC Norte Shopping – Foyer) e, por fim, na mesma loja mas, desta feita, na Galeria, com as mesmas datas, «William Klein – uma exposição de fotografias».


O último filme de Klein «o contestatário radical cujo glamour produz o efeito contrário ao que ele próprio pretende, detalhe que tem muito a ver com o próprio capitalismo», na definição de Jorge Campos, do Departamento de Cinema e Audiovisuais da Porto 2001, uma singularíssima leitura da oratória de Haendel, «Messias», será exibido em estreia em sala no nosso país, no Grande Auditório do Rivoli, pelas 22 horas do dia 22 de Outubro.


Uma estreia absoluta em Portugal é a película de João Botelho «Quem és tu», recentemente premiado em Itália e que consiste, basicamente, numa tradução cinematográfica contemporânea da pergunta chave de «Frei Luís de Sousa», de Garret. A sessão realiza-se a 29 de Outubro, às 22 horas, também no Grande Auditório do Rivoli.


Entre os filmes-concerto, contam-se «Life and Death of 9413: a Hollywood Extra» de Robert Florey, (1928), «Regen» de Joris Ivens, (1929) e «Un Chien Andalou» de Luis Buñuel (1929), a apresentar a 23 de Outubro, pelas 22 horas, no Auditório de Serralves, com música ao vivo do «Remix Ensemble» da Casa da Música. Sete dias depois, a 30 de Outubro, à mesma hora, mas no Grande Auditório do Rivoli será a vez de «Nosferatu» de Friedrich W. Murnau, (1922) exibido com música ao vivo dos «Clã». E, no dia seguinte, a 31 de Outubro, também pelas 22 horas, será a vez de «The Navigator» de Buster Keaton (1924) a ser projectado, desta feita com música do compositor Carlos Bica. «A Greve» de Eisenstein», musicado pelo compositor de jazz Pedro Guedes, será exibida a 3 de Novembro pelas 22 horas no Grande Auditório do Rivoli, coincidindo com a cerimónia de entrega dos prémios de Competição do Festival e o encerramento do ciclo Como Salvar o Capitalismo.


Outro dos destaques, vai para a abertura do último acto de «O Olhar de Ulisses», um ciclo intitulado «Resistência», a 26 de Outubro no Grande Auditório do Teatro Rivoli, com a exibição de «A Ilha das Flores» de Jorge Frutado e de «Dode’s Kaden», de Akira Kurosawa, uma obra central na filmografia do cineasta nipónico. Também particularmente recomendado pela organização é o documentário «Crazy», uma viagem extraordinária pelas experiências de guerra dos soldados holandeses ao serviço da ONU em várias pontos do mundo, que combina as imagens dos próprios oficiais no teatro de guerra com a música e as canções que permaneceram associadas à sua memória desses conflitos. Um segundo desfile, de Puccini a Elvis, de Pergolezzi a Patsy Cline. Grande Auditório do Rivoli, 22horas, 28 de Outubro.


O documentário «What’s Happening: The Beatles in USA», à data proibido pelos quatro de Liverpool, depois de visionarem o resultado do trabalho de Albert Maysles, o “pai” do «direct cinema» americano e «Gimme Shelter» acerca de e com os Rolling Stones em tourné, constituíram duas experiências marcantes em torno da imagem e da verdade. Ambos serão exibidos no Grande Auditório do Rivoli, pelas 22 horas de 1 de Novembro, naquele que é tido como mais um dos pontos altos da programação.


Ignacio Ramonet. Fonte: Radiocable.com

ANEXO 5


ODISSEIA NAS IMAGENS 4.0: COMO SALVAR O CAPITALISMO/ OUTRAS PAISAGENS


CONFERÊNCIA DE IMPRENSA (5)


A presença de um remarcável conjunto de individualidades do mundo académico e do cinema durante o I Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto foi esta manhã anunciada em conferência de imprensa de apresentação do último módulo da «Odisseia nas Imagens», iniciativa do Departamento de Cinema e Audiovisual da Sociedade Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.


Especialistas em estudo dos media e documentaristas de renome mundial assegurarão uma série de master classes subordinada ao título genérico «Como Salvar o Documentário», durante a qual serão enunciadas as diversas correntes teóricas e de pensamento em torno da interpelação do real pelas imagens.


Directamente associada a esta temática, equacionam-se os problemas da manipulação das imagens em conferências como as de Javier Rioyo, um dos principais documentaristas espanhóis da actualidade, que intitula a sua alocução inicial com o sugestivo «A mentira da verdade». Llorenç Soler, autor de uma vasta obra publicada sobre a temática dos media e perito no estudo das questões associadas à manipulação subordina a sua master class ao título «Do Homo Sapiens ao Homo Zappiens». Enquanto o fundador do Festival «É Tudo Verdade», do Rio de Janeiro e São Paulo, Emir Labaki falará sobre o «Cinéma Verité», o o utro lado da América será o objecto da conferência de Nina Rosenblum «All that is invisible must be made visible, else we perish in torture». A cineasta é uma das mais importantes documentaristas contemporâneas dos Estados Unidos.


O académico britânico Brian Winston, um dos mais controversos analistas dos media, da actualidade, dissecará, por seu lado, o dispositivo e as rotinas produtivas da Televisão enquanto factor de corrupção do género documental, numa masterclass que intitulou expressivamente: «Lies, Damn Lies & Documentaries». Todas estas sessões decorrerão durante a tarde, a partir das 14H30, nos auditórios da Casa das Artes, entre 26 de Outubro e 1 de Novembro, com entrada gratuita, mas sujeita à lotação das salas.


A todas estas, junta-se, no âmbito dos eventos especiais, a master class a proferir por William Klein, uma figura mítica do mundo da fotografia e do cinema, dia 25 de Outubro, pelas 16 horas, também na Casa das Artes, sessão durante a qual serão projectados dois filmes do realizador norte-americano residente em Paris: «Contacts», 1983 e «Hollywood California: a Loser’s Opera» (1977).


Todo este trabalho de teorização e discussão visa debater um dos tópicos fundamentais que presidem à realização e ao conceito de todo o Festival: «a defesa de determinado tipo de obra que é o olhar do documentário, contra a banalização da imagem pela fragmentária vulgata televisiva que hoje impera», definiu Joge Campos, um dos responsáveis pela iniciativa, durante a conferência de imprensa.


Em paralelo, desenvolver-se-á também na Casa das Artes, a 27 e 28 de Outubro e, posteriormente, a 8 de Novembro, um segundo bloco de discussão, organizado em colaboração com «Le Monde Diplomatique», sob o tema genérico «O Choque das Imagens». Paineis de individualidades nacionais e estrangeiras debaterão as «imagens Globais», os «Equilíbrios Instáveis» e as «Propagandas Silenciosas», título do mais recente livro do director do «Diplô», Ignacio Ramonet, que estará presente a 8 de Novembro, neste último debate, na Biblioteca Almeida Garret .


Os problemas da imagem e dos media estarão também patentes, embora noutro registo, numa exposição com uma selecção do melhor fotojornalismo dos últimos 15 anos premiado no Festival «Scoop» de Angers: um duro conjunto de fotografias que nos confronta com o mundo em que vivemos, intitulado «Imagens de Choque» e que estará patente ao público entre 21 de Outubro e 12 de Novembro no Foyer da loja FNAC no Norte Shopping.

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 15 de abr. de 2021
  • 15 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023


O período compreendido entre os anos 20 das vanguardas e o início da II Guerra Mundial foi um fascinante laboratório estético, no qual o Cinema ganhou especial relevância. Por várias razões, entre as quais, avulta a consciência do poder da imagem em movimento. São 30 anos que oscilam entre a euforia e a depressão, a reação e o progresso, a erosão dos impérios e o afrontamento de classes, o Fascismo e a Revolução. A América conheceu a Grande Depressão, o New Deal e o isolacionismo. Na Europa, após a assinatura do Tratado de Versalhes, assistiu-se à agudização da questão social, à consolidação do poder bolchevique e à ascensão de Mussolini e de Hitler. Se em Hollywood vingou o cinema de estúdio, na Europa, a par das grandes cinematografias escandinavas, alemã e francesa, constituiu-se um poderoso movimento documentarista, cujos polos principais foram a Inglaterra e a Rússia Soviética. Este movimento, sendo herdeiro não apenas do travelogue e de newsreels, mas também, e sobretudo, da tradição da vanguarda, lançou um debate em torno do qual se foi plasmando o essencial da Teoria do Documentário. A título de exemplo, vejam-se os textos de Vertov, Eisenstein, Grierson e Paul Rotha. De entre os documentaristas deste período nenhum terá tido um percurso individual tão indissociavelmente ligado aos caminhos do documentário e suas declinações quanto Joris Ivens.


Ernest Hemingway e Joris Ivens em Espanha durante a Guerra Civil. Fonte: Imgur

Ninguém como ele sentiu durante um período tão longo - estendeu-se, na verdade, até quase ao final do século XX - uma utopia no seio da qual estética e política, arte e mensagem colidiram, por vezes, de forma irreconciliável. Ivens foi, talvez, o mais acabado exemplo de um homem do seu tempo na justa medida em que tendo por ele sido influenciado sempre procurou agir aliando espírito de missão e compromisso artístico. Esse espírito não o levou, com efeito, a olhar cegamente sobre o que quer que fosse. Bem pelo contrário. Talvez por isso a sua viúva Marceline Loriden tenha resumido assim a circunstância de Ivens: “Joris chegou sempre antes dos outros”.


Hoje, de um modo geral, na avaliação dos seus filmes, a crítica parece sentir-se confortável com as suas primeiras obras, designadamente os estudos sobre o movimento e os filmes poéticos tributários da vanguarda artística, mas bastante mais desconfortável, ou até francamente hostil, em relação aos documentários posteriores de cunho mais marcadamente ideológico. Na verdade, Joris Ivens, tal como Vertov e Eisenstein - e tantos outros cineastas da época - era comunista. Mas tal como eles não foi um homem de cartilha, mesmo quando episodicamente pareceu resvalar para esse caminho como sucedeu na fase crítica da proclamação dos princípios do realismo socialista na União Soviética. Serge Daney, o lendário crítico francês idolatrado pelos ciné-fils, quando perguntado sobre o que era o documentário costumava responder com o título do livro clássico de André Bazin Qu’est-ce que le Cinéma? Faz sentido. Eu teria acrescentado: isso e Joris Ivens.


O documentário da utopia e a utopia do documentário


Nascido 18 de Novembro de 1898, em Nijmegen, uma pequena cidade da parte oriental da Holanda, filho de uma família da classe média bem sucedida, George Henri Anton Ivens, mais tarde Joris Ivens, estava destinado a uma educação que lhe permitisse um dia assumir a liderança do negócio de fotografia do pai, um homem de ideias liberais. O interesse do jovem Ivens pela política parece ter começado a manifestar-se após o termo da I Guerra Mundial. Alistado no exército holandês durante um curto período e cumprindo o serviço militar num posto próximo da fronteira belga onde os desertores alemães se apresentavam pedindo asilo, começou a desenvolver actividades cívicas após o posterior ingresso no curso de Economia em Roterdão onde fez parte da associação de estudantes. Ter-se-á apercebido então das grandes questões que agitavam o mundo.


Mas foi em Berlim, à época um verdadeiro laboratório de experiências no campo da arte e da política, que começou a interessar-se pelo cinema documental. Hans Schoots, autor de uma biografia de Ivens, Living Dangerously, afirma ter o futuro cineasta atravessado por essa altura uma fase “tremendamente confusa”, a qual culminou com o regresso à Holanda para um retiro no campo durante cinco semanas. De volta a Berlim para prosseguir o curso de aperfeiçoamento em fotografia onde o pai, entretanto, o colocara, no convívio com a boémia e o mundo intelectual entusiasmou-se com o expressionismo alemão, a transdisciplinaridade de Walther Ruttmann e pelo o experimentalismo do cinema soviético.

A Chuva (1929) de Joris Ivens. Fonte: Archival Spaces - Memory, Images, History

Finda a fase berlinense, foi um dos fundadores da Filmliga de Amesterdão, em Maio de 1927, uma organização cinéfila que em breve contaria com milhares de aderentes, na qual assumiu funções de técnico principal. Essa posição permitiu-lhe viajar com frequência e convidar numerosos cineastas a deslocarem-se a Amesterdão para apresentarem os seus filmes. Entre eles, Walther Ruttman, Hans Richter, Germaine Dulac, René Clair, Alberto Cavalcanti, Sergei Eisenstein e Vsevolod Pudovkin. A Ponte (1928) e A Chuva (1929), os seus primeiros filmes, estão em sintonia com as experiências das vanguardas como, aliás, seria de esperar em função dos princípios orientadores orientadores da Filmliga. Pela mesma altura, o envolvimento social levou-o a juntar-se a uma Associação para a Cultura do Povo (Vereniging voor Volkscultuur), habitualmente designada por VVVC, próxima do Partido Comunista Holandês e contando igualmente com o apoio do Socorro Vermelho de Willi Münzenberg. A partir dessa altura, as suas posições como cineasta passaram a ser o corolário dos postulados realistas ditados pelas convicções adquiridas.


No início da década de 30, após uma visita a convite de Vsevolod Pudovkin à União Soviética, onde, de resto, A Ponte e A Chuva foram severamente criticados em associações de trabalhadores, passou a editar na Holanda um novo tipo de Newsreels para a VVVC alternativo aos jornais cinematográficos então existentes, marcadamente fúteis e conservadores. Ivens não se coibia de remontar imagens alugadas a esses mesmos jornais. Mostradas a públicos específicos eram depois devolvidas à forma inicial para voltarem de seguida à posse dos proprietários. Pela mesma altura lançou uma experiência efémera de distribuição de máquinas fotográficas a operários comunistas, naquela que terá sido uma das primeiras experiências de fotografia participativa, incentivando-os a registar cenas da vida laboral previamente agendadas sem que, no entanto, delas tivessem conhecimento os trabalhadores directamente envolvidos. Ou seja, uma espécie de vérité avant la lettre, presumivelmente, uma tentativa de elevar a consciência de classe no sentido marxista através da compreensão da importância da imagem na propaganda. Um pouco mais tarde, Ivens faria por encomenda Philips Radio (1931), o primeiro filme sonoro holandês. Nesse mesmo ano voltaria à União Soviética. À Revue des Vivants, disse:


“Devido ao excesso de individualismo e a uma atitude abertamente artística, a Europa não está habilitada a compreender os efeitos sociais do documentário. Por conseguinte penso que o desenvolvimento dos meus conceitos e ideais cinematográficos só podem ser alcançados na União Soviética”.


Canção dos Heróis (1933) de Joris Ivens. Fonte: Imdb

Fazer filmes na União Soviética, no entanto, começava a ser uma tarefa difícil. O cinema passara a ser encarado num sentido educativo, alinhado com as necessidades de propaganda do estado. O período das grandes aventuras experimentais chegara ao fim. Um argumento, por exemplo, era obrigado a passar por diversos departamentos estando sujeito a múltiplas alterações até poder ser considerado adequado. O “documentarismo” de Dziga Vertov e dos seus seguidores era agora atacado pelos apóstolos do realismo socialista, cujos argumentos se fundamentavam na alegada falta de clareza de filmes como O Homem da Câmara de Filmar (1929). Foi este o ambiente que Ivens encontrou quando se preparava para fazer, em Magnitogorsk, Komsomol, mais tarde designado por Canção dos Heróis (1933), sobre a construção de altos fornos na primeira fase da industrialização na União Soviética. A Canção dos Heróis viria a incluir legendas com citações de Estaline, tais como: “Devemos transformar-nos na terra do Aço e do Ferro. Temos de alcançar os países capitalistas e ultrapassá-los”. Sendo um documentário de propaganda - nesta fase, também o fulgor da agit-prop revolucionária esmorecia -, nem por isso deixa de ter cenas e sequências de notável plasticidade articuladas através de uma montagem inspirada nos mestres pioneiros da década anterior.


Mas, para o bem e para o mal, Ivens não se furtou ao debate que agitava os cineastas soviéticos. Num texto dirigido às autoridades de Moscovo com o intuito de obter luz verde para Komsomol intitulado Sobre o Método do Filme Documentário - em particular do Filme Komsomol (1932) começa por se justificar em relação aos seus filmes mais experimentais, justamente A Ponte e A Chuva, admitindo não reconhecer neles “consciência de classe”. Passa depois a expor as limitações impostas pelos seus patrocinadores capitalistas em relação a filmes como Zuiderzee (1930) e Philips Radio (1931):


“O nível técnico e artístico do meu trabalho, e o facto de eu ser olhado como a figura cimeira do documentário de avant-garde da Europa Ocidental, garantiam-me trabalho, mas eu não podia pôr em prática as minhas ideias sobre os novos métodos do filme documentário”.


Acrescentava:


“Que erros cometemos, eu e outros, nos nossos documentários? Em primeiro lugar, o método criativo era rígido, não suficientemente dinâmico para representar o progresso do socialismo na União Soviética. Conduziu ao formalismo e esquematismo, ficou-se pela aparência dos factos e dos processos (...)”.


Philips Radio (1931) é o primeiro filme sonoro de Joris Ivens. O cineasta procurou afastar-se dos clichés publicitários e produziu uma obra experimental de tal modo interessante que a crítica parisiense sugeriu a retirada do nome do patrocinador. Propôs um outro título: Sinfonia Industrial. Já no anterior filme patrocinado, Zuiderzee (1930), sobre a conquista de terra ao mar na Holanda, Ivens tivera um procedimento semelhante. Zuiderzee viria a ser objeto de um remake, Nova Terra (1933). Fonte: FilmAffinity

Prosseguindo na via preconizada, entre outros, por Pudovkin no sentido da eficácia retórica, Ivens admitia, no entanto, a par das tomadas de vista in loco, o recurso a reconstruções vendo nelas um elemento indispensável ao desenvolvimento dramático do documentário. Se a mudança de foco transitava para o propósito social, para a prioridade atribuída à clareza da mensagem e ao primado da política, nem por isso as preocupações artísticas deixavam de estar presentes no seu pensamento. Como, aliás, ao contrário do que por vezes se afirma, continuavam a estar presentes no realismo socialista.


Um cinema de causas pela causa do cinema


Com Misère au Borinage (1934), feito em colaboração com Henri Storck, há um ciclo que se fecha no sentido em que este filme parece ser o culminar de um processo gradual de afastamento da vanguarda a favor do compromisso social assente na estética realista. Até aí, mesmo em Komsomol, independentemente dos constrangimentos, todos os seus filmes, com maior ou menor evidência, tinham algo do cinema experimental. Borinage, patrocinado por um cine-clube, trata da vida e organização dos trabalhadores das minas de carvão de uma região da Flandres no rescaldo de uma greve que deixara marcas profundas. O documentário recorre a reconstruções por forma a fazer avançar a narrativa e tem óbvias citações de A Greve (1924) de Eisenstein, designadamente quanto ao uso da tipagem, frequentemente utilizada pelo cineasta soviético.


Entrevistados durante a rodagem do filme, Ivens e Storck manifestaram a intenção de representar a vida dos operários com o maior realismo, assumindo que a avant-garde conduzia inevitavelmente a “um impasse estéril e a uma estética vazia”. Posteriormente, num discurso proferido em Moscovo no final de 1934, Ivens iria finalizar a sua intervenção incentivando os pares a trabalharem segundo os princípios do realismo socialista. Porém, apesar da auto-crítica e da declaração de apoio à linha oficial do Partido Comunista, nem por isso poderá afirmar-se que, no plano estético, os seus filmes observam inteiramente a norma plasmada na produção soviética dos anos 30/40. Observam, sim, a tradição mais ampla do realismo. E Borinage faz prova disso.


Sobre Misère au Borinage diria Joris Ivens: “Alguns críticos disseram que a ausência de uma fotografia ‘interessante’ em Borinage se ficou a dever à natureza rudimentar dos equipamentos utilizados. Não é verdade. O estilo de Borinage correspondeu a uma opção deliberada por respeito para com a dor e a dignidade das pessoas à nossa volta. Sentimos que seria insultuoso para essas pessoas passando por dificuldades extremas utilizar uma fotografia que fosse impeditiva de transmitir honestamente o que estava a acontecer. (...) Fomos ao ponto de, por vezes, destruir imagens cuja beleza inconveniente distorcia o retrato que pretendíamos fazer ”.

Após uma estadia de dois anos na União Soviética, onde acabou por não concretizar nenhum projecto para além de uma nova versão de Borinage, Ivens partiu para os Estados Unidos onde foi recebido de braços abertos por Leo Hurwitz e pelos restantes membros da Nykino, uma organização pensada para fazer filmes comprometidos com as causas sociais alternativos à produção mainstream. Fundada em 1934, da Nykino faziam parte, entre outros, Ralph Steiner, Jay Ledo, Bem Maddow e Irving Lerner. A sua proposta estética afastava-se do documentarismo mais convencional da Film and Photo League, criada em 1930 para dar voz ao movimento operário, na medida em que promovia e experimentalismo associado ao uso frequente de reconstruções. O filme seguinte de Joris Ivens seria resultante das suas relações com a esquerda americana. Com o apoio da Contemporary Film Historians, Inc., teria a colaboração de Ernest Hemingway e John Ferno. Tendo colocado o combate ao fascismo no topo das prioridades, os amigos de Ivens convenceram-no a viajar até Espanha onde as tropas de Franco ameaçavam a República. O resultado dessa experiência é The Spanish Earth (1937).


The Spanish Earth é um dos primeiros documentários inteiramente rodado numa frente de combate, em Madrid, onde Ivens esteve durante cinco meses com as tropas lealistas. Mas, ao contrário do que iria acontecer em muitos filmes dos cineastas de Hollywood durante a II Guerra Mundial - dramatizaram cenas utilizando imagens de combate de newsreels, como fez, por exemplo, Frank Capra em Battle of Britain da série Why we Fight -, Ivens não privilegia a acção pura. Prefere olhar o conflito através dos sinais transmitidos pelos rostos, gestos e sinais do povo anónimo que sofre com a guerra. Não descura a parte histórica, como quando filma a reunião em que comunistas, socialistas e anarquistas fazem nascer o Exército do Povo. Entre outros, estão lá os lendários Henrique Lister e Dolores Ibárruri, a Pasionaria. Respeitando sempre o eixo estruturante da narrativa, o método de Ivens exige, igualmente, quer a atenção ao contexto, quer a episódios aparentemente menos relevantes:


“Esses acontecimentos são, por vezes, tão importantes para o tema central que não podem ser ignorados. Temos de ser também uma espécie de operadores de câmara dos filmes dos noticiários. Mas não nos podemos dar ao luxo de avaliar os acontecimentos pelo seu ‘valor noticioso’. Acontecimentos com pouco valor noticioso podem vir posteriormente a revelar-se de importância vital para a estrutura narrativa. Têm de ser avaliados quase unicamente pela sua relevância para o filme e para o que está em causa. Era fácil ter-mos dito daquela reunião do Exército do Povo que se tratava apenas de mais uma reunião – mas aquela reunião ajudou-nos a fazer a ligação entre as duas linhas mestras do nosso filme”.





As duas linhas de que fala Ivens dizem respeito à irrigação e à luta pela posse da terra. Numa sequência de montagem alternada vemos camiões carregados de bens alimentares a caminho de Madrid, seguem-se imagens da irrigação, depois vê-se um atirador e, de novo, imagens da irrigação. Ou seja, estabelece-se um nexo entre a terra que deve ser produtiva e a necessidade de a defender como garantia da liberdade de fazer uso dela. Nesse contexto, o episódio da criação do Exército do Povo, enquanto símbolo da unidade na acção, é um elemento relevante. Ivens utiliza, portanto, elementos de reportagem, mas com o intuito de os integrar numa narrativa de outro sentido. Quando filma o bombardeamento de uma aldeia, ao invés de utilizar o som das explosões, serve-se de artifícios como do estilhaçar de vidros de janelas de casas para acentuar o drama dos habitantes. Prefere os pormenores aparentemente secundários para atenuar o efeito espectacular da guerra e sublinhar o heroísmo anónimo do homem comum.


De cerro modo, apesar da forte carga de propaganda, é ainda do homem comum que trata o filme seguinte, The 400 Million (1939). Ivens está agora na China juntamente com John Ferno e Robert Robert Capa que foi assistente de ambos. Tal como em The Spanish Earth o filme é patrocinado por antifascistas. Cientes da importância de apoiar aquele país colossal, com um quinto da população do planeta, contra a política expansionista do Japão apoiada por Hitler e Mussolini, uma vez mais os amigos do cineasta tocaram a reunir. Numa nota inicial afirma-se que o fascismo é uma ameaça global e, como tal tal, deve ser combatido onde quer que seja. Segue-se o elogio de uma civilização milenar posta em risco pela invasão japonesa. Com efeito, esta guerra foi de uma uma brutalidade extrema. Há imagens explícitas dessa brutalidade sobre populações indefesas, mas Ivens opta por se centrar no quotidiano de quem sofre, bem como no esforço de organização da resistência liderado por Chiang Kai-Shek com o apoio dos comunistas. Destinado a ajudar a China a conquistar a independência, embora filmado sob apertada vigilância da liderança mais conservadora do Kuomintang, o filme, ressentindo-se desse constrangimento, nem por isso deixa de ter momentos de soberba cinematografia valorizados pela montagem da então companheira de Ivens, Helen Van Dongen, uma da muitas mulheres do Cinema injustamente relegadas para uma posição secundária. The 400 Miilion, cujo comentário lido por Fredric March é da autoria de Dudley Nichols - mais tarde vencedor do Oscar para argumento de documentário por The Battle of Midway (1942) de de John Ford -, conta ainda, na ficha técnica, com o nome de Sydney Lumet.



John Ferno, Joris Ivens e Robert Capa em cima de um tanque japonês capturado na Batalha de Tai’erzhuang durante a rodagem de The 400 Million. Fonte: International Center of Photography

É ainda o homem comum a figura central de Power and the Land (1940) documentário realizado para a Rural Electrification Administration (REA) a convite de Pare Lorentz. (Nota: ver neste blogue em Cinema o texto sobre Pare Lorentz, cineasta de Roosevelt). Em 1935, cerca de 75 por cento das propriedades rurais nos Estados Unidos ainda não tinham energia eléctrica. Apesar dos progressos verificados até ao final da década de 30, a ideia era reforçar a campanha educativa tendo como público alvo os mais desprotegidos.


A história situa-se numa pequena propriedade rural do Midwest, propriedade de Bill e Hazel Parkinson, nos arredores de St. Clairsville, a cerca de setenta quilómetros de Pittsburg. A ideia da REA era divulgar o seu plano de distribuição de energia eléctrica a baixo custo, mas os agricultores, de tão pobres, tinham dificuldade em compreender as propostas governamentais, mostrando-se técnica e psicologicamente incapazes de responder adequadamente. Não era o caso dos Parkinson. Na verdade, eles contavam-se entre os que já tinham electricidade na propriedade e, embora pobres, estavam distantes dos padrões identificados como sendo de resolução urgente por parte do governo. A escolha, porém, fora criteriosa. O casal tinha cinco filhos, o que permitia traçar o quadro das dificuldades das famílias numerosas, bem como das múltiplas tarefas em que cada um tinha de se ocupar para garantir a produção. Por outro lado, havendo energia eléctrica já instalada, poder-se-ia facilmente fazer o retrato do antes e depois. Bastava, para tanto, não fazer uso dela durante a primeira parte do filme e ligá-la quando se tratasse de fazer a demonstração dos benefícios.


Desta vez, Ivens pôs em prática de uma forma sistemática aquilo que tinha ensaiado nos seus três filmes anteriores, as reconstruções. Mas fê-lo escrupulosamente, ou seja, rejeitando criar situações não verificadas ou simplesmente inventadas para dar corpo a pressupostos ideológicos. Com um texto do poeta e ensaísta Stephen Vincent Benet narrado de forma coloquial por William Adams, Power and the Land expõe a interdependência dos membros da família, da comunidade local, do governo central, das máquinas e dos animais. Fá-lo no contexto de uma narrativa clássica em três actos – apresentação da família e dos problemas que enfrenta, contradições e dificuldades inerentes à busca de soluções, e a solução que reside, naturalmente, na organização da comunidade com vista a criar condições para poder dispor de electricidade – fazendo avançar a história do dia a dia dos Parkinson num registo de superação de contrários até chegar a um final feliz. Tratando-se de um filme destinado a fins educativos; Power and the Land, ainda assim, permitiu a Ivens expressar um ponto de vista próximo da sua visão do mundo quanto à necessidade de mobilizar as pessoas para um futuro de progresso e bem estar.



Os Parkinson em Power and the Land (1940) de Joris Ivens

A rodagem de Power and the Land não esteve, porém, isenta de problemas. Pare Lorentz, depois da experiência que tivera com membros da Film and Photo League na altura da rodagem de The Plow That Broke the Plains, afinal os amigos de Ivens da Nykino, temia que o realizador fizesse uma leitura da situação no plano da luta de classes, pelo que deu entender que apenas aceitaria um filme que veiculasse o ponto de vista acordado. Por outro lado, as primeiras imagens que recebeu em Washington, estavam longe de corresponder a critérios compatíveis com os seus filmes de mérito. O problema resolveu-se com a substituição do operador de câmara inicialmente contratado Arthur Ornitz por Floyd Crosby que trabalhara com Flaherty e Murnau e viria a ser um dos mais conceituados directores de fotografia de Hollywood. No final, todas as partes parecem ter ficado satisfeitas, sobretudo Ivens que viu no reconhecimento dos Parkinson o melhor prémio para o seu trabalho. A tal ponto que reproduziu na íntegra na sua autobiografia, publicada anos mais tarde, a carta de amizade e admiração a si dirigida por Hazel Parkinson.


Quer The Spanish Earth quer Power and the Land andam longe de qualquer tentação jornalística. Na sua autobiografia, a propósito de The Spanish Earth ter sido totalmente filmado do lado republicano, Ivens discorre sobre a objectividade:


“(...) muitas vezes me perguntaram porque não tinha ido eu também ao outro lado para fazer um filme objectivo. A minha única resposta é que um realizador de documentários tem de ter uma opinião sobre questões tão vitais como o fascismo e o anti-fascismo. Tem de ter sentimentos sobre estas questões se quiser que a sua obra tenha algum valor dramático ou emocional ou artístico. E há também outro facto muito simples a ter em conta e que é, quando se está numa guerra e se vai ao outro lado, ou se é fusilado ou metido na prisão – não se pode estar dos dois lados, nem como soldado nem como cineasta”.


Quanto a Power and the Land, como vimos, Ivens tornara-se um defensor das reconstruções. Em diversas ocasiões saiu em sua defesa alegando tratar-se de um método legítimo e necessário, desde que observados os princípios do realismo, ou seja, desde que permitissem um melhor conhecimento dos protagonistas e acontecimentos da vida real. Nessa medida, os seus pressupostos aproximam-se dos do teórico Siegrefied Kracauer, do seu realismo de facto, mas afastam-se dos procedimentos das reconstruções altamente dramatizadas de newsreels da época como The March of Time.



Helen van Dongen, a extraordinária montadora dos filmes de Joris Ivens deste período. Fonte. Women Film Editors

Evidentemente, estes dois filmes cumprem uma função informativa. Transmitem dados sobre situações concretas. Mas nenhum deles tem carácter noticioso. Daí, provavelmente, o interesse que suscitaram. Spanish Earth, até por ter enfrentado problemas de distribuição, não terá sido do conhecimento de um público muito alargado. Teve, no entanto, grande impacto junto das elites intelectuais e das organizações operárias, contribuindo para a angariação de fundos avultados para a República espanhola. O presidente Roosevelt, inclusivamente, fez questão de assistir à estreia. Power and the Land, por sua vez, esteve em exibição em mais de cinco mil salas nos Estados Unidos. Foi um grande êxito, mantendo-se em cartaz muitas semanas. Ainda hoje é considerado obrigatório em diversas escolas americanas.


Conclusão (parcial)


No início da II Guerra Mundial Joris Ivens tinha pouco mais de 40 anos. Faria filmes até aos 90, em 1989, quando faleceu. A seguir à Guerra continuou a correr mundo armado das suas convicções e da inseparável câmara de filmar, participando sempre no debate sobre o cinema documental, para ele uma questão ética, estética e política. Embora com as limitações que lhe foram impostas devido às suas opções ideológicas - viria, mais tarde, a ser proscrito nos Estados Unidos -, nesta fase da sua vida colaborou no esforço de propaganda desenvolvido pelo governo de Roosevelt, primeiro, como vimos, nas tarefas do New Deal, depois em ligação com a unidade de cinema das Forças Armadas chefiada por Frank Capra por quem, de resto, viria a ser despedido na sequência de divergências quanto a Know Your Enemy (1945).


O filme, uma espécie de ajuste de contas de Pearl Harbour, é um violento ataque ao povo e cultura japoneses. Começou a ser feito em 1943, em plena guerra, viria a conhecer diversas versões e só foi mostrado em meia dúzia de ocasiões após o lançamento da bomba atómica em Hiroshima e Nagasaky, aparentemente para justificar o injustificável. Dada a conjuntura do pós-guerra foi retirado da circulação só reaparecendo em 1977 para efeito de estudo. Know Your Enemy é um exemplo limite dos chamados documentários informativos da II Guerra Mundial elaborados pelos mestres de Hollywood. Mas isso fica para outra conversa. Até porque esses filmes foram parcialmente inspirados em The 400 Million.


Quanto a Joris Ivens voou por todo o mundo. Da Indonésia ao Vietname, de Cuba à China, por todos os continentes, sempre no olho do furacão. Ninguém como ele pôde observar o século XX como ele o fez. Chamaram-lhe o holandês voador.


Jorge Campos



Joris Ivens. Fonte: DAFilms.com




  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 12 de abr. de 2021
  • 1 min de leitura

Marc Chagall, O Circo, 1964


olá aurora, vou contar-te um segredo. tu és como a lua redondinha cheia dos gatos dos teus desenhos num céu cheio de estrelas e eu vejo-te andar leve como quem dança por entre bolas de sabão coloridas à descoberta da casa das surpresas. tantas coisas me intrigam na maravilha desse teu jeito de soltar peixes voadores dos dedos do mar imenso dos teus sonhos. e, por isso, quando me pegas na mão, eu sei que me levas para um lugar onde a noite se esquece de anoitecer, onde os anjos ficam suspensos de te ver passar embalada na brisa do tempo e tu, então, perante o espanto do silêncio dos meus olhos dir-me-ás, de olhos limpos, olha pai, vê o mundo a acontecer. por isso te chamas aurora. é esse o meu segredo. hoje fazes dez anos, mas isso já tu sabias.


17 de Maio de 2011








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Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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