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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 23 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023

por Jorge Campos "Há que destruir muitos preconceitos e frases feitas." Conhecido pelo seu trabalho como jornalista, guionista e  documentarista, Javier Rioyo, foi um dos premiados no Festival Odisseia nas Imagens da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura com o seu filme Extrangeros de si mismos (2000). Entre as suas obras conta-se Asaltar los Cielos, sobre o homem o assassínio de Trotsky e um filme sobre Luís Buñuel. Nesta entrevista feita no final do ano 2001, Javier Rioyo aborda o momento do documentário em Espanha e a relação do documentário com a televisão. É mais uma peça resgatada ao meu arquivo. 


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Javier Rioyo

JC. Do seu ponto de vista o documentário é um cinema livre?

JR. Creio que sim. Será até o cinema com maior liberdade. Embora o conceito de liberdade me leve a encará-lo com algum temor, não duvido, por exemplo, que face ao cinema de ficção o documentário goze de muita mais liberdade. Faz-se com um guião menos fechado, com um orçamento que nos permite maior liberdade de movimentos, com maior ligeireza de equipamentos, tem menos compromissos institucionais, está mais aberto, não tem actores que cobram fortunas...


JC. Portanto, de alguma maneira, vai-se construindo a si mesmo...

RJ. Sim, é mais uma história que começa com uma ideia ou com uma intenção e que se vai concretizando numa perspectiva em que é sempre possível integrar coisas novas e inesperadas que acontecem entretanto. O documentário tem essa virtude de estar aberto seja no processo de rodagem, seja no processo de montagem. Há muitas coisas nas quais não reparamos na rodagem, mas que emergem quando se está em montagem.


JC. Há uma ideia de que em Espanha há um interesse crescente pelo documentário. Isso é verdade?

RJ. Há um crescimento. Houve um momento durante a transição política, na parte final do franquismo em que havia a consciência da necessidade do documentário. Mas, com o advento da democracia houve uma pausa, como se o documentário tivesse deixado de ser necessário, e começaram a comprar-se muitos programas históricos ou sobre a natureza. Houve portanto um interregno que seria entretanto superado, no início com muitas dificuldades, mas hoje não há dúvida de que o movimento documenraista retomou o seu rumo e continua a progredir.


JC. Apesar desse progresso, que parece ser de algum modo generalizado, há quem diga que a televisão está a matar o documentário...

RJ. Não, eu não penso assim. Penso que o documentário deve ter um percurso de salas, de ciclos e de festivais, mas creio que o percurso natural é cada vez mais a televisão. A televisão está cheias de coisas boas e de coisas más. É certo que a programação de documentários pode incorrer alguns riscos, porque se trata de exibir algo que tem muito de experimental e de vôo livre. Mas se os documentários forem bem programados, em horários apropriados e não relegados para horários impossíveis, poderão ser vistos com o mesmo agrado como se vêm as boas séries ou os filmes de ficção. O que não se pode é remeter o documentário para um território marginal atribuindo-lhe um estatuto demasiado cultural e didáctico.


JC. Parece haver em tudo isto uma contradição. Muitos programadores argumentam que o documentário é naturalmente aborrecido e inadequado para ser mostrado ao grande público. Entretanto, o interesse crescente pelo documentário parece resultar justamente do facto de ser exibido pela televisão.

RJ. Há que destruir muitos preconceitos e frases feitas. Talvez nos conformemos demasiado e estejamos realmente fartos de coisas que são realmente previsíveis e aborrecidas e que vêm do mundo da ficção. Quantas telenovelas ou historietas que são realmente mentalmente reduzidas e aborrecidas são o alimento quotidiano de tanta gente, quando se virmos um documentário que tem paixão dentro de si e que tem entretenimento pode ser uma história muito mais estimulante e divertida do que programas de pura evasão. 

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 23 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023

por Jorge Campos


"Há uma inquietação no documentário que não está presente na reportagem, que é jornalismo puro e duro”.


Llorenç Soler desenvolve a sua actividade em múltiplas direcções, nomeadamente como documentarista. Entre os seus documentários mais conhecidos contam-se Francisco Boix, un Fotógrafo en el Infierno e Max Aub, un Escritor en su Laberinto. Em Los Hilos Secretos de mis Documentales publicado em Barcelona pelos Libros de Ccomunicación Global reflecte sobre a sua actividade como realizador. Esta entrevista foi gravada no Porto em Outubro de 2001 quando da sua participação na Odisseia nas Imagens e resume  algumas das questões essenciais sobre a relação do documentário com a televisão.

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Llorenç Soller

JC. O que lhe agrada no documentário?

LS. O que me agrada é o jogo que permite construir uma ficção a partir do real, exercer um ponto de vista, construir o meu próprio argumento, ou seja, não acredito de modo algum na objectividade: o documentário é tão subjectivo quanto a ficção.


JC. A objectividade parece ser uma crença da Televisão em função do seu carácter predominantemente informativo. Será que isso dificulta a relação entre o documentário e a Televisão?

LS. É, realmente, uma relação complicada, sobretudo porque há aí um conflito latente entre o percurso da gente do Cinema e o percurso dos jornalistas da Televisão. São dois mundos completamente diferentes. Pelo menos entre nós, em Espanha, para eles nós somos os artistas, os “poetas”, eles são os comunicadores, os que dão conta da verdade. Mas, as coisas não podem colocar-se desse modo. Aliás, ambas as tendências, muitas vezes, coabitam nos documentários. Mas, para isso, é necessário que a Informação sobre um tema seja apresentada de modo poético, criativo e original...


JC. Porém, o que acontece a todo o momento é a sensação dos procedimentos jornalísticos contaminarem todo o espaço da Televisão e, por via disso, a reportagem aparecer muitas vezes identificada como documentário...

LS. De acordo. É por isso que é indispensável delimitar os territórios. Fala-se, hoje, do documentário de criação – embora, a mim, não me agrade essa designação – e há o jornalismo audiovisual, que é outra coisa. Do meu ponto de vista, o documentário tem um valor acrescentado, que é o valor da criação. Há uma inquietação no documentário que não está presente na reportagem, que é jornalismo puro e duro.

JC. Que se passa, hoje, em Espanha, com respeito ao documentário?

LS. Há um ressurgimento extraordinário, sobretudo graças ao apoio das estações de Televisão.

JC. Não há aí uma contradição?

LS.Claro que sim, se tivermos em conta que se trata de um medium predominantemente informativo, jornalístico, onde impera o imediatismo e predominam os jornalistas. Contudo, parece que os operadores estão a descobrir este outro género que está para além do imediatismo e permite a reflexão sobre um tema.

JC.Quererá isso dizer que a linguagem da Televisão pode acolher o olhar do Cinema?

LS. No que eu acredito é que esta tendência introduz um olhar mais cinematográfico do que televisivo. Passam muitos filmes na Televisão, mas quando isso acontece, a Televisão funciona apenas como veículo, ou seja, não altera a sua natureza ou razão de ser. Com o documentário, porém, há uma perspectiva diferente e aí, sim, há reflexos muito interessantes. Basta atentar no facto de muitos documentários feitos para a Televisão, em Espanha, terem sido grandes sucessos nas salas de cinema.

JC. É complicado para si trabalhar com formatos televisivos de 25 ou 50 minutos?

LS. Não, isso não me causa qualquer problema.

JCOs problemas, então, são outros...

LS. Já falamos deles. Quanto ao mais, a Televisão também tem muitos aspectos positivos. Eu, por exemplo, fiz longas metragens que foram muito mal distribuídas e, por isso, foram vistas por muito pouca gente. Mas, a partir do momento em que foram exibidas pela Televisão tiveram 300 ou 400 mil espectadores em cada passagem, ou seja, entraram em contacto com o grande público, o que é muito bom.

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 20 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023

No Desobedoc todos os filmes são apresentados por alguém e haverá sempre uma folha de sala. a mim coube-me este filme. aí vai o texto que escrevi para Roger & Me.

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Roger & Me (1989) de Michael Moore é um documentário controverso. Nos Estados Unidos, apesar de distinguido como o melhor do ano, nomeadamente pela National Society of Film Critic, National Board of Review e Los Angeles Film Critics Association, foi excluído das nomeações para os óscares a pretexto, entre outros motivos, de alegada falta de objectividade. Numa carta aberta encabeçada por Pamela Yates e Spike Lee, 45 cineastas insurgiram-se contra a omissão. Entre os signatários estavam Louis Malle (''Phantom India''), Haskell Wexler (''Underground''), Robert Richter (''Gods of Metal''), Mira Nair (''Salaam Bombay!'') e Chris Choy e Renee Tajima (''The Death of Vincent Chin''). O episódio, para além da notoriedade que trouxe ao cineasta, teve outras consequências. Obrigou a Academia a rever critérios, contribuiu para o regresso do documentário às salas e reabriu o debate sobre ocinema independente americano numa lógica antitética da dos media sob controle das corporações. O que é Roger & Me? Antes do mais é um filme imensamente divertido e devastadoramente iconoclasta. Parte das consequências de um despedimento colectivo levado a cabo pela General Motors em Flint, Michigan, cidade natal de Moore, para uma perseguição movida pelo cineasta ao CEO da empresa, Roger Smith, numa tentativa de o trazer de volta para lhe mostrar o pesadelo social causado pelo encerramento das fábricas. Claro que a perseguição é apenas um pretexto para a desconstrução do american way of life, das suas bandeiras e mitos no tempo concreto do reaganismo. Nesse percurso há uma antinomia permanente entre a apregoada bondade do sistema capitalista e o cortejo de consequências nefastas que se abate sobre os desempregados e as suas famílias. Em pano de fundo, a cortina simbólica que faz do entretenimento uma forma letal de hipnose. Moore entrevista super-estrelas como Pat Boone, o crooner que rivalizou com Elvis Presley na segunda metade dos anos 50, diverte-se com Miss América e dá alfinetadas em vedetas da televisão como Bob Eubanks. Encontra recorrentemente o xerife Fred Ross ocupado na interminável tarefa de despejar os pobres das casas cujas rendas não puderam pagar. E, finalmente, arranja maneira de se introduzir numa festa de Natal presidida por Roger Smith.  Sarcástico, comediante de extraordinários recursos, Moore constrói uma narrativa que acolhe elementos da cultura de massas e cuja eficácia decorre da utilização de códigos facilmente reconhecidos por um público cuja posição face ao cinema se inscreve no âmbito de uma relação multimédia alargada. Em Roger and Me (1989) há, com efeito, um dispositivo cinematográfico ao qual estão associados significantes de uma paleta multiforme onde cabem as imagens de arquivo e as imagens in loco, a música pop e os jogos de vídeo, o cinema de animação e a reportagem televisiva, o registo stand up comedy e, sim, a lógica da propaganda. Neste caso, assumidamente anti-Reagan. Dado o sucesso dos seus filmes junto do público, não admira que Michael Moore se tenha transformado numa espécie de bête noire dos republicanos. É que ele vira a América de pernas para o ar.

 
 
 
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Ensaios, conferências, comunicações académicas, notas e artigos de opinião sobre Cultura. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes  quando se justificar.

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Ensaios, conferências, comunicações académicas, textos de opinião. notas e folhas de sala publicados ao longo de anos. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes quando se justificar.

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Arquivo. Princípios, descrição, reflexões e balanço da Programação de Cinema, Audiovisual e Multimédia do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura, da qual fui o principal responsável. O lema: Pontes para o Futuro.

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Notas, textos de opinião e de reflexão sobre os media, designadamente o serviço público de televisão, publicados ao longo dos anos. Textos  de crítica da atualidade.

Notas pessoais sobre acontecimentos históricos. Memória. Presente. Futuro.

Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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