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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 6 de out. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.


William Turner - Seascape with Storm Coming On, 1840
William Turner - Seascape with Storm Coming On, 1840

faz calor. caminho como se a luz do dia, indiferente à volta dos passos, mergulhasse a prumo no horizonte dos meus dias. respiro nas dunas o murmúrio do vento, memórias de um rosto de marinheiro tão atento aos desafios e mistérios do mar. sob o sol de azul intenso, uma gaivota. e uma casa desabitada de paredes brancas, corroída pelo sal do tempo, que um dia foi minha. aí nasci de mãos errantes, de um rumor de lua nova, sob o imponderável signo de perder-me, talvez, felino de mim mesmo. aí soube das águas do rio ainda os dedos tocavam estrelas em florestas densas de pássaros cumprindo noites de insónia e dias felizes. aí aprendi o côncavo dos seios e o convexo do sexo como quem no corpo declina a palavra maravilha. sendo muitos, tive por companhia o medo sombrio da loucura, a loucura luminosa da paixão, a paixão indomável da procura, a procura sonhada dos meus sonhos. agora, estou só, diante do mar. caminho ainda. pode o calor atenuar a erosão da pele, iludir o declínio do rosto e ocultar o abandono das mãos, mas já o crepúsculo cai sobre a casa dos meus dias, e a gaivota, ferida de azul, alonga o seu voo na distância e o silencioso tigre no seu labirinto, pondera: em breve mal distinguirei as silhuetas do amor e da morte. assim é o tempo, absoluto e final.



2011

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 3 de out. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.


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Eis a límpida fonte da alegria, o fogo verde dos pinheiros quando o verão desagua no espelho do mar e reflecte o mistério dos que pregaram estrelas na cúpula do tempo e inventaram o ritmo dos sonhos no ritmo dos animais em movimento.

Eis a leve mão tão leve soltando o pássaro da manhã, lá onde o sol aquece a boca e o ar é puro e as palavras são como peixes no lume das águas

abrindo sulcos em dunas de cores bravias.

Eis a doce vertigem das marés, seu delicado movimento levantando a brisa, depois o vento, como se no ângulo aceso das horas se ouvisse uma dança de corpos vagabundos, depois um tropel de cavalos maravilhados

cavalgando o galope dos rins violentos.

Ei-los, os viajantes do tempo sem tempo, sem norma nem clausura, trazendo no abandono dos olhos, despojados e nus, o súbito clarão da ternura.

Eis um país inocente.


Verão, 1976

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 20 de set. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.


Foto de Alexander Gardner, Guerra Civil Americana,1863
Foto de Alexander Gardner, Guerra Civil Americana,1863

Quando chegou a hora do combate a manhã inteira estremeceu. Incertos do papel que lhes cabia no palco onde outros encenavam tragédias de traidores e de heróis, os soldados ocuparam posições. Depois o tempo ficou suspenso ditando suas leis elementares. Tal como outras do passado, guardadas na penumbra da memória à margem da história oficial, foi uma batalha terrível. Apregoados os feitos sonoros calaram-se as armas e um vento mortífero soprou. E no campo da anunciada glória ficaram só pedras e raízes expostas e mortos de olhos abertos feridos de um súbito, insustentável espanto.


Dezembro, 1977




 
 
 
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Criado por Isabel Campos 

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Ensaios, conferências, comunicações académicas, notas e artigos de opinião sobre Cultura. Sem preocupações cronológicas. Textos recentes  quando se justificar.

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Notas, textos de opinião e de reflexão sobre os media, designadamente o serviço público de televisão, publicados ao longo dos anos. Textos  de crítica da atualidade.

Notas pessoais sobre acontecimentos históricos. Memória. Presente. Futuro.

Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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