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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

Atualizado: 16 de dez. de 2020



a social-democracia em Portugal está em alta, à direita. o professor Marcelo anunciou a recandidatura e declarou-se social-democrata. há não muito tempo, o professor Cavaco publicou um livro a demonstrar ser ele o verdadeiro social-democrata. a prová-lo, os seus formidáveis governos. Rui Rio, evidentemente, também é social-democrata. basta lembrar a sua sensibilidade social quando, eleito para a Câmara do Porto, disse que não haveria cultura, supérflua no seu alto critério, enquanto houvesse pobreza nos bairros sociais. cumpriu. pôs-se a pensar em grande e arranjou algo de tão essencial quanto um festival de francesinhas. depois, inventou uma corrida de calhambeques. finalmente, contratou acrobacias aéreas.



não sei o que esta gente pensa da social-democracia, mas o raciocínio não deve andar longe do que há anos o então mais jovem deputado da Assembleia da República, Duarte Marques, disse numa entrevista à Antena 1. eu ouvi. para ele, os grandes faróis teóricos da causa eram Durão Barroso e Santana Lopes, certamente dois portentos conceptuais, embora, receio bem, de outros carnavais. vamos ver. o PSD nunca foi da linhagem social-democrata tal como é histórica e teoricamente referenciada. nasceu após o 25 de Abril como PPD (Partido Popular Democrático). atraiu democratas, parte dos bem instalados do Estado Novo e uma legião de conservadores receosos da mudança. também houve pessoas mais inconformadas que julgaram poder criar um verdadeiro partido social-democrata. não sei se resta algum no ativo.



Sá Carneiro, vindo da ala liberal da Assembleia Nacional, era um democrata. tentou mudar o regime por dentro. chegou a pedir a integração na Internacional Socialista, o que lhe foi negado por Mário Soares. por essa altura, o programa do partido, manifestamente condicionado pelos sinais do tempo, propunha coisas que só podem parecer mirabolantes a qualquer militante, simpatizante ou eleitor do atual PSD. olhando para os cartazes desse tempo é óbvia a busca de um rumo. num, dizia-se o PPD não é de direita. noutro, o PPD é de centro-esquerda. noutro ainda proclamava-se a social-democracia como via para o socialismo.



quando, há 40 anos, Sá Carneiro morreu no fatídico acidente aéreo de 4 de dezembro, o seu posicionamento político mudara. emergia o perfil autoritário de alguém que apoiava na corrida à Presidência da República um dos generais mais retrógrados das Forças Armadas, Soares Carneiro, candidato contra Ramalho Eanes. a consigna de Sá Carneiro passara a ser “um presidente, um governo, uma maioria”, de certo modo ultrapassando o 25 de Novembro pela direita. da sinuosa disputa sucessória haveria de sair o ”único verdadeiro social-democrata", o professor Cavaco. muito mais tarde, após uma imaginativa sucessão de cocktails ideológicos, apareceu o dr. Passos, obreiro do neoliberalismo mais serôdio e padrinho espiritual de um sujeito de nome Ventura. hoje, ninguém no PSD saberá dizer ao certo o que aquilo é, aliás, em coerência com o seu percurso histórico.



mantendo a sigla PSD não tem qualquer problema em ser considerado um partido de direita. integra há anos o PPE. para utilizar uma imagem futebolística, bascula, ou seja, vira o jogo de acordo com as circunstâncias e conforme lhe dá jeito. sendo, no essencial, um partido democrático, sempre foi assim. muitas vezes me disseram de dentro, bem vê somos um partido de poder. é certo. e a social-democracia também não é exclusiva de ninguém. mas podiam deixar-se de fantasias. davam à malta mais aguerrida umas aulas de introdução ao pensamento político e largavam a bengalinha SD. era bom para todos. achatavam a curva da crise de identidade, desdramatizavam os problemas existenciais e poupavam brutalmente no espectáculo habitual da psicanálise em grupo. coragem. tentem PDP (Partido da Direita Portuguesa). vá lá…

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 5 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de dez. de 2020



o cavalheiro da direita é József Szájer, eurodeputado húngaro do partido da extrema-direita Fidesz. sempre foi um respeitável pai de família, tenaz defensor de legislação anti-LGBT, campeão da luta anti-droga, inimigo público da liberdade de imprensa e, naturalmente, muito devoto. juntamente com o outro cavalheiro, Victor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, não só ajudou a criar o Fidesz como tem levado a cabo uma cruzada sem tréguas para erguer uma ditadura impoluta, livre de estrangeiros, garante de uma ordem inspirada num passado mítico, algo a que normalmente se chamaria fascismo não tivesse a palavra, por incomodidade, caído em desuso. ora, o bom do József teve azar. apanhado numa orgia gay num apartamento de Bruxelas, armou-se em alpinista, tentou escapulir-se pelas paredes traseiras do prédio com uma mochila às costas, ficou com as mãos a sangrar do esforço e, para cúmulo, bateu de frente com a polícia belga. foi dentro. imagino que deve ter-se sentido traído. de tal modo que o ecstasy encontrado na mochila, segundo disse, só poderia lá ter ido parar por alguém lhe querer mal. quanto ao resto, garantiu que os farristas não estavam infetados nem pela Sida nem pelo Corona e admitiu que procedeu mal. aqui, eu discordo. um tipo que se bate há 30 anos para instaurar uma ditadura decantada, expurgada de toda a maldade, só podia estar em cumprimento de uma missão. é fácil de perceber. engolir uma pastilha para desinibir e melhorar a performance sexual é algo de muito corajoso e revelador de um enorme sentido de serviço público. sim, sendo um homem de família, devoto, anti-LGBT, anti-droga, imaginem o quão terrível terá sido a experiência a que se sujeitou para poder legislar em consciência e com conhecimento de causa sobre coisas que abomina. é essa a verdadeira história da orgia gay. sabendo da estupidez generalizada que grassa fora do seu círculo, demitiu-se por amor à causa. o amigo Victor, aliás, deu logo o caso por encerrado. e não perdeu tempo a dizer que fazer depender fundos europeus de combate à pandemia de direitos humanos, liberdades e garantias, com ele, não dá. veta. a rapaziada da sua família política no Parlamento Europeu, o PPE, que se amanhe. ainda alguém se lembra do esgrouviado senhor Junker, sempre com um grãozinho na asa, a fazer festas no cachaço do Victor e a tratá-lo carinhosamente como o nosso ditadorzinho?


  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 19 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de nov. de 2020



este sujeito, eleito em 2010, tem vindo paulatinamente a transformar a Hungria numa ditadura da extrema-direita. já perdi a conta às revisões constitucionais que fez nesse sentido. na última, proclama-se a cristandade como matriz do estado e abre-se a porta do inferno aos incréus. ali ao lado, a Polónia não lhe fica atrás. se na Hungria manda o Fidesz, o partido de Viktor Orbán, na Polónia pontifica o PiS, o Partido da Lei e da Justiça, fundado pelos gémeos Kaczynski, obcecado com a tradição cristã, a homossexualidade, o aborto e o controle dos meios de comunicação social por norma entregues a membros do governo. estes dois países puderam fazer o caminho para a ditadura contando com a cumplicidade da União Europeia. não há outra maneira de o dizer. o Fidesz e o PiS nem sequer são membros do ID, Identidade e Democracia, o partido europeu onde pontificam, entre outros, os fascistas Le Pen e Salvini. o Fidesz integra o grupo do Partido Popular Europeu, tal como o PSD e CDS, e o PiS faz parte da Aliança dos Reformistas e Conservadores Europeus, mais radical. mas quão ténues são as diferenças entre eles! prova disso, é ter-se chegado ao que se chegou, ou seja, o veto de húngaros e polacos aos fundos para lidar com a pandemia numa altura em que eles são mais necessários do que nunca. porquê? Orbán e os seus aliados não querem a observância das regras do estado de direito como condição de acesso. tão simples quanto isso. a democracia só os atrapalha. algo de que há muito se sabe. mas deixaram-nos andar. os resultados estão à vista. rui rio bem podia pensar duas vezes e fazer rewind até àquele dia em que o CDS quis chamar Orbán à pedra no Parlamento Europeu e ele lavou as mãos. o homem é incorrigível. provam-no os factos recentes. e a tola entrevista que deu à TVI.



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Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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