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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 16 de nov. de 2020
  • 1 min de leitura

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um grupo de selectos cavalheiros convocou um conclave nacionalista para lisboa. pelos vistos o mestre de cerimónias é o nosso bem conhecido mário machado e a guarda de honra é composta por fascistas, skinheads e neonazis de diversos países. a coisa tem contornos de secretismo. o lugar da celebração só será anunciado em cima da hora. os cavalheiros são devotos da raça, patrocinam a violência e não se deixam impressionar por campos de extermínio. pelo contrário, gostariam de repetir as circunstâncias sinistras que os tornaram possíveis. bem sei que o fascismo hoje não se esgota na antiga iconografia das camisas e bastões, na saudação romana e nas coreografias da violência. muito pelo contrário. o neofascismo avança passo a passo, anda engravatado e de braço dado com senhores da finança, cresce legitimado por bonifácios e chega ao poder na observância aparente do ritual democrático. mas, quando chegar a altura, os bonecos mascarados do mal assentam arraiais, acreditem. por isso, não os deixem à vontade. façamos frente.

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 15 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

O progresso moral não pode dar-se desde que as almas só conheçam os preceitos do respeito e da obediência”. Sampaio Bruno


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Interpelado por um jornalista a propósito das suas ligações ao BPN e sobre se elas não seriam prejudiciais à acção governativa, o novo ministro Rui Machete disse ser altura de pôr cobro à podridão dos hábitos políticos. Caramba, pensei eu, não posso estar mais de acordo. Em tese, claro. Porque, no contexto em que a peça subiu à cena, ou seja após a tomada de posse do governo remodelado, no Palácio de Belém, aquilo doeu como um sobressalto gratuito. Pelo menos, a mim doeu. E doeu porque o homem – de quem uma comentadora disse ser um “sage” e outra a “respeitabilidade dos cabelos brancos do PSD” – não estava só a pôr em causa a pertinência de uma pergunta de serviços mínimos que qualquer jornalista seria obrigado a fazer. Não, o homem reagiu como reagiu porque achou estranho uma pergunta daquelas ser feita a um membro da casta dos intocáveis do chamado arco da governabilidade, segundo a terminologia em voga, e, para mais um senador. Por acaso, do seu currículo, divulgado pelo governo, até tinham sumido os anos passados na SLN, a sociedade que tutelava o BPN. Mas isso era apenas um pormenor. No BPN, aliás, também só estão enterrados uns 8 mil milhões saídos do bolso dos contribuintes. Outro pormenor. Daí, evidentemente, a afronta da pergunta só poder ser explicada pela podridão dos hábitos políticos por parte, nomeadamente, de jornalistas que ainda fazem perguntas. Que desconforto, pensei eu. Como se não bastasse, a sucessão de cenas pouco abonatórias – demissões dos ministros Gaspar e Portas, encenação de um “compromisso de salvação nacional”, caso dos swaps, – ainda tinha de culminar com um apelo do primeiro-ministro a uma união nacional. Como? União Nacional? Outro sobressalto. Afinal, isto parece estar a ficar fora de controle, disse eu para com os meus botões. Na verdade, se a legitimidade dos actores políticos for medida por flagrante quebra do contrato com o eleitorado, medidas inconstitucionais, incumprimento de metas, omissão de responsabilidades, dizer uma coisa e fazer o seu contrário, em suma, publicitar como virtudes públicas os vícios privados que vão sendo varridos para debaixo do tapete, então Deus nos livre – expressão grata ao Presidente da República – do consenso proposto. Portanto, dadas as circunstâncias, ficou claro para mim ter chegado a hora, como dizia Sampaio Bruno, da prática salutar do dissenso. Dito de outro modo: pôr um travão à desordem. Até porque há indícios de sobra de um descontentamento transversal a toda a sociedade portuguesa. O insuspeito dr. Rio, por exemplo, acabou de atirar mais um torpedo ao barco à deriva do PSD. Disse ele que o dr. Menezes, seu correlegionário, fez pior a Vila Nova de Gaia do que o engenheiro Sócrates ao país. E não se ficou por aí. Eleger o dr. Menezes, dada a sua propensão para prometer tudo e mais alguma coisa, seria o equivalente a dar cabo de todo o bom trabalho que ele, dr. Rio, diz ter feito para deixar um Porto com boas contas. Como dizia o outro, eles que se entendam. Eu limito-me a anotar. E a dizer que o dissenso, ou seja a discordância, pode ter expressão formal já em Setembro quando os eleitores forem chamados a eleger os seus representantes autárquicos. Basta que digam não aos candidatos do governo, mesmo se despojados do símbolo partidário e momentaneamente convertidos à oposição. Entre eles – e não só – há, aliás, alguns de elegibilidade duvidosa, questão que, para benefício de todos, inclusivamente deles próprios, deve ser, a meu ver, esclarecida de uma vez por todas. Não sei qual será a decisão da candidatura que apoio no que toca à lei da limitação de mandatos, porque é disso que se trata. Também não sei o que tencionam fazer as outras candidaturas, embora me pareça que convivem bem com a ambiguidade. Eu não. Não gosto de consensos de deixar andar. São maus para a democracia. Sei o que pensa o BE nacional sobre esta matéria, e é muito claro. Mas, no Porto, de acordo com o que tem sido a forma processual seguida, a questão será debatida em assembleia. Por isso, quando chegar a altura, irei apresentar uma proposta no sentido de solicitar ao Tribunal Constitucional que se pronuncie sobre a situação do cabeça-de-lista da candidatura Porto Forte. Faço-o por uma questão de princípio. E por uma razão simples. Há um quadro constitucional e legal que é sistemática e, muitas vezes, impunemente violado. Ora, eu quero saber com o que posso contar. Todos temos o direito de saber com o que podemos contar. Apenas isso.


(Texto publicado em 2013 por ocasião da campanha do BE "E se virássemos o Porto ao contrário")

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 13 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão”.

Almeida Garrett

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Fonte: Rádio Portuense

Sou do Porto. Estive fora. Mas agora vivo no Porto. Há 40 anos. Gosto do meu bairro da Pasteleira. Diante do meu prédio, desenhado pelo arquitecto Arménio Losa, há um jardim. Da varanda de minha casa, por entre as árvores, vejo a ponte da Arrábida. Se saio para caminhar junto ao rio, mais adiante, na Ribeira, dou com a ponte Luís I. E, a seguir, com a ponte D. Maria Pia. Quando os meus passos se encaminham em sentido inverso, encontro o mar.


As pontes do Porto têm uma história. São marcos da história da cidade. A ponte de D. Maria Pia da Eiffel Constructions Métalliques (1877) está associada à revolução industrial que chegou tarde, mas chegou. O mesmo sucede com a ponte Luís I (1888), inseparável da memória de uma época de prosperidade mercantil. A ponte da Arrábida (1963), essa maravilha do engenheiro Edgar Cardoso, assinala a expansão urbana e celebra o triunfo do automóvel. A outra ponte também por ele concebida 30 anos mais tarde serve os comboios de alta velocidade. Gosto das pontes e do rio.


Quando caminho pela marginal do Douro, do lado de cá, aquilo que vejo é mais do que aquilo que apenas vejo. É aquilo que respiro. E respira. Porque tanto é parte de um património edificado quanto de um património simbólico cuja ressonância me permite declinar o tema do rio e das pontes em busca de uma memória sem a qual nem o Porto teria o carácter identitário que tem nem eu poderia imaginar a cidade do futuro que quero.


Sim, viver a cidade, habitá-la, é poder imaginá-la a partir de quanto nela há: vestígios romanos, muralhas medievais, igrejas, o barroco do italiano Nasoni, algum neoclássico de influência inglesa, a arquitectura do ferro, os modernistas; o granito; a topografia; os carros eléctricos; os barcos, as tripas, o vinho, o carvão, o cais do bacalhau; o Douro, Faina Fluvial e o Aniki-Bóbó; as festas populares; contos, lendas e narrativas que dão vida às ruas estreitas; o Camilo, a Agustina, o Eugénio, o Mário Cláudio; os artistas, tantos; os teatros, os museus, a Casa da Música, os parques; as avenidas; e, acima de tudo, o povo.


Na verdade, sem o povo e a sua energia vital a cidade não teria o carácter identitário que tem. De pouco valeria o centro histórico ter sido classificado Património Cultural da Humanidade sem pensar em quem o habita e em quem o vive quotidianamente. Sem o povo a experiência do lugar é sempre residual. Como um postal. E será sempre uma experiência desalmada porque é impossível imaginar o Porto sem essa gente cuja irreverência, solidariedade, vernáculo, hospitalidade e sentido comunitário se manifestam de uma forma tão singular. Se a cidade é como é – a partir do rio, nas margens e granito acima – isso deve-se a quem assim a fez em função de uma forma única de viver e conviver. Com trabalho e iniciativa. Com vicissitudes. Com talento e imaginação.


Quero uma cidade inclusiva e solidária. Mas quando faço as minhas caminhadas ao longo do rio e olho, por exemplo, para o bairro do Aleixo, outras coisas me ocorrem como a estigmatização dos pobres a pretexto da marginalidade que justifica a implosão de torres para favorecer interesses imobiliários. Se me calha andar pelo centro e pela zona histórica fico de coração apertado por ver tantos prédios degradados e tanta casa desocupada a preços de mercado impensáveis – quando há tanta gente sem tecto e tantos jovens sem futuro – e isso faz-me pensar no colapso do modelo especulativo da reabilitação urbana que tem vindo a ser seguido. Por onde quer que passe sempre me ocorrem episódios incompatíveis com a minha cidade imaginada: hostilização dos agentes culturais, censura, autoritarismo, uma atitude provinciana de programação do espaço público. Obras de fachada. Em suma, pontes interditas.


Resta algum saldo positivo? Admito que sim. Mas entre o deve e o haver prevalece o sentido da lógica de quem não entende a especificidade cultural das decisões políticas e, como tal, não pode ousar além da contabilidade segundo o desgraçado modelo corrente. Por isso também quero uma cidade insurgente. Que chame a atenção e reclame ser ouvida. Capaz de fazer pontes. Onde o povo participe. Que acompanhe os sinais dos tempos e se junte ao coro de todos esses movimentos que mundo fora clamam por mais democracia e mais justiça social.


Por isso estou na candidatura E se virássemos o Porto ao contrário?


(Texto publicado em 2013 por ocasião da campanha do BE "E se virássemos o Porto ao contrário")

 
 
 
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Criado por Isabel Campos 

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Textos avulsos de teor literário nunca publicados. Recuperados de arquivos há muito esquecidos. Nunca houve intenção de os dar à estampa e, o mais das vezes, são o reflexo de estados de espírito, cumplicidades ou desafios que por diversas vias me foram feitos.

Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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