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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 22 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura


Lída Baavorá (2017) de Filip Renc, Netflix. Este é um daqueles filmes que todo o anticomunista, qualquer que seja o grau de crença instalado na cavidade craniana, vai adorar. Foi uma atriz checa que ficou conhecida para a posteridade como a amante de Goebbels. Fez carreira no seu país, foi convidada para os estúdios da UFA na Alemanha, trepou para contratos milionários à custa da desvairada paixão que o ministro da propaganda nutria por ela - uma paixão retribuída, de acordo com a sua autobiografia -, regressou ao país de origem compelida por Hitler em nome dos bons princípios das famílias nazis, foi contemporânea do carniceiro de Praga, Heydrich - uma das figuras mais sinistras do III Reich -, fez filmes na Espanha de Franco e na itália de Mussolini e, depois, é que foi o diabo... regressada a casa no pós-guerra deu com a Checoslováquia nas mãos dos comunistas. O filme, cuja destreza narrativa é apreciável, tem duas partes. Na primeira, Lída sobe na vida, apaixona-se por Goebbels, recusa Hollywood e atinge o pináculo da fama. Na segunda, é o downfall. No pós-guerra, acusada de colaboracionismo vai parar à prisão e só se salva in extremis quando já estava na fila do pátio da prisão onde os comunistas se entretinham a enforcar mulheres. Na primeira, os nazis são bastante ruins, mas apesar de tudo, humanos. Na segunda, os comunistas conseguem ser ainda piores do que os nazis, na verdade, nem sequer são bem pessoas. O filme omite qualquer referência a Heydrich, a Espanha e à Itália, porque a ideia é mesmo essa: o nazismo foi mau, mas o comunismo, ainda pior. Tal como Leni Riefenstahl, também Lida Baavorá escreveu uma autobiografia. Afinal, ambas foram vítimas. Só isso. De tão comprometidas estavam com a sua arte que nem se apercebiam do mundo em volta. Aliás, nunca souberam nada de política. Uma, Leni, admite ter feito um pacto com o diabo. Outra, Lida, admite ter sido amante do diabo. Acreditem ou não, mesmo tratando-se de uma fraude, o mundo é visto assim por boa parte das pessoas nos países da Europa Central. E, não haja ilusões, por cá também não faltam os seguidores da mentira, reforce ela as suas crenças.

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 21 de nov. de 2020
  • 6 min de leitura


Elvis Presley morreu em 16 de agosto de 1977. Continua a ser o maior ícone da cultura popular americana e um negócio altamente lucrativo. Acabam de sair em embalagem de luxo, por exemplo, as gravações de Elvis em Nashville. Baz Luhrmann, o cineasta australiano de Moulin Rouge, The Great Gatsby e outros blockbusters, ultima o seu Elvis com um dos jovens atores revelado por Tarantino, Austin Butler, no papel principal e Tom Hanks no do coronel Tom Parker, o famigerado agente acusado de ter metido Elvis numa gaiola, nunca mais lhe permitindo voar. Na HBO está disponível The Searcher, um documentário de 2018 com mais de três horas que procura resgatar o legado musical de Presley e refutar a vulgata tablóide criada à volta da sua vida. Da autoria de Thom Zimny, cineasta que trabalha com Bruce Springsteen, The Searcher tem a colaboração de Tom Petty na banda sonora, insiste na influência da música negra, recolhe imagens de arquivo inéditas e conta com a participação de celebridades como o próprio Springsteen. Sendo bem feito, não se afasta da mitologia instalada. O mesmo não sucede com The King, um documentário também de 2018 da autoria de Eugene Jarecki, um dos mais conceituados e controversos cineastas americanos da atualidade. Agora acessível na Netflix, é dele que quero falar.


Não é o tipo de filme do agrado dos chamados die hard fans. Esses vão detestá-lo. Até porque rejeita a narrativa repetida até à exaustão durante décadas, cujo guião é mais ou menos como segue. Elvis, o furacão nascido em Tupelo, Mississippi, é catapultado para a fama a partir do estúdio de Sam Philips, Sun Records, em Memphis, Tennessee. Na ressaca do macarthismo, escandaliza a América conservadora com a versão branca de música negra a que se chamou Rock’n Roll. Em 1958, embarca rumo a Bad Nauheim, na Alemanha, onde presta serviço militar. O rebelde de Memphis regressa dois anos mais tarde enfiado num uniforme militar, faz um concerto patriótico em Pearl Harbour, aparece de smoking no show de Frank Sinatra e vai hibernar para Hollywood onde faz filmes muito bem pagos, na sua maioria imprestáveis. Em 1968, no ocaso dos Beatles, acontece a ressurreição. Um Especial da NBC, trá-lo de volta na companhia da sua primeira banda. De couro negro colado ao corpo, ataca o Rock’n Roll pletórico de energia. O 68 Comeback Special faz a maior audiência da história da televisão. Elvis regressa aos concertos, grava dois álbuns excelentes nos estúdios da Stax e segue para a perdição de Las Vegas, última escala de uma viagem assombrada por fantasmas, sexo e drogas, prescritas ou não, porventura, o culminar da viagem do herói, certamente a tragédia indispensável à consumação do mito.



Tudo isto em The King é virado do avesso, escrutinado, eventualmente posto de pernas para o ar, uma vez que Jarecki nunca perde de vista o contexto. Sendo um crítico radical do establishment o resultado só poderia ser algo de muito diferente do habitual, embora, adianto, nem sempre inteiramente convincente, Discípulo do lendário Melvin Van Peebles, o pioneiro dos filmes de ação afro-americanos popularizados como blaxploitation, Jarecki é autor de filmes como Why We Fight (2005) e The House I Live In (2012), ambos premiados pelo Grand Jury do Festival de Sundance. Em Why We Fight - título tomado de empréstimo dos famosos documentários de propaganda anti-nazi da II Guerra Mundial de Frank Capra - desmonta as intervenções armadas dos Estados Unidos em vários pontos do globo, enquanto expõe quer o complexo militar-industrial quer os meandros do lucrativo negócio de armas a ele associado. Em The House I Live In analisa a mais longa de todas as guerras da América, a guerra contra as drogas, a qual fez da população prisional do país a maior do mundo. Tão pouco neste domínio vislumbrou soluções, até porque, infere-se, apesar da identificação do terrível drama social e humano, não é fácil resolver problemas onde abundam oportunidades de negócios. Ativista de organizações cívicas com presença regular nos mais importantes media nacionais, Jarecki, em suma, faz filmes sobre a América, procurando descodificá-la. É essa a sua motivação. The King não foge à regra.


Há muito Jarecki pensava fazer algo de sério sobre Elvis. Terá começado a trabalhar no projeto ainda antes da eleição de Trump, criando uma equipa de consultores da qual se destaca um dos mais conhecidos especialistas de Jazz e da música popular, Peter Guralnick, autor de duas obras fundamentais, The Last Train to Memphis e Careless Love. Seguindo meticulosamente os passos do ídolo e ouvindo inúmeras pessoas cujos percursos, por qualquer razão, com o dele se cruzaram, Guralnick acaba por fazer um retrato que, transcendendo a figura, mergulha no imaginário da cultura popular. Seria esse o ponto de partida de Jarecki. Com Trump na presidência, o enfoque sobre o que seria a crítica do American Dream, não deixando de o ser, infletiu para a abordagem do mito enquanto expressão e garante de um capitalismo feroz, devorador de corpos e almas, que tem na hegemonia cultural associada ao entertainment uma das ferramentas ideológicas mais eficazes da dominação global. Assim, a vertigem da ascensão, apogeu e queda do Rei é a metáfora da vertigem, apogeu e queda de uma América subitamente mergulhada na insanidade da mentira, dos factos alternativos e da pós-verdade. A América radicalizada de Trump é, na verdade, o pano de fundo do documentário.


O filme começa com o Rolls-Royce de Elvis na estrada. É um esplendoroso modelo de 1963 adquirido e restaurado para o filme. É também um símbolo da realeza. O automóvel viaja pela América, atravessa a mítica Route 66, costa a costa, circula nas grandes cidades como New York, Chicago, L.A. e Memphis. No luxuoso interior transporta os diversos protagonistas que são músicos, atores, brancos e negros, celebridades, amigos e conhecidos de Elvis, ativistas de black lives matters, gente comum, velhos e novos, todos eles com alguma coisa a dizer, ora bem ora mal, constituindo um mosaico complexo e multicolor de olhar e sentir que excede a singularidade do totem em torno do qual se organiza a narrativa para se inscrever no horizonte mais vasto do American Way of Life. Para Van Jones, antigo conselheiro de Barak Obama e atual comentador residente da CNN, Elvis usurpou a música negra e, ao contrário de outros artistas, jamais tomou posição, por exemplo, a propósito da guerra do Vietname, do movimento cívico ou de qualquer outra causa. Chuck D., sarcástico, diz: Elvis doesn´t mean a shit. Alec Baldwin, cujas imitações de Trump lhe valeram ainda maior notoriedade, vê Elvis, ambiguamente, como um colosso americano. Ethan Hawke, embora alinhando pelo mesmo diapasão, aponta à destruição do homem e do artista operada pelas engrenagens do show biz. Segundo Emmylou Harris, Elvis era um ser infeliz e solitário, bem poderia ter saído de uma tragédia grega. Alguém diz a frase chave: Elvis foi para a Alemanha como James Dean, voltou como John Wayne.


James Dean transporta consigo a aura de Rebel Without A Cause de Nicholas Ray. John Wayne é o símbolo do ultra-conservadorismo plasmado em Green Berets, um filme lamentável sobre a Guerra do Vietname. Um e outro são a cara e a coroa do road movie que é The King. E a viagem do Rolls-Royce prossegue na vastidão das estradas da América. Quando supostamente avaria, - tem o mesmo percalço duas vezes - sabemos tratar-se de um plot point necessário à inflexão da narrativa. Quando estaciona nas grandes cidades e se transforma em polo de atração, sabemos que Trump vai aparecer nos ecrãs da televisão de onde quer que o cineasta vá ao encontro das pessoas com quem quer falar. No mítico estúdio B da RCA, em Nashville, onde Elvis gravou a maioria dos seus grandes sucessos, emerge a lógica da esterilização do som, tecnicamente perfeito, mas destinado a polir qualquer vestígio de irreverência. E assim por diante até à fase da auto-destruição em Las Vegas, onde predomina a lógica do negócio de um jogo que encara os seres humanas como mercadoria, e ao terrível episódio do Especial da CBS, em 1977, onde, a troco de dinheiro, o coronel Tom Parker vendeu uma caricatura de Elvis anunciadora da morte, afinal, como pretende Jarecki, a morte de uma certa América. O fim de America, the Beautiful. Ao volante de um Rolls-Royce.




Vejam que vale a pena. Todavia, em minha opinião, sendo um bom documentário, The King não é um documentário exemplar. A ousadia das opções de Jarecki tê-lo-á levado a deixar algumas páginas em branco. Como costuma dizer-se, quando a ambição é grande corre-se o risco de dar passos maiores do que as pernas. Neste caso, talvez nem sempre o filme seja inteiramente convincente. Quanto ao mais, excelente edição, ritmo contagiante, imagens espetaculares, ótima banda sonora. E, já agora, uma pergunta que contém em si mesma um paradoxo: até que ponto esta desconstrução do mito não contribui para lhe conferir renovada vitalidade?


20/11/2020



  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 14 de nov. de 2020
  • 17 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023



A pesquisa institucional sobre o documentário tem vindo a alargar o escopo dos seus interesses, ou retomando caminhos já prosseguidos, mas depois abandonados, ou encetando outros não confinados apenas ao universo do cinema. Este interesse renovado e transversal produz efeitos a vários níveis, seja aprofundando ou encarando sob novas perspectivas os aspectos mais conhecidos e amplamente tratados pelas teorias do cinema, seja investigando modalidades narrativas emergentes do campo dos media, de modo a estabelecer uma rede de relações na qual é ainda possível identificar questões apenas sumariamente agendadas ou precariamente resolvidas. Para tanto, reclama-se a função moderadora da historicidade, a qual permite avançar gradualmente na identificação dos diferentes modos de documentários, no pressuposto de que a lógica das imagens e a ordem do cinema, mesmo se encaradas numa perspectiva integrada de sistemas de significação, jamais poderão estar ausentes. Questionando as corruptelas da televisão e construindo argumentos sobre o mundo histórico o documentário, cuja diversidade permite veicular livremente visões do mundo ancoradas em compromissos de ordem ética, informativa e estética, surge, nesse contexto, como garantia do real imaginado em função do qual ganha corpo a possibilidade de organizar a memória prospectivamente.


Historicidade


Patrício Guzmán, autor de filmes como A Batalha do Chile (1973) e Salvador Allende (2004), disse um dia que o documentário é o álbum de família de um povo. Essa expressão, pela carga simbólica nela investida, justificaria só por si uma descriminação positiva: tomado à letra, o álbum de família promove a identidade de quem somos e, ao fazê-lo, estabelece pontes para uma visão actualizada da História. Numa época em que a lógica mediática reside no efémero, o documentário surge como um poderoso instrumento de preservação da memória ou, se preferirmos, como um lugar de reencontro dos homens com a sua condição e a sua circunstância. Todo o século XX pode, aliás, ser dado a conhecer através do documentário e todo o presente pode ser imaginado, reinterpretado ou simplesmente reconhecido através dele porque nele reside o potencial de utopia que, permitindo a revelação, gera conhecimento. Daí o interesse renovado em torno das suas múltiplas manifestações, sobretudo agora, quando devido a uma crise global cujo epicentro económico-financeiro está iniludivelmente ligado às indústrias da evasão, ganha força, no plano simbólico, a reclamação de um regresso ao real.


O entendimento deste regresso ao real – num contexto em que o discurso televisivo ideologicamente dominante vacila e se mostra, de um modo geral, incapaz de dar resposta aos problemas do nosso tempo – exige a presença da historicidade articulada com a abordagem sumária de uma antinomia central da teoria do documentário que é aquela que releva do campo da arte, por um lado, e da esfera da reportagem, por outro. Seguindo este método, o qual não dispensa algumas derivas tidas por esclarecedoras, o documentário será sempre entendido enquanto argumento sobre o mundo histórico. E, como tal, parafraseando Chris Marker, ficará claro que, hoje mais do que nunca, para ser um lugar habitável, o mundo precisa de ser imaginado.


Para se entender este postulado devemos salientar, em primeiro lugar, que o confronto com a historicidade, ou seja situar o documentário no seu tempo, permite elucidar o movimento pendular em torno da retórica e da poética uma vez que recolhendo subsídios de cada época nos é permitido desenhar um quadro dinâmico a partir do qual melhor possa entender-se a relação com a actualidade, território, aliás, comum à reportagem, o que está longe de ser uma questão menor. Com efeito, os paradigmas do mundo das notícias sempre contribuíram para redefinir o quadro de expectativas dos receptores na sua relação simbólica com o real. Invocando Jean Thévenot, André Bazin, por exemplo, ao referir-se à génese do documentário fala do “filme de grande reportagem” e acrescenta como elemento importante dos critérios de verosimilhança o facto de a partir do final da II Guerra Mundial, com a disseminação dos media, o público exigir acreditar no que vê, uma vez que “a sua confiança é controlada por outros meios de informação: a rádio, o livro e a imprensa (Bazin: 1992)”. Esse processo, evidentemente, acentuou-se com a chegada da televisão.


Em segundo lugar é necessário admitir que do ponto de vista teórico há sempre a possibilidade de abordar a antinomia arte/ reportagem em função de dois enfoques distintos. Falando de arte, falamos de Cinema. Falando de reportagem, falamos de Jornalismo. Porém, quando hoje se fala do documentário, a cada passo nos defrontamos com uma rede de relações que rompe com as tentativas de sistematização exclusivamente centradas num ou noutro enfoque. Vejamos a seguinte deriva. Se, por absurdo, o cinema tivesse acabado antes do advento do som, tudo seria mais simples uma vez que a arte do cinema tinha atingido a plenitude com a conquista de uma linguagem exclusivamente visual e, por extensão, com a afirmação de um pensamento puramente visual. Assim não sucedeu. A partir do advento do som, a palavra, no dizer de René Clair, ameaçou o cinema de se transformar num gramofone com imagens. Cedo algo de semelhante se verificou em newsreels como March of Time influenciando figuras tutelares do documentário como John Grierson que em diferentes ocasiões disse uma coisa e o seu contrário. Tanto falou no tratamento criativo da actualidade quanto afirmou que, desde o início, o movimento documentarista foi essencialmente anti-estético. Disse mais: a ideia de documentário, tal como ele tinha sido levado a pensá-la, não era o produto de nenhuma escola de cinema, mas do pensamento da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Chicago nos anos 20 do século passado. Por aqui logo se entende o valor instrumental da historicidade, pelo que todo o documentarista deveria ter noção quer da História do documentário quer do debate teórico dela indissociável.


Como se sabe, o uso da palavra documentário para qualificar um determinado tipo de filme é atribuído a John Grierson que, em 1926, se referiu a Moana (1926) de Robert Flaherty como tendo valor documental. Havendo indícios de Edward S. Curtis ter aludido ao filme documentário muito antes, por volta de 1915, quando fez The Land of the War Canoes (1914), o qual, aliás, antecipa muitos dos procedimentos posteriores de Flaherty em Nanook of the North (1922), a verdade é que foi a famosa expressão tratamento criativo da actualidade utilizada por Grierson, em 1927, que daí em diante enquadrou os primeiros debates sobre o documentário.


O cinema documental, contudo, é anterior a essa formulação e aparece amiúde associado a intuitos informativos e de propaganda como no caso de Dziga Vertov, o responsável pelos jornais cinematográficos soviéticos após a revolução bolchevique. As suas teses do Cine-Olho deram corpo a narrativas que associam o registo da actualidade a uma experimentação da qual alguns números de Kino-Pravda constituem exemplos. Mas, Kino-Pravda o que é? Cinema? Jornalismo? Na verdade, o Cine-Olho é tanto uma teoria como uma prática e assenta no pressuposto de que o cinema permite ver “outra coisa”, ou seja, é encarado como uma possibilidade de intervenção sobre o real de modo a interromper a naturalidade do fluxo das suas aparências e a revelar-lhe os movimentos de fundo. Kino-Pravda, sendo um jornal, obedecia a esses mesmos propósitos. O Homem da Câmara de Filmar (1929) é o pináculo dessa utopia radical.


E o que é Nanook of the North? Enquanto filme histórico-naturalista oferece ao espectador a ilusão de estar perante os acontecimentos narrados, os quais passam a habitar o seu imaginário como prova de verdade. Construído a partir de proposições lógicas, Nanook induz uma leitura única da história que conta, a qual resulta, naturalmente, de um ponto de vista correspondente à representação individual de um modo de ver. Flaherty, o mais improvável dos repórteres, visto que nele tudo é encenação, ainda assim faz “reportagem”, na medida em que reportar é dar conta de algo ou de alguém, neste caso da vida de Nanook, enquanto símbolo da vida dos esquimós,


Metamorfoses do real – Arte e Reportagem


Em qualquer dos casos coloca-se, naturalmente, o problema da narrativa. Toda a narrativa é construção, e toda a construção é encenação. O documentário, exigindo a organização dos seus signos, é uma construção. Tratar-se-á, ainda assim, de uma construção diferente daquela que serve a reportagem e, sobretudo a ficção, com a qual, aliás, o documentário divide áreas de luz e sombra. Por exemplo, o documentário também dispõe de cenários. Serão cenários naturais dispensando, portanto, a complexidade de elaboração associada ao cinema de estúdio, mas nem por isso deixam de ser cenários e de cumprir uma função enquanto tal. O documentário, em princípio, prescinde de actores profissionais recolhendo da autenticidade das suas personagens uma das suas razões de ser. Mas, tudo se complica quando nos interrogamos sobre o que é o actor e nos deparamos com comportamentos da vida real, os quais, devido à presença de uma câmara, adquirem evidências ou promovem ocultações que de outro modo não se manifestariam. Os exemplos poderiam prosseguir porventura indeterminadamente – um sinal da vitalidade do documentário de cinema.


Seguindo esta linha de argumentação, num discurso habitualmente conotado com expressões como verdade, realidade e objectividade todos os paradoxos são possíveis. Da fase da pesquisa à ética da rodagem, da técnica da entrevista à estética da montagem, qualquer que seja o domínio sob observação, é sempre inevitável deparar com um conjunto complexo de operações a partir do qual se opera a metamorfose do real em realidade.


Sucede algo de semelhante no campo do jornalismo. Se por real entendermos a vida em estado bruto, digamos assim, tal qual se passa à nossa volta, por realidade entenderemos um particular entendimento desse real em função dos códigos interpretativos pertencentes a uma determinada linguagem. É, pois, a linguagem que permite operar essa metamorfose. E é nesse sentido, também, que os acontecimentos deixam de pertencer ao domínio do real para entrarem no domínio da realidade, a partir do momento, portanto, em que se transformam em notícias. As notícias, pertencendo ao universo dos signos e dos valores simbólicos, contribuem para a formação da imagem que a sociedade tem de si mesma. Como tal, essa imagem é uma realidade construída e não, como pretendem os defensores da objectividade pura, nem um espelho do mundo, nem uma janela para o mundo. Diz Gomis que “nem o espelho nem a janela, enquanto metáforas, têm em linha de conta a mediação da linguagem que é fundamental para o entendimento dos meios de comunicação (Gomis: 1991)”. Explicar como funciona o jornalismo será, então, explicar como se forma o presente de uma sociedade.


Esse presente interpretado em nome dos critérios jornalísticos é, todavia, difuso e comporta construções informativas a vários níveis. Num primeiro momento, as notícias cumprem uma função de actualização de conhecimentos de modo a dotar os destinatários de informações úteis ao seu relacionamento imediato com o mundo. Esse conhecimento, porém, só ganha uma ressonância prospectiva a partir do momento em que se amplia e dá lugar à reflexão e à interpretação através do recurso a outros géneros jornalísticos. É o caso, por exemplo, do comentário, o qual, mais do que a notícia permite configurar a dinâmica da actualidade, projectando-a para além do presente imediato. Na verdade, o presente é o que se comenta e as notícias são tanto mais notícias quanto mais perduram, ou seja, quanto mais são comentadas.


Também o documentário interpreta e comenta o real. Quando Paul Rotha afirma que ele deve reflectir sobre os problemas do presente, no fundo, está a dizer isso mesmo. Poder-se-ia, portanto, suscitar a questão de saber até que ponto é legítimo ao documentário recorrer no todo ou em parte à ordem reguladora prescrita pelo jornalismo. Grierson, ao fazer a distinção de duas categorias de filmes vinculados ao real, a superior e a inferior, de algum modo parece rejeitar essa possibilidade. Para ele o documentário é exclusivo da primeira categoria visto que os filmes incluídos na categoria inferior “não dramatizam, limitando-se à mera descrição ou exposição de factos”. Contudo, o mesmo Grierson que aqui se coloca do lado da poética não enjeitou ser consultor em Londres de March of Time e produziu, durante a guerra, no Canadá, World in Action, um jornal de actualidades cinematográficas. Aliás, parte da produção do movimento documentarista britânico foi essencialmente jornalística e tal aconteceu tanto por razões de ordem tecnológica quanto de ordem política e de propaganda.


Será então indiferente que as coisas se passem de uma maneira ou de outra? Muito pelo contrário. Vivendo em permanente confronto com a historicidade o documentário pode ser encarado como uma série de transformações. À semelhança das notícias contribui para a formação da imagem que a sociedade tem de si mesma. Tal como o comentário e a crónica adquire um valor monumental para o futuro mas, na medida em que pode ser utilizado recorrentemente e autoriza leituras das quais não se ausenta, antes se afirma, o prazer do texto, eleva-se a um outro patamar requerente da imaginação criadora indissociável da capacidade de construir argumentos sobre o mundo histórico e, como tal, exigindo a singularidade do ponto de vista. São esses os documentários que permitem ler o mundo justamente porque nos dão a ver um real imaginado. Podemos concordar ou discordar. Mas sabemos ao que vamos porque no contrato celebrado entre autor e destinatário há uma cláusula de segurança segundo a qual a verdade transportada para o ecrã é a verdade do autor. A nossa será outra, ou não. Assim é o documentário de cinema: Être et Avoir de Philibert, Nuit et Brouillard de Resnais, Basic Training de Wiseman, Le Joli Mais de Marker, Vacances du Cinéaste de Van Der Keuken, Cabra Marcado para Morrer de Coutinho, Les Plages de Agnés de Varda, Phillips Radio de Joris Ivens, Porto da Minha Infância de Oliveira, Diary for Timothy de Jennings e tantos, tantos outros, todos eles portadores de um olhar fundador simultaneamente agente de mudança criativa e garante de uma memória sem a qual o homem prescinde do entendimento do presente e mergulha na deriva de um quotidiano sem futuro.


Televisão


O corpo a corpo com o real inscreve-se, no entanto, num campo discursivo mais vasto sobre o qual é igualmente necessário reflectir posto que resulta de múltiplas declinações. Voltemos então à televisão e à controvérsia em seu redor. Há quem, como Mander, discuta a possibilidade de haver vida inteligente na televisão, como há quem, como Popper e Condry, a considere como uma ameaça para a democracia. Há inúmeros textos relevando os aspectos manipulatórios do discurso televisivo, estabelecendo-se, nomeadamente, uma antinomia entre a razão e a emoção, sendo esta última encarada como indutora de fenómenos de hipnose, entorpecimento e fascinação. Muitos desses textos partem até de premissas e querelas aparentemente desligadas da matéria que nos ocupa, mas acabam por condicionar a sua abordagem. Por exemplo, o contraditório eventualmente existente entre a Imprensa e a Televisão. A racionalidade estaria no lugar da palavra escrita e do pensamento lógico a ela associado; a emoção, a sensação e a irracionalidade no lugar das imagens electrónicas.


Terrível anátema, prognóstico sombrio: a sociedade da imagem, alertaram os pessimistas, incorre no risco de promover um novo totalitarismo. McLuhan desvalorizou a questão sublinhando a incompatibilidade do pensamento linear da Galáxia de Gutenberg com a nova ordem sensorial da Galáxia de Marconi: é como olhar o mundo pelo retrovisor, disse ele. Em contrapartida, Umberto Eco, reflectindo sobre a cultura de massas, advertiu que o futuro da democracia passava pela capacidade de transformar a linguagem da imagem num estímulo à reflexão e não num convite à hipnose. Uma controvérsia de contornos semelhantes ocorre muitas vezes quando se opõe cinema e televisão: a razão, a revelação, a arte, do lado do cinema; a confusão, a vulgaridade, o lixo, do lado da televisão. Quem não se lembra do célebre aforismo de Godard: o cinema é a memória, a televisão o esquecimento. Perguntar-se-á: mas que cinema e que televisão? Não iremos por aí, mas vamos por partes.


A televisão teve um impacto indiscutível sobre o documentário a ponto de no Reino Unido estudos académicos terem identificado dezenas de tipos de “documentários de televisão”, cujo denominador comum seria a existência de um qualquer vínculo ao real. A favor desta proliferação surgiram argumentos relevando a bondade de soluções que teriam permitido encontrar um ponto de equilíbrio face à controvérsia da identificação das narrativas, de modo a promover, dentro de parâmetros aceitáveis, a convivência e transversalidade dos diferentes modos de significar. Contra esta leitura optimista e, porventura, não inteiramente desinteressada, poder-se-ia invocar o facto de muitas dessas abordagens pouco ou nada terem em comum com a tradição do filme documentário, nem sequer da tradição do melhor documentário jornalístico de televisão, resultando simplesmente de meras estratégias casuísticas dos operadores competindo por audiências.


Em todo o caso, parece evidente que a televisão, pelo seu imediatismo e alegadamente devido à sua natureza, encontrou no jornalismo a expressão aparentemente mais ajustada ao seu modo peculiar de dar a ver o mundo. Por essa razão, as rotinas produtivas da informação televisiva, em particular da reportagem, afirmaram-se de um modo gradual como elementos legitimadores de um efeito de apropriação do filme documentário, impondo formatos, condicionando o tempo e o modo de dizer e remetendo para a palavra o lugar central de instância reguladora do sentido. Prevalecendo o enunciado do texto sobre a lógica das imagens, abriu-se espaço ao oposto do olhar documentário fundado sobre o primado do sistema de significação da imagem cinematográfica.


Explicitar e compreender este tipo de contaminação exige uma nota adicional e um ou outro comentário. Por via de regra, a reportagem é previsível: texto off, entrevista, repórter em campo assinalando a sua “presença no local”. Em muitos casos, a mediação jornalística é minimal e insere-se numa perspectiva de go between, embora este jornalista mensageiro, tendo capacidade de representação, possa alcançar notoriedade e tornar-se uma espécie de oráculo seja do que for como, ironicamente, demonstrou Alain Woodrow. Concebida para ser exibida num contexto de ruído, tendo de conviver com informações variadas passando ininterruptamente em rodapé, ocupando um espaço saturado de signos, a reportagem tende a tratar os assuntos, por mais sérios que sejam, como fait divers. E fá-lo sem especial preocupação de ordem sígnica ou sintagmática. De acordo com Hartley a necessidade de alcançar o máximo de audiência num medium popular como a televisão obriga o jornalismo a servir dois donos: “info” and “tainment”.


Naturalmente, mesmo na televisão comercial generalista, há gradações no modo como se encara este fenómeno. A fórmula existe mas não quer dizer que seja igualmente aplicada em todas as estações. Tão pouco se pode concluir que os formatos híbridos da televisão sejam necessariamente negativos do ponto de vista do alargamento da esfera pública. E quanto aos canais especializados de notícias, de que a CNN foi pioneira, há até um conjunto de prescrições que a globalização veio legitimar e que basicamente consiste em apresentar as notícias dramaticamente sem, todavia, as transformar em drama, expor os assuntos de forma acessível e compreensível, mas sem exceder a duração de 30 minutos e, tendo embora consciência de que todos os shows de notícias se assemelham, procurar introduzir marcas de diferenciação.


Só que essas diferenças são ténues e dificilmente haverá abertura para sobressaltos criativos eventualmente perturbadores da percepção dos destinatários habituais. A fonte da confusão muito disseminada entre reportagem e documentário passa exactamente por aí, porque se criou um dispositivo estereotipado e rarefeito de representar o mundo através de uma linguagem relativamente arbitrária, ancorada num hibridismo formal oportunista que reclama para si, como elemento de legitimação, a objectividade jornalística. Por isso, para os pragmáticos programadores de televisão os documentários com autoria são quase sempre considerados disfuncionais e, como tal, o melhor é produzir algo de vagamente semelhante sob a responsabilidade de produtores supostamente especialistas no conhecimento e gosto do público ou de jornalistas com notoriedade, também eles, supostamente especialistas em garantir audiências. Ou seja, os documentários devem encarados como programas.


Provavelmente, caso essa tendência dos programadores fosse contrariada, abrir-se-ia o caminho a uma maior e mais interessante variedade de leituras sobre o mundo histórico o que, no caso da televisão de serviço público poderia corresponder a uma nova hipótese legitimadora: a diversificação, permitindo o acesso do público a representações do real à margem dos estereótipos informativos dominantes, seria um passo em frente no domínio do conhecimento dos mecanismos da construção da realidade com benefício para o exercício da cidadania. Tal, porém, com excepção de experiências interessantes na televisão segmentada, dificilmente acontecerá. A televisão não serve para oferecer programas ao público, mas para oferecer público aos anunciantes. Quem o disse foi Berlusconi.


Por estas e outras razões, os documentários de televisão – ao contrário do filme documentário sobre o qual há trabalho teórico relevante – continuam a ser objectos mal identificados, ambíguos e até, eventualmente, suspeitos. É difícil estabelecer-lhes os contornos e problemático atribuir-lhes um estatuto de credibilidade em nome da regularidade de uma produção que faz da audiência o seu referencial estruturador. No estádio actual do seu relacionamento com o real o actual modelo de televisão parece, pois, ter chegado a um ponto limite: o mundo é cada vez mais a televisão e a televisão a espuma dos dias.


Dizia o jornalista e documentarista Danny Schechter sobre os serviços informativos das principais networks americanas: the more you see, the less you know. Outros, como Chomsky, simplesmente compararam os grandes conglomerados de media a gigantescas centrais de propaganda. E para James McEnteer o efeito Fox News sobre as grandes corporações produtoras de notícias de televisão na cobertura da guerra do Iraque acabou por desacreditar o sistema no seu conjunto e abrir as portas para uma entrada em cena com um vigor sem precedentes do documentário político. Depois de fazer referência às somas astronómicas conseguidas na bilheteira pelos filmes de Michael Moore Bowling for Columbine e Fahrenheit 9/11 – este último fez 120 milhões de dólares, só nos Estados Unidos, durante o primeiro mês de exibição –, McEnteer lembra que oito dos dez documentários mais rentáveis de sempre nos Estados Unidos foram realizados a partir do ano 2002, e avança a seguinte explicação:


“Há na América uma grande necessidade de compreender o que, na realidade, está a acontecer. Estes filmes vêm dar resposta a essa necessidade. E essa necessidade é tanto mais sentida quanto maior se tornou a concentração da propriedade dos media noticiosos, com as consequências daí decorrentes em termos corporativos e de trivialização das notícias com o afunilamento do espectro informativo. Em vez de inovação e investigação, há repetição e imitação (McEnteer: 2006)”.


Um argumento sobre o mundo histórico


Na sua vertente mais elaborada, ou seja a da filiação cinematográfica, o documentário assenta no reconhecimento de um conjunto de valores de referência cujas premissas podem ser assim resumidas de acordo com o pensamento de Miriam Bratu Hansen:


“O cinema foi o mais singular e expansivo horizonte discursivo no qual os efeitos da modernidade foram reflectidos, rejeitados ou negados, transformados ou negociados. Foi um dos mais claros sintomas da crise pela qual a modernidade se deu a ver, tansformando-se, ao mesmo tempo, num verdadeiro discurso social, através do qual uma grande variedade de grupos humanos se procurou ajustar ao impacto traumático da modernização (Grilo: 2006)”.


Os mecanismos de significação e de construção da narrativa obedecem, naturalmente, a um movimento pendular que oscila em busca da forma mais justa, sendo por isso objecto de constantes mudanças de rumo ditadas quer pela contingência e pelos imprevistos da Esta formulação remete para o álbum de família de Patrício Guzmán. Obviamente, ao filme documentário também não são estranhas as noções de verdade e objectividade, uma e outra fazendo parte do contrato que se estabelece não apenas com o espectador, mas também no complexo processo de negociação envolvendo o cineasta, as suas personagens e uma multiplicidade de instituições. Neste caso, porém, ao exprimir o seu ponto de vista o autor não prescinde de pôr em cena situações e personagens em função da subjectividade decorrente do seu modo peculiar de ler o mundo, naturalmente, escorado em compromissos que são, também, tanto de natureza ética quanto estética. O documentarista constrói a narrativa que entende dever construir e não narrativas pensadas exclusivamente para responder de forma mais ou menos casuística àquilo que se supõe ser o gosto da audiência. Ao proceder desse modo está, de resto, a mostrar o respeito que ao público é devido. Ele diz: eu penso isto, mas deixa implicitamente uma outra pergunta: e vocês?rodagem, quer no processo de montagem onde ocorre uma espécie de revisitação do olhar a partir da qual a estrutura ganha autonomia a ponto de em boa medida se determinar a si própria, impondo determinadas soluções. Como diria um grande pintor português, Nadir Afonso, num filme que fiz sobre ele, as formas tornam- se exigentes. Nesse sentido, a excelência do discurso será um critério superior de exigência. Os argumentos sobre o mundo histórico estão, portanto, sujeitos à intervenção permanente da imaginação criadora. Não são textos redigidos para depois serem meramente ilustrados como sucede na reportagem televisiva.


Em suma, o enorme potencial do filme documentário (e também do filme de não-ficção, para utilizar uma expressão de Plantinga) como forma de negociar valores, veicular informação e dar-nos a conhecer o mundo histórico faz dele, assumidamente,


“(...) um veículo de verdades e enganos, de registo e manipulação, de equilíbrios e ideias e pré-concebidas, de arte e técnica mecânica, de retórica e informação imediata. Os filmes de não-ficção são representações complexas com uma infinita diversidade e multiplicidade de usos. Tal é a sua complexidade retórica e pragmática que para nos aproximarmos deles não basta uma abordagem meramente teórica: a sua compreensão exige a atitude crítica e o recurso à história (Plantinga: 1997)”.


Concluindo, aceitar a inevitabilidade das contradições é um primeiro passo para pensar o documentário em profundidade, o que implica não fechar a porta a lógicas de enunciação criativas sustentadas por gramáticas particulares e em especial pela ordem do cinema. Por isso, neste pujante regresso ao real no início do século XXI é de elementar prudência mais a abertura à diversidade do que a defesa de pontos de vista sistematicamente reiterados numa atitude de resistência. Será esta a posição mais exigente e, também, a mais difícil, porque se obriga a questionar, por um lado, aquilo que na tradição do cinema cristalizou em dogma – uma história que ficará para outra altura – e, por outro, a combater a contaminação sem regras nem princípios de dispositivos televisivos cujos resultados estão à vista e se rejeitam.


I think it is very important that films make people look at what they've forgotten - Spike Lee

Bibliografia


Bazin, André – O que é o Cinema?, Livros Horizonte, Lisboa, 1992

Campos, Jorge – O Documentário Português à procura do seu tempo, in catálogo Panorama - Mostra do Documentário Português, Videoteca Municipal de Lisboa, Lisboa, 2006

Cloutier, Jean – A Era de EMEREC ou A comunicação audio-script-visual na hora dos self - media, Instituto de Tecnologia Educativa, Lisboa, 1975

Curtin, Michael – Redeeming the Wasteland (Television Documentary and Cold War Politics), Rutgers University Press, New Brunswick, New Jersey, 1995

Eco, Umberto - Apocalípticos e Integrados, Difel, Lisboa, 1991

Gomis, Lorenzo – Teoria del Periodismo, Ediciones Paidos, Barcelona, 1991

Grilo, João Mário, O Homem Imaginado (cinema, acção, pensamento), Livros Horizonte, Lisboa, 2006

Kriwaczek, Paul – Documentary For The Small Screen, Focal Press, Oxford, 1997

Mander, Jerry – Quatro argumentos para acabar com a televisão, Antígona, Lisboa, 1999.

McEnteer, James – Shooting the Truth (The Rise of American Political Documentaries), Praeger, Westport, Conneticut, London, 2006

Penafria, Manuela – O Filme Documentário (História, Identidade, Tecnologia), Edições Cosmos, Lisboa, 1999

Plantinga, Carl R. – Rhetoric and Representation in Nonfiction Film, Cambridge University Press, Cambridge, 1997

Popper, Karl e Condry, John – Televisão: Uma ameaça para a democracia, Gradiva, Lisboa, 1995. Romaguera I Ramio, Joaquim e Thevenet, Homero Alsina – Textos y Manifestos del Cine, Ediciones Catedra, Signo e Imagen, Madrid, 1989

Rosteck, Thomas – See it Now Confronts McCarthysm (Television Documentary and the Politics of Representation), The University of Alabama Press, Tuscalosa and London, 1994

Saunders, Dave – Direct Cinema (Observational Documentary and the Politics of the Sixties), Wallflower Press, London , 2007

Woodrow, Alain – Informação, Manipulação, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1991


Porto, 16 de Outubro de 2009

Jorge Campos

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Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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