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   viagem pelas imagens e palavras do      quotidiano

NDR

  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 25 de out. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023


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A Revolução de Maio (1937) de António Lopes Ribeiro. Vamos lá a ver. Do ponto de vista democrático é obrigatório conhecer os argumentos e o imaginário daqueles a quem nos opomos. Mais ainda caso se trate daquilo que combatemos por dever cidadão, como é o caso do fascismo. De modo que aí está o inevitável filme do regime de Salazar, este, sobre a conversão de um comunista em fervoroso apoiante do Estado Novo. Realizado para comemorar os 10 anos do golpe de Gomes da Costa de 1926, o filme é uma efabulação delirante durante a qual o protagonista, enviado de Moscovo, se vai apercebendo de quanto o país tinha mudado na sua ausência. Esmagado pela evidência, apaixonado por uma jovem devota do ditador, confrontado com a deserção de correligionários que tinham passado a integrar os sindicatos corporativos, o nosso homem acaba por ser tocado pela graça divina: ao invés de continuar a conspirar pela revolução comunista adere à Revolução de Maio. Tudo isto se passa nas barbas da polícia política que o segue de perto mas vê nele a bondade bastante para assumir a conversão. António Lopes Ribeiro pode ser acusado de tudo, menos de falta de conhecimento cinematográfico. Por isso, lá estão as referências, por exemplo, a Fritz Lang, ao expressionismo alemão e à montagem soviética. O que não quer dizer que seja um bom filme. Não é. Mas deve ser visto. Aquela mentalidade está mais arreigada do que possa pensar-se. Embora de maneira diferente. Latente.

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 22 de out. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023


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Os Malditos (1969) de Luchino Visconti. Este é um dos tais filmes inevitáveis quando se trata de fazer uma reflexão sobre o fascismo a partir do cinema. Longe de ser consensual - Pasolini, por exemplo, não lhe poupou críticas - a verdade é que Os Malditos tem a impressão digital de um dos grandes autores do século XX, mestre da mise-en-scène, perfeccionista de uma magnificência operática. A génese do nazismo em meados dos anos 20, a sua escalada rumo ao poder absoluto, à guerra e ao horror, aparece aqui através da história da família aristocrática dos Essenbeck. É também a história do apoio dos grandes industriais e do grande capital a Hitler, com todo o cortejo de taras que se vai revelando à medida em que a decadência se agrava e se torna irreversível. Como pano de fundo, Visconti evoca episódios cuja insanidade viria a constituir-se como matriz da doença do nacional socialismo. Por exemplo, a famigerada noite das facas longas. Quando fez o filme, o autor disse que o fazia para as gerações futuras, para aqueles que não conheceram o nazismo. A aceitação, a passividade, a inconsciência e a incapacidade de lutar são os piores do males, disse também. Nesse sentido, Os Malditos são para ver, rever e pensar.

 
 
 
  • Foto do escritor: Jorge Campos
    Jorge Campos
  • 21 de out. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 22 de out. de 2023


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Verão Violento (1959) de Valerio Zurlini. Este filme extraordinário é a história de um amor impossível. Tudo se passa num momento crítico da história do fascismo italiano em 1943. O filme começa no momento em que o Duce convoca o seu gabinete e verifica assombrado que perdeu a confiança da maioria dos que lhe estavam mais próximos. A desastrosa aliança com os nazis, a guerra na União Soviética onde os italianos perderam 200 mil soldados, mais a questão das leis raciais e ainda o caos reinante levaram o caricato imperador Victor Emanuel a exigir a sua resignação. Aturdido, o ditador pôs-se em fuga e sujeitou-se a ser o chefe fantoche da República de Saló, no norte de Itália, criada pelos alemães. Nada disto é mostrado no filme de Zurlini, mas tudo isto lá está como pano de fundo sinalizado através de notícias da rádio e dos jornais. Um jovem, filho de um proeminente fascista, encontra uma mulher mais velha de uma família burguesa de tendências antifascistas. São duas almas à deriva. O jovem, protegido pelo pai, nem sequer fez o serviço militar e vive num meio onde ninguém parece perceber o mundo à volta. A mulher procura um sentido para a existência. Na cena final, em fuga, após um bombardeamento da aviação aliada, parece que irão encontrar um destino comum. Mas, cada um na sua circunstância, seguirá o seu caminho. Porventura, caminho nenhum. Fabulosas interpretações de Eleanora Rossi Drago e Jean-Louis Trintignant.

 
 
 
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Criado por Isabel Campos 

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Imagens do Real Imaginado (IRI) do Instituto Politécnico do Porto foi o ponto de partida para o primeiro Mestrado em Fotografia e Cinema Documental criado em Portugal. Teve início em 2006. A temática foi O Mundo. Inspirado no exemplo da Odisseia nas Imagens do Porto 2001-Capital Europeia da Cultura estabeleceu numerosas parcerias, designadamente com os departamentos culturais das embaixadas francesa e alemã, festivais e diversas universidades estrangeiras. Fiz o IRI durante 10 anos contando sempre com a colaboração de excelentes colegas. Neste segmento da Programação cabe outro tipo de iniciativas, referências aos meus filmes, conferências e outras participações. Sem preocupações cronológicas. A Odisseia na Imagens, pela sua dimensão, tem uma caixa autónoma.

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